MOBILIDADE NA CPLP AINDA NÃO AVANÇOU POR “FALTA DE
VONTADE DOS ESTADOS”-DSP
O ex-secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP) Domingos Simões Pereira considerou este sabádo, 29 de dezembro 2018, que
a mobilidade no espaço lusófono ainda não avançou por “falta de vontade” dos
Estados.
“Não aconteceu porque não há vontade por parte dos Estados”, disse o
guineense à agência Lusa, criticando o facto de que quando “chega a altura de
materializar esse intercâmbio, cada um invoca a sua soberania e
responsabilidades que tem junto de organizações terceiras para pôr em causa
esse intercâmbio”, afirmou.
Portugal e Cabo Verde apresentaram em 2017 uma proposta conjunta de um
regime de mobilidade interna que prevê a criação de um regime de autorizações
de residência válido para todos os países da CPLP, fundado no critério da
nacionalidade, mas que pressupõe o reconhecimento recíproco de habilitações
académicas e qualificações profissionais e a portabilidade dos direitos
sociais.
Segundo o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, a
mobilidade no espaço lusófono “não é fácil de atingir porque a realidade é
bastante complexa”, mas Domingos Simões Pereira defendeu que “a vantagem da
CPLP” é precisamente o facto de os países estarem inseridos em diferentes
organizações regionais.
“Se esperarmos até àquele dia em que haverá um consenso absoluto para se
abrirem as fronteiras e permitir que todos os cidadãos da CPLP possam viajar
livremente ainda vai demorar porque todo irão encontrar razões e pretextos para
continuar a dizer que ainda não há condições de segurança para esse efeito”,
afirmou.
Também o ex-secretário-executivo Murade Murargy considerou que a mobilidade
é “um ponto difícil” e apontou como principal entrave as dificuldades que se
colocam por Portugal pertencer ao espaço Schengen.
“Penso que com boa vontade vai-se conseguir, mas Portugal tem de trabalhar
com os seus parceiros europeus, encontrar uma fórmula ao nível da UE”,
defendeu.
Questionado sobre a possibilidade de se alterar a forma de tomada de
decisão na CPLP, atualmente apenas por consenso, como propôs a
secretária-executiva cessante, Maria do Carmo Silveira, Murade Murargy
concorda.
“Quando entrei, um dos pontos em que manifestei desacordo foi na regra do
consenso. Há decisões que têm de ser tomados e basta um Estado-membro não
concordar e fica tudo parado e isso dificulta o crescimento da organização”, disse.
Já Domingos Simões Pereira, considera que a solução não passa por alterar o
mecanismo de tomada de decisão, “mas por dar competências ao
secretário-executivo, reforçar as suas competências e permitir que possa ter
alguma iniciativa”.
“Defendi que se devia reforçar as competências do secretário executivo, que
é um órgão executivo da CPLP, mas completamente esvaziado de competências e
atribuições e que está muito dependente daquilo que é a vontade dos Estados e a
sua capacidade de promover o tal consenso é muito reduzida”, disse Domingos
Simões Pereira.
Sobre o cumprimento dos critérios de adesão da Guiné Equatorial, que se
tornou membro da organização em 2014, nomeadamente na questão da abolição da
pena de morte, Simões Pereira defendeu que a CPLP tem vários espaços de
concertação através dos quais “pode e deve continuar a pressionar”.
“Os cidadãos da Guiné Equatorial acreditam que através da CPLP podem
conseguir uma maior abertura e uma melhor monitorização do exercício
democrático nesse país”, considerou.
Referindo que a decisão da CPLP em acolher a Guiné Equatorial “foi muito
corajosa”, Simões Pereira defendeu que a sua plena integração “é um desafio”,
mas manifestou-se otimista, lembrando que as autoridades equato-guineenses lhe
manifestaram abertura para a abolição da pena de morte e perceberam que este
assunto “cria desconforto” junto dos restantes membros da organização.
Por seu lado, Murade Murargy, que é atualmente conselheiro do Presidente da
Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, considerou que a moratória à pena de
morte “foi um passo importante”, mas garantiu que a abolição “vai acontecer”.
“A questão da abolição da pena de morte está bem encaminhada, já foram
dados os três ou quatro passos necessários, está neste momento no último
estágio”, disse Murargy, refugiando-se na condição de conselheiro de Obiang
para se escusar a avançar mais pormenores. O ex-secretário-executivo defendeu
que “a Guiné Equatorial tem de ser apoiada e não apenas marginalizada”.
O embaixador da Guiné Equatorial em Portugal defendeu que “na prática, não
há pena de morte” no país devido à introdução de uma moratória desde que aderiu
à organização.
“Em 2014, em Timor, a Guiné Equatorial comprometeu-se com a comunidade
internacional para abolir a pena de morte, adotando a figura jurídica da
moratória que, na prática, é a abolição”, sustentou Tito Mba Ada à margem da
tomada de posse, a 15 de dezembro, do novo secretário executivo da CPLP,
Francisco Ribeiro Telles, que inicia funções na terça-feira.
Notabanca; 29.12.2018
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