DEPUTADOS FORA DO PARLAMENTO “ORDENS SUPERIORES”
Grupo de deputados foi impedido de aceder às instalações do Parlamento, alegadamente devido a "ordens superiores". Nas ruas de Bissau, era visível hoje uma presença reforçada das forças de segurança.
Foi mais um dia de tensão na Guiné-Bissau. O país acordou com uma forte mobilização de elementos armados na capital.
O líder do Parlamento, Domingos Simões Pereira, tinha convocado o povo a ir à sede do Parlamento assistir à reunião da Comissão Permanente. Isto depois de Adja Satú Camará ter sido apresentada, pelo Governo, como a nova líder da Assembleia Nacional Popular (ANP).
A reunião não só não aconteceu, como também os deputados e militantes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC) que responderam ao apelo de Simões Pereira foram impedidos de chegar perto do Parlamento.
Nas ruas, a revolta era visível: "Porquê indicar uma outra pessoa que não foi escolhida pelo povo?", questionou uma das pessoas que se deslocou à ANP. "Peço a todos que continuemos, para mostramos à comunidade internacional e a todos que é a verdade que vai reinar neste país. É o nosso futuro que está em causa", afirmou outra.
"Ordens superiores"
Em nome dos deputados do PAIGC, Octávio Lopes afirmou que foram à Assembleia enquanto legítimos representantes do povo para responder a uma convocação da Comissão Permanente. Mas a "ordem superior" falou mais alto, acrescentou.
"Este ato não é um ato contra o PAIGC ou contra o seu presidente, mas sim contra o povo guineense, que se vê proibido de aceder à sua instalação", disse o parlamentar.
Membros das forças de defesa e segurança vigiaram, durante quase o dia inteiro, as ruas que dão acesso à residência privada do presidente da Assembleia Nacional Popular. Domingos Simões Pereira manifestou a sua frustração perante o clima de tensão em Bissau, que considera um desrespeito ao povo guineense.
Através de um vídeo divulgado nas redes sociais, o líder do Parlamento denunciou que as forças de segurança tinham orientações para recorrer à violência contra a população. Sendo assim, adiaram a manifestação prevista para hoje.
"Lamentamos isso, porque as forças da ordem deveriam estar do lado de quem defende a lei e a justiça", disse Simões Pereira. "Por mais duro que seja, senti a obrigação de não contrariar os partidos, que pediram mais dias para se prepararem melhor. Por isso, peço desculpas ao povo guineense."
Simões Pereira garantiu, ainda assim, que "o protesto acontecerá nos próximos dias".
"Golpes institucionais"
Tanto o Governo de iniciativa presidencial, como as Forças Armadas ainda não reagiram ao sucedido. A DW tentou obter uma reação do secretário de Estado da Ordem Pública, José Carlos Macedo Monteiro, que estava a comandar a operação no terreno, sem sucesso.
Domingos Simões Pereira diz que o país está a funcionar, neste momento, com base em "golpes institucionais" e nenhum cidadão guineense deve admitir esta situação: "Com cada dia, cada hora ou minuto que damos a este regime para implantar os dispositivos que não estão previstos na lei, estamos a permitir que pensem que isto é possível", referiu o presidente da ANP.
"Nos próximos dias teremos condições que convocar a todos para
sairmos às ruas e reivindicarmos os nossos direitos.
Isto não tem a ver com desordem."
Questionado pelos jornalistas sobre que medidas judiciais estão a ser tomadas face ao bloqueio no Parlamento, Bacari Biai, Procurador-Geral da República, limitou-se a dizer que esses são problemas políticos: "Eu não vou falar sobre esta matéria. Os políticos têm onde podem reclamar isto. Se não foram lá, não serei eu a dizer".
Outros partidos com assento parlamentar ainda não reagiram ao sucedido, nem indicaram passos a serem tomados nas próximas horas.
Notabanca, 26.09.2024
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