O número de países seguros para os jornalistas continua a cair no mundo, devido a uma hostilidade contra o exercício da profissão, segundo o relatório anual da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), que aponta que a maior deterioração ocorreu nas Américas do Norte e do Sul, com o prenúncio de um período sombrio no Brasil, noticiou a AFP.
O país perdeu três posições (105 entre 180 países) no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, e se aproxima da zona vermelha, com quatro jornalistas assassinados.
A eleição de Jair Bolsonaro, após uma campanha marcada pelo "discurso de ódio, a desinformação, a violência contra os jornalistas e o desprezo aos direitos humanos, prenuncia um período sombrio para a democracia e a liberdade de imprensa".
"A hostilidade contra os jornalistas e inclusive o ódio do qual fazem eco dirigentes políticos em muitos países, acabou provocando agressões mais graves e frequentes" contra estes profissionais, o que suscita um "clima de medo inédito em alguns lugares", condenou nesta quinta-feira (18) a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A RSF lembra o papel
primordial que o WhatsApp teve na campanha eleitoral brasileira. Pelo
aplicativo circularam, por exemplo, informações falsas destinadas, sobretudo, a
desacreditar o trabalho de jornalistas críticos ao candidato Bolsonaro.
No ranking dos 180
países avaliados, apenas 24% (26% em 2018) estão em situação boa ou
relativamente boa.
A Noruega se mantém
pelo terceiro ano consecutivo na primeira posição, seguida de Finlândia e
Suécia.
Fecham a lista o
Turcomenistão, antecedido da Coreia do Norte. Também na lanterna, a China
perdeu uma posição (177), assim como a Rússia (149), onde o Kremlin
"acentuou a pressão" sobre os meios independentes e a Internet,
"com detenções, revistas arbitrárias e leis liberticidas".
Os Estados Unidos (48)
perderam três posições e entram na zona "problemática". Além das
declarações do presidente Donald Trump contra a mídia, "os jornalistas
americanos nunca tinham sido alvo de tantas ameaças de morte", nem
recorrido de forma tal à segurança privada para sua protecção pessoal, segundo
a RSF.
A ONG, sediada em
Paris, destaca ainda que a perseguição de jornalistas que incomodam as
autoridades "parece agora não ter limites". Cita o assassinato do
jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado de seu país na Turquia, que
"enviou uma mensagem assustadora aos jornalistas para além das fronteiras
da Arábia Saudita ".
A Espanha subiu duas
posições no ranking (29) e a França, uma (32).
O informe aponta que
América do Norte e do Sul registaram a maior deterioração regional.
A melhora sutil
registada em 2018 na América Latina "foi breve", visto que o ambiente
em que trabalham os jornalistas é "cada vez mais hostil". As eleições
em países como México (144), Brasil (105), Venezuela (148) e Colômbia (129)
provocou um "recrudescimento dos ataques contra jornalistas, praticados
sobretudo pela classe política, funcionários públicos e ciber militantes".
Estes incidentes
"contribuíram para reforçar um clima de desconfiança generalizada - às
vezes de ódio - contra a profissão".
A Nicarágua registou
uma das quedas mais significativas do mundo (114, perdendo 24 posições),
segundo a RSF, que denuncia que os jornalistas que cobrem as manifestações
contra o governo do presidente Daniel Ortega, considerados opositores, são
frequentemente agredidos. "Muitos se exilaram para evitar ser acusados de
terrorismo", indica o informe.
Embora a chegada ao
poder do presidente Andrés Manuel López Obrador "tenha acalmado um
pouco" as relações entre o poder e a imprensa, o México continua sendo o
país mais perigoso do continente para os jornalistas, com dez assassinatos em
2018.
A Venezuela perdeu
cinco posições, aproximando-se da zona negra do ranking. O viés autoritário do
governo de Nicolás Maduro provocou um aumento da repressão contra a imprensa
independente, enquanto a RSF registou um número recorde de prisões arbitrárias
e actos de violência praticados por forças de ordem e serviços de Inteligência.
Muitos jornalistas tiveram que se exilar, enquanto jornalistas estrangeiros
foram detidos e, inclusive, expulsos.
Cuba se manteve como o
pior colocado na região (169), apesar de subir três posições, caminho pelo qual
segue a Bolívia (113, perda de três posições). Para a ONG, o presidente
boliviano, Evo Morales, segue o "modelo cubano", controlando a informação
e censurando "as vozes demasiadamente críticas ".
"Alvo
frequente" de ataques armados à imprensa, vítima ainda de pressões e de
tentativas de intimidação de parte da classe política, El Salvador perdeu 15
posições e ficou em 81º lugar.
Notabanca; 22.04.2029
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