ÁFRICA
DEVE DEIXAR DE ESPERAR PELA SALVAÇÃO VINDA DE OUTROS-Diz União Africana
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, defendeu
hoje a "imperiosa necessidade" de África quebrar a dependência do
exterior, adiantando que a pandemia de covid-19 veio recordar de "forma
ensurdecedora" essa urgência.
"A grande questão que esta pandemia da covid-19 nos recorda, com uma
voz ensurdecedora, é a necessidade imperiosa de quebrar esta dependência do
mundo exterior através do duplo imperativo de vivermos dos nossos recursos e de
nos orientarmos rumo à industrialização", disse Moussa Faki Mahamat.
Para o presidente da Comissão da União Africana, num mundo em que o multilateralismo
está a ser “gravemente posto à prova”, África “deve deixar de esperar pela
salvação vinda de outros".
"África não pode continuar a dar-se por satisfeita com este papel de
reserva eterna para uns, de lixeira para outros", acrescentou.
Numa mensagem, a propósito do Dia de África, que hoje se assinala, Moussa
Faki Mahamat elogiou a resposta africana à pandemia de covid-19, onde o número
de mortos atingiu hoje os 3.348 em mais de 111 mil casos de infeção em 54
países.
"África, para grande surpresa daqueles que sempre a consideraram pouco,
mobilizou-se nas primeiras horas da pandemia. Foi desenvolvida e imediatamente
implementada uma estratégia de resposta continental", apontou.
Defendeu, no entanto, que esta mobilização não pode limitar-se à conjuntura
atual, antes deve servir para preparar o continente para o pós-pandemia.
"África é instada a traçar o seu próprio rumo. A sua dependência e
insegurança alimentar são inaceitáveis e intoleráveis, tal como o estado das
suas infraestruturas rodoviárias, portuárias, de saúde e de ensino",
disse.
Para o presidente da comissão da UA, África têm "os recursos
necessários para dar uma resposta suficiente às necessidades das suas
populações".
Por isso, sublinhou, a opção tem de ser "por uma abordagem inovadora,
mais introvertida do que extrovertida".
"Vivamos do que temos, pelo que temos, vivamos para as dimensões do que
temos", acrescentou.
Para Moussa Faki Mahamat, este "movimento de introversão e
confiança" das forças africanas será central para o "renascimento"
do continente.
"A única forma de conter a covid-19 e as suas consequências
desastrosas, de garantir a nossa suficiência alimentar, de criar milhões de
empregos, de salvar as centenas de milhões dos nossos cidadãos hoje gravemente
expostos a pandemias e perigos de todos os tipos, é a de uma verdadeira onda de
solidariedade para uma resiliência africana verdadeira, forte e
duradoura", reforçou.
África assinala hoje os 57 anos da criação da Organização da Unidade
Africana (OUA).
Em maio de 1963, à medida que a luta pela independência do domínio colonial
ganhava força, líderes de Estados africanos independentes e representantes de
movimentos de libertação reuniram-se em Adis Abeba, na Etiópia, para formar uma
frente unida na luta pela independência total do continente.
Da reunião saiu a carta que criaria a primeira instituição continental
pós-independência de África, a Organização de Unidade Africana (OUA),
antecessora da atual União Africana.
A OUA, que preconizava uma África unida, livre e responsável pelo seu
próprio destino, foi estabelecida a 25 de maio de 1963, que seria também
declarado o Dia de África.
Em 2002, a OUA foi substituída pela União Africana, que reafirmou os
objetivos de "uma África integrada, próspera e pacífica, impulsionada
pelos seus cidadãos e representando uma força dinâmica na cena mundial".
Notabanca; 26.05.2020
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