“NOTO QUE JOÃO BERNARDO VIEIRA TEM UMA ENERGIA MUITO MAIOR EM CRITICAR SEU LÍDER DO PARTIDO DO QUE EM DISCUTIR ATROCIDADES ILEGALIDADES E VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS PERPETRADOS CONTRA O POVO E CONTRA A DEMOCRACIA PELO SEU AMIGO SISSOCO EMBALÓ”
𝗖𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗔𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮 𝗮 𝗝𝗼𝗮̃𝗼 𝗕𝗲𝗿𝗻𝗮𝗿𝗱𝗼 VieiraCaro João Bernardo ,
Hoje, após escutar atentamente sua entrevista no canal Facebook do Armando Conte, sinto-me compelido a compartilhar algumas reflexões a respeito de suas palavras.
Normalmente, quem faz parte de uma equipe tende a defender os interesses coletivos da sua equipe, mesmo quando enfrenta adversários que, por vezes, são amigos pessoais. No entanto, em diversas ocasiões, o capitão do seu time foi humilhado e teve seus direitos violados, muitas vezes a mando do seu adversário e amigo, e, ainda assim, o senhor permaneceu em silêncio. O mesmo ocorre quando o povo que o senhor busca conquistar como eleitor é violado em seus direitos, espancado e torturado, também a mando desse amigo e adversário. O senhor, novamente, permaneceu em silêncio. Sabe o que isso transmite para o público? Que o senhor parece proteger mais a relação de amizade do que os valores do seu partido e os direitos que o povo arduamente conquistou.
Eu, que vivo no estrangeiro, que não solicito votos ao povo guineense, que não vivo na Guiné-Bissau e que jamais fui assalariado pelo povo – afinal, nunca fui político, tampouco ministro – me vejo na obrigação de defender os interesses e os direitos do povo guineense e do partido ao qual o senhor pertence, expondo minha pessoa e minha família a riscos maiores do que os que o senhor enfrenta.
Quando o senhor diz que muitos que falam hoje não estavam presentes no início do projeto com Domingos Simões Pereira (DSP), isso não significa absolutamente nada. Não se pode medir a dedicação ou amor de alguém por um projeto pelo momento em que chegou. Existem pessoas que chegam depois e amam uma equipe de futebol mais do que seus fundadores. Eu, por exemplo, não participei da luta pela libertação, mas tenho um amor pela pátria que, em muitos casos, supera o de alguns antigos combatentes que se venderam ao regime, abandonando os ideais da luta.
Ligar a questão do terceiro mandato de DSP ao fato de que ele sempre venceu as eleições de forma clara, mas que seu amigo adversário impediu o partido de governar de maneira ilegal, é outro ponto a ser abordado. Aqui, novamente, o senhor demonstra que focaliza suas críticas nas suas próprias "razões" e não nas ilegalidades cometidas por seu amigo Sissoco. Quem pode garantir que, sem DSP, o PAIGC teria vencido legalmente as eleições e governaria sem impedimentos? O senhor tem essas garantias? Se sim, por que nunca falou sobre elas publicamente? E o senhor realmente acredita que seria normal em uma democracia?
Caro João Bernardo, o senhor argumenta que não devemos criticar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Biagué Na N’Tan, porque ele não faz parte do jogo político. Então, por favor, me diga: quem é o responsável pelos homens fardados que raptam e espancam cidadãos na Guiné-Bissau? Quem foi o responsável pelos homens armados que invadiram o Supremo Tribunal de Justiça? O tribunal militar ordenou a soltura de prisioneiros, mas ninguém acatou a decisão, e os juízes foram sequestrados. Quem é o responsável por tudo isso?
Quando, na história, o senhor viu a implementação de uma ditadura sem o apoio das forças militares? Já presenciou uma ditadura civil? Isso significa que todas as violações da constituição são exclusivamente civis? Sobre a verdade e legalidade que o senhor mencionou em seu projeto durante uma entrevista em Portugal, ao ser questionado sobre a situação atual do país, o senhor driblou a resposta, voltando a culpar DSP por se desviar de um projeto inicial que ninguém conhece. Eu noto uma energia muito maior em falar das supostas falhas do seu líder do que em discutir as atrocidades, ilegalidades e violações de direitos humanos perpetradas contra o povo e contra a democracia pelo seu amigo Sissoco. O problema da Guiné-Bissau se resume ao DSP? Se o senhor dedicasse a mesma energia em defesa do povo e do seu partido como faz ao criticar DSP, certamente mereceria o meu aplauso.
O senhor mencionou que faz parte do Conselho de Jurisdição. Então, por que nunca propôs a expulsão dos traidores do partido? Lamento discordar, mas não é verdade que alguém só trai porque foi traído antes. Isso é uma inverdade grosseira. E não estou aqui defendendo DSP – ele certamente não precisa de mim para isso. Apenas estou analisando suas palavras. Mais uma vez, o senhor parece inclinado a proteger os que traem o partido e os eleitores, sugerindo que foram traídos por DSP. Onde está a maturidade política nisso? Eles estão dispostos a trair eleitores, o partido e o povo, criando instabilidade, simplesmente porque DSP supostamente os traiu? Qual seria essa traição tão grave que justificaria o sofrimento do povo?
O senhor comentou que era chamado de "menino de ouro" quando era secretário de Estado, mas agora não é mais. Isso sugere que DSP só é reconhecido quando há nomeações ou quando suas vontades são atendidas.
Sobre o terceiro mandato de DSP, a votação expressiva que ele recebeu demonstra claramente que os eleitores querem que ele continue como líder do partido. Talvez o senhor não perceba, mas sua postura ambígua torna a situação mais clara. Os chineses dizem: "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Talvez devêssemos refletir se "o amigo do meu inimigo é meu inimigo". E essa ambiguidade se manifestou mais uma vez na sua conversa com Armando Conte. O país está em declínio, com uma deriva ditatorial e autoritária. O povo está sem saúde, sem escolas, sem empregos, sem liberdade de expressão e sem direito de se manifestar. Tudo isso é responsabilidade do seu amigo Sissoco. No entanto, o senhor gastou toda a sua energia criticando o líder do seu partido, desviando-se dos verdadeiros problemas.
Afinal, parece que a verdadeira ambição é estar no topo do partido e do poder, e só depois se preocupar com a defesa da democracia e do povo.
Atenciosamente,
Domingos João Braia”
Notabanca; 25.09.2024
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