A representante especial adjunta do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), coordenadora humanitária e residente na República Centro-Africana (RCA), denunciou na quarta-feira o drama humanitário “inaceitável” que se vive na cidade de Batangafo.
Em comunicado da missão da ONU no país (MINUSCA, na sigla em Inglês), Najat Rochdi detalhou que na província de Ouham, no noroeste do país, existem 30 mil deslocados que perderam tudo devido à violência e à pilhagem ocorridas no final do mês passado.
Em 31 de Outubro
ocorreram fortes confrontos entre grupos milicianos dos anti-Balakas e dos
ex-Seleka do FPRC/MPC, que culminaram em incidentes isolados entre membros dos
dois grupos.
“O nível de desolação
é inaceitável. A que se deve isto?”, questionou Rochdi, que se deslocou à
localidade em 04 de Novembro, na companhia de membros do Programa Alimentar
Mundial, da Organização Mundial de Saúde, do Alto-Comissariado para os
Refugiados, da Unicef e da agência da ONU para a assistência humanitária
(OCHA).
“Fui testemunha da
situação de urgência criada pelos ataques. O incêndio destruiu mais de 5.100
abrigos, bem como o mercado, e causou a deslocação de cerca de 30 mil pessoas
para o hospital, o orfanato de Bercail, as zonas periféricas e o mato”,
acrescentou, durante a conferência semanal da MINUSCA.
Najat Rochdi adiantou
que a MINUSCA tinha enviado reforços para Batangafo, que são “indispensáveis
para a protecção das populações civis”.
Ao mesmo tempo, ela
questionou-se sobre o acordo local de paz assinado entre os ex-Seleka e os
anti-Balakas, grupos que, apesar disso, se envolveram em violência. “É preciso
pedir contas aos grupos armados. Não se pode dizer, por um lado, que se está
envolvido num processo de diálogo e paz e, por outro, atacar a população”.
Por seu lado, o
porta-voz da MINUSCA, Vladimir Monteiro, indicou que, além de Batangafo, para
onde foram enviados capacetes azuis, a MINUSCA prossegue com as patrulhas em
Bambari, apesar de terem sido atacadas pelos ex-Seleka, da UPC.
Garantiu que os
capacetes azuis não visam nenhum civil nem nenhuma comunidade em particular, ao
contrário das manipulações dos ex-Seleka.
O porta-voz diz que
nenhum Estado membro da ONU fez pressão para a retirada da MINUSCA, que
beneficia do apoio total do Conselho de Segurança.
Portugal participa na
MINUSCA, que é comandada pelo tenente-general senegalês Balla Keita, o qual já
classificou as forças portuguesas como os seus ‘Ronaldos’.
“Ronaldo é o melhor
jogador do mundo e quando as nossas tropas são classificadas de ‘Ronaldos’ isso
tem uma leitura muito clara. Sentimos orgulho pela forma como o seu trabalho é
reconhecido”, disse o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, à agência Lusa.
Portugal também
integra e lidera a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana
(EUMT-RCA), comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.
A EUTM-RCA, que está
empenhada na reconstrução das forças armadas do país, tem 45 militares
portugueses, entre os 170 de 11 nacionalidades que a compõem.
A RCA caiu no caos e
na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por
vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua
franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a
designação anti-Balaka.
O conflito neste país,
com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa
(4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou
2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.
O Governo do
Presidente, Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu
as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.
O resto é dividido por
18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos,
extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro,
entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Notabanca;
09.11.2018
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