O alto
representante da União Africana para as parcerias com a Europa disse, em
entrevista à Lusa, que a próxima cimeira União Europeia-África pode ser
"um marco" nas relações entre os dois continentes ao "carimbar
um novo acordo.
CARLOS
LOPES: "Há um acordo que pode emergir em 2020", referiu o académico
Carlos Lopes, que foi também secretário-geral adjunto das Nações Unidas na
liderança de Kofi Annan, acrescentando que "a cimeira UE-África, em 2021,
[com a UE já sob a presidência portuguesa] pode ser um marco", nas relações
entre os dois continentes.
"Essa
cimeira pode carimbar um novo acordo entre a Europa e a África", afirmou.
Neste momento, porém, as negociações ainda estão longe do que seria o desejável para o lado africano.
Neste momento, porém, as negociações ainda estão longe do que seria o desejável para o lado africano.
"Está-se a tentar destrinçar aquilo que são as relações entre a Europa e
alguns países africanos, centradas na ajuda ao desenvolvimento - e não temos
nada contra a ajuda ao desenvolvimento - e aquilo que devem ser as relações
continente a continente", comentou.
Isto porque "existe uma insistência por parte de alguns setores da Europa, não são todos, de querer negociar com a União Africana através do acordo ACP (África, Caraíbas e Pacífico)".
Por isso, existe um grupo de negociadores ACP e existe uma relação continente a continente. "São dois veículos paralelos que têm de se relacionar", explicou.
Ora o acordo ACP, defendeu Carlos Lopes, é anterior à existência da União Africana e baseado na ajuda ao desenvolvimento, considerou, ressalvando: "Agora, a União Africana existe. E virem-nos pedir que se negoceie continente a continente, através desse guarda-chuva, não faz sentido", defendeu.
A título de exemplo, referiu:" Não queremos discutir migrações debaixo do guarda-chuva Caraíbas e Pacífico, que não tem nada a ver com os nossos problemas migratórios".
Considerando que nas relações históricas ainda existem fricções e problemas "não resolvidos" entre os dois continentes, o alto representante da União Africana disse que no campo das relações económicas o principal parceiro da África continua a ser a Europa a 28, "não é a China".
E, em termos de stock de investimentos, também é a Europa a número 1, e a China aparece na sexta posição.
Portanto, "temos aqui uma realidade para construir e estabelecer uma base muito mais forte do que aquilo que está na perceção de muitos", afirmou.
"Tanto se diz que a Europa é o primeiro parceiro comercial da África e pouco se diz que a África é o terceiro parceiro comercial da Europa. E porque é que isto é tão importante? Porque a África é um parceiro comercial para a Europa mais importante do que o Japão, que o Canadá, que a Austrália", lembrou.
A África "tem três vezes mais comércio com a Europa do que a Índia e que o conjunto da América Latina todo".
"Então porque é não se dá esse valor à Àfrica?", questionou.
Isto tem uma explicação, entre outras, disse Carlos Lopes. "África aparecia até agora fragmentada, e não negociava acordos como um continente, negociava país a país, portanto eram parcelas de um conjunto que não tinha muito sentido. (...).
Mas, alertou, com a Zona de Livre-Comércio (Zlec) [que está a ser criada], "isto vai mudar".
"Estou convencido que se a Europa se engajar numa relação continente a continente, que já aparece na maior parte dos documentos estratégicos europeus, nós temos futuro aqui, porque temos muitas coias em comum", defendeu o antigo dirigente das Nações Unidas, também professor na Universidade Nelson Mandela, na África do Sul.
"Não só somos grandes parceiros comerciais (...) como também temos, em matéria climática, posições muito semelhantes, e as características do debate climático vão dominar a forma como vai emergir a nova economia, portanto temos interesses comuns em matéria climática", realçou.
Assim, resumiu: "Temos a emoção, temos a economia tradicional que joga a favor e temos também a economia do futuro que joga a favor", considerou.
De acordo com uma resolução da União Africana, estas relações continente a continente devem abranger quatro vetores: comercial, climático, migrações e paz e segurança.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou, no início do mês, que "a presidência da União Europeia (UE) por Portugal, no primeiro semestre de 2021, terá uma cimeira entre Europa e África".
O primeiro-ministro, António Costa, já tinha declarado, no início deste ano, que "a próxima presidência portuguesa da União Europeia, em 2021, terá como tema fundamental o das relações entre a União Europeia e continente africano".
Notabanca;
15.08.2019
Sem comentários:
Enviar um comentário