quarta-feira, 31 de julho de 2024

LIGA E ORDEM DE ADVOGADOS PEDEM LIBERTAÇÃO DOS JUIZES DETIDOS

A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) assinalou nesta terça-feira, 30, que os três juízes-conselheiros do Tribunal Superior Militar (TSM), completam seis dias "de sequestro a mando do chefe de Estado Maior General das Forças Armadas Biaguê Na Ntam, em cumprimento de ordens políticas absolutamente ilegais e arbitrárias".

Eles foram detidos na quarta-feira, 24, um dia depois de terem emitido um acórdão que ordenou a libertação dos cerca de 50 detidos, acusados de envolvimento no suposto golpe de Estado de fevereiro de 2022.

Em nota, a LGDH diz que “estes corajosos juízes-conselheiros em cativeiro cometeram apenas o crime de aplicar a lei conforme o estabelecido na Constituição e nas demais normas em vigor na Guiné-Bissau”.

A organização de defesa dos direitos humanos volta a pedir "a libertação imediata e incondicional dos juízes conselheiros, o cumprimento rigoroso e sem demoras do acórdão do tribunal Militar Superior que ordenou a libertação de todos os detidos e o fim imediata de pressões e instrumentalização da justiça militar para a satisfação das agendas políticas e partidárias".



Também a Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau (OAGB) repudiou e condenou com veemência, na segunda-feira, 29, o que considerou de ato de sequestro, rapto e coação contra os três juizes.

A OAGB indicou ter colocado à disposição desses magistrados um coletivo de advogados.

A confirmar-se a veracidade dos indícios de um eventual sequestro ou rapto e dos seus verdadeiros mentores e responsáveis, a OAGB lembra que tais condutas consubstanciam mais um triste episódio que afunda a justiça e atentado contra o Estado de Direito, traduzidos nos crimes de sequestros ou raptos em relação a cada um dos três cidadãos e magistrados judiciais desaparecidos, sem que se saibam dos seus paradeiros”, lê-se na nota, que lembrando que esses crimes são puníveis com até 12 anos de prisão.

Os juízes Melvin Sampa, Júlio Embana e Rafael Luís Gomes estão incomunicados e não foram vistos nem pelos familiares ou advogados. Nem o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas nem o Governo se pronunciaram sobre o caso.

JUÍZES DETIDOS - ADVOGADOS SEM INFORMAÇÕES SOBRE JUÍZES MILITARES DETIDOS: "A UNICA COISA QUE SABEMOS É QUE CONTINUAM POR LÁ"

Advogados e familiares de três juízes do Tribunal Militar Superior da Guiné-Bissau detidos no dia 24 continuam sem informações sobre a sua situação desde que foram impedidos de sair do quartel-general das Forças Armadas.

“Não temos nenhuma informação, apenas sabemos que estão lá”, no Estado-Maior General das Forças Armadas, disse esta segunda-feira (29.07) à Lusa um familiar do juiz Melvin Sampa.

O familiar, com receio de possíveis represálias, pediu para não ser identificado e também confirmou que não têm autorização para levar comida e outros bens essenciais aos detidos.

Sampa é o relator do acórdão número 01/2024 produzido pelo Tribunal Militar Superior (TMS), no dia 19 deste mês, que ordenou a libertação imediata de todos os detidos acusados pela alegada tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022.

O acórdão, assinado ainda pelos juízes Júlio Embana e Rafael Luís Gomes, ordena a libertação de cerca de 50 pessoas, entre civis e militares, detidos há mais de dois anos, alguns sem culpa formada e outros com acusações deduzidas pelo Ministério Público. Os três juízes também são militares.

Entre os presos, mandados libertar, encontra-se o ex-chefe da Armada guineense, o vice-almirante José Américo Bubo Na Tchuto, considerado pelo Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, como o cabecilha da tentativa de golpe que custou a vida a 12 pessoas, na sua maioria guardas presidenciais.

"A UNICA COISA QUE SABEMOS É QUE CONTINUAM POR LÁ"

Um dos advogados de defesa dos presos disse à Lusa que “não há nenhuma informação credível” sobre as razões de ostrês juízes continuarem detidosno Estado-Maior General das Forças Armadas.

“A única coisa que sabemos é que continuam por lá, se estão a ser bem ou mal tratados isso não podemos dizer, pois nem os familiares sabem da sua situação”, afirmou o advogado, que pediu também para não ser identificado.

A Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau e a Liga Guineense dos Direitos Humanos fizeram saber que acompanham a situação dos três juízes e exigem a sua imediata e incondicional libertação.

O bastonário da Ordem dos Advogados, Januário Correia, afirmou que a sua instituição “não pode compactuar” com qualquer tipo de atitude que “visa colocar em causa a integridade e independência” de magistrados.

 Um outro advogado, da defesa dos detidos do caso 01 de fevereiro de 2022, disse à Lusa que desconhece de que forma a ordem de libertação dos detidos irá acontecer, “se aqueles que deram a ordem da sua soltura” também estão presos, notou.

Notabanca; 31.07.2024

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