terça-feira, 8 de junho de 2021

 ZAMORA INDUTA VÊ COM FRUSTRAÇÃO RUMO DO PAÍS APÓS O GOLPE DE ESTADO

O antigo chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, Zamora Induta, que foi porta-voz da Junta Militar, disse à DW África que, apesar da data do início do conflito político-militar continuar bem presente na sua memória, é com frustração que vê o rumo que o país tomou após o golpe de Estado.

Zamora Induta responsabiliza os sucessivos governos que assumiram a liderança do país pela instabilidade que se vive na Guiné Bissau desde a guerra civil. "Agora vejo a situação com alguma frustração porque os desejos e os motivos que estiveram por detrás desse levantamento militar viram-se depois falhados", diz.

Induta lembra que houve uma "tentativa de responsabilização da Junta Militar pela situação em que se encontra o país", algo de que discorda completamente, "não por ter feito parte, mas porque se esquecem que a Junta apenas criou condições para que ainda hoje possa haver eleições livres e democráticas."

"Como os políticos não conseguiram dar respostas às grandes questões do país, agora toda a areia é atirada para a Junta", explica o capitão-de-mar-e-guerra, nomeado chefe das Forças Armadas em 2009, pelo Presidente interino Raimundo Pereira.

Ainda segundo Zamora Induta, os problemas internos dentro do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), as questões sociais e fundamentalmente um mal-estar que havia nos quartéis estiveram na base da guerra civil, conhecida também por 7 de junho.

"Mesmo dentro dos quartéis também havia problemas, não podemos escamotear a verdade. E foram fundamentais para a revolta dos militares, apesar de o golpe de Estado ser explorado do ponto de vista político. As pessoas podem até não se ver, que as primeiras leis das Forças Armadas, refiro-me ao Estatuto dos Militares e à Lei da Defesa Nacional, todos esses instrumentos não existiam. A pergunta é como é que se pode dirigir um punhado de homens armados sem qualquer tipo de legislação?", questiona o militar formado numa academia militar na Rússia.

Problemas nas tropas continuam

Afastado dos círculos militares desde o golpe de Estado de abril de 2012, Induta refere que ainda algumas más práticas continuam nas Forças Armadas, como, por exemplo, "as promoções que são feitas, em que se marca uma data e todos são promovidos, coisa que não acontece em nenhuma parte de mundo, que não é correto e que gera mal-estar" entre as tropas.

Zamora Induta afirma que não havia outra forma de resolver aqueles problemas não fosse através do recurso a armas. "Logo a seguir ao levantamento, a Junta Militar disponibilizou-se de imediato a negociar, o que na altura foi mal interpretado. Aliás, foi rejeitado liminarmente. As condições que foram postas é que a Junta Militar iria à mesa das negociações mas só se deixasse as armas, coisa que seria de malucos. Ninguém queria depor as armas para ir a negociações, sabendo que iria acontecer a seguir", declarou à DW África o ex-membro da Junta Militar do brigadeiro Ansumane Mané, que derrubou Nino Vieira em 1999 e chefiou o comité militar criado para gerir a crise no país após o duplo assassinato do Presidente e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas em 2009.

Apesar da legislação em vigor nas Forças Armadas da Guiné-Bissau, Induta argumenta que há muitas leis que não estão a ser cumpridas, aludindo ao facto de ter sido afastado das fileiras militares em situação ainda por clarificar. Sobre a Guiné-Bissau de hoje, Zamora Induta não vislumbra nenhum caminho que possa tirar o país da profunda instabilidade governativa.

Notabanca; 07.06.2021

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