O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto da Silva, denunciou hoje que cerca de 20 pessoas foram mortas nos últimos 12 meses, acusadas de prática de feitiçaria nas diferentes regiões do interior do país.
As regiões de Quinará, no sul, Biombo no nordeste e
Bissorã e São Domingos, no norte, são as zonas de onde a Liga tem recebido
denúncias recorrentes de casos de mortes ligadas com acusações de prática de
feitiçaria, disse à Lusa Augusto da Silva.
Por qualquer
alegação, os populares partem logo para agressão verbal e física contra o
suspeito da prática de feitiçaria. Por serem localidades distantes dos centros
urbanos, quando a polícia chega já a vítima está morta ou em estado grave, após
espancamentos, disse o dirigente da Liga Guineense dos Direitos Humanos.
Na semana
passada, a Liga foi informada do espancamento de três pessoas, às mãos de
populares, na aldeia de Maqué, em Bissorã.
Duas dessas
pessoas acabaram por falecer e uma encontra-se em estado grave, correndo risco
de vida, acrescentou o dirigente associativo.
As vítimas
foram acusadas de terem causado uma doença a uma mulher da aldeia.
“A senhora
estava com paludismo agudo, entrou em delírio e começou a chamar nomes de
pessoas” da aldeia, os familiares concluíram que aqueles seriam os autores da
doença e decidiram castigá-los, disse Augusto da Silva.
Levada ao
hospital, após o “castigo aos supostos causadores da sua doença”, a senhora,
tratada, voltou ao estado normal, mas já não sabia explicar o que tinha dito
horas antes, reforçou o presidente da Liga dos Direitos Humanos para demonstrar
“o quão falíveis são as acusações de prática de feitiçaria”.
Em São
Domingos, localidade do norte da Guiné-Bissau, que faz fronteira com o Senegal,
uma senhora “foi forçada” a mudar-se para uma aldeia no território senegalês,
porque os populares da sua aldeia guineense “já não queriam relacionar-se com
ela”, contou Augusto da Silva.
“Toda a
gente na aldeia dizia que a senhora era feiticeira. Até o merceeiro da aldeia
recusou vender-lhe coisas, com medo do feitiço dela”, indicou.
No dia em
que a senhora estava a mudar-se para uma aldeia no Senegal, a polícia de São
Domingos teve que obrigar o dono do transporte público a admitir a mulher no
veículo.
Para o líder
da Liga dos Direitos Humanos, “o ridículo e cúmulo do obscurantismo estão a
ganhar proporções alarmantes” na Guiné-Bissau e é hora de o Estado atuar, antes
que seja tarde, disse.
Augusto da
Silva exortou as autoridades a reforçarem a sensibilização junto das
comunidades rurais, aumentar a presença policial, mas exige uma legislação
específica para desencorajar o fenómeno que disse ser alarmante em certas zonas
do interior.
O presidente
da Liga Guineense dos Direitos Humanos quer “uma lei que puna qualquer menção
de que fulano ou beltrano é feiticeiro”.
Notabanca;
28.03.2019
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