NOVO ACORDO DE PESCA PODERÁ RENDER 100 MILHÕES DE
EUROS A GUINÉ-BISSAU
Marinheiros guineenses criticam o
novo acordo de pesca entre o Estado e a União Europeia. Dizem que não foram
considerados pelo Estado. O Governo espera arrecadar 100 milhões de euros nos
próximos cinco anos.
O novo acordo de pesca,
assinado entre a Guiné-Bissau e a União Europeia (UE), que terá a duração
de cinco anos, poderá render aos cofres do Estado guineense cerca de 100
milhões de euros, nos próximos cinco anos. A compensação financeira anual,
calculada proporcionalmente à possibilidade de pesca que o país atribui à UE,
subiu de 9,2 para 15, 6 milhões de euros e alguns países europeus podem pescar
até 18 mil toneladas por ano nas águas territoriais guineenses.
Depois de seis rondas negociais, a União Europeia e o Estado
guineense rubricaram, na passada quinta-feira (15.11.) um novo acordo de
pesca. De acordo com o documento, os barcos da União Europeia passam a
descarregar parte da produção para o abastecimento do mercado interno, a título
gratuito para o Estado guineense, no sentido de ajudar a combater a insegurança
alimentar no país, disse Henrique da Silva, técnico guineense que liderou as
negociações.
"Os valores das licenças foram aumentados, em relação ao anterior acordo,
tanto para crustáceos, como para os cefalópodes (polvos, lulas, chocos).Esses
valores tiveram um aumento de cerca de 15%. O número de marinheiros guineenses
a embarcar nos navios europeus aumentou por mais um, ou seja, barcos que
antes levavam 5 passam a ter agora 6 marinheiros nacionais, e a outra novidade
é a maior capacidade de pesca que nós atribuímos à UE, de 18 mil toneladas, que
fez com que a compensação financeira aumentasse quase duas vezes em relação ao
anterior acordo”, disse Henrique da Silva, destacando as grandes novidades de
novo acordo.
Marinheiros excluídos do acordo
Entretanto, também em
entrevista à DW-África, o presidente da Associação dos Marinheiros da
Guiné-Bissau, João Cá, criticou a postura do Governo, que acusa de assinar
um acordo, sem ouvir as reivindicações dos três sindicatos do setor,
precisamente no que concerne ao aumento do número de nacionais nos barcos
pesqueiros da UE e à melhoraria das condições de trabalho.
João Cá diz que foi rubricado um acordo que não teve em conta o nível de
desemprego entre os marinheiros guineenses qualificados, para além de não ter
respeitado as leis no setor. "O Governo guineense não teve em consideração
a questão do desemprego dos jovens marinheiros, e que estipula que os nacionais
devem ser 75% da tripulação de um navio de pesca, mas infelizmente aceitaram
apenas a presença de 5 ou 6 marinheiros nas embarcações. Isto é péssimo.
Também a questão do salário não foi acautelada como manda uma recomendação da
Organização Internacional do Trabalho, OIT, que diz que todos os
trabalhadores do setor marítimo devem ter um salário de base 614 dólares.
Os navios europeus pagam 400 dólares, não há condições de trabalho e só
empregam os estrangeiros deixando os nacionais de fora. Não pode ser assim. Pedimos
uma audiência com a ministra para exprimir a nossa preocupação, antes
da assinatura do acordo, mas ela não nos recebeu", conta o líder
sindical.
Segundo o acordo, a contrapartida financeira é de 15,6 milhões de euros
anuais, 11,6 milhões serão canalizados para o Orçamento Geral do Estado
guineense e os restantes quatro milhões para apoiar as infraestruturas da
pesca, fiscalização das águas e ainda para a pesquisa. Henrique da Silva afirma
que se acrescentar ainda os valores das licenças de pesca dos armadores o país
terá cerca de 20 milhões de euros anuais e em cinco anos do acordo atingirá 100
milhões de euros.
É impossível fazer comparação com a Mauritânia
Alguns sectores da vida pública do país têm criticado o governo guineense,
de que poderia conseguir mais e melhor para o novo acordo, tal como a
Mauritânia que recebe 55 milhões de euros por ano de compensação financeira,
atribuindo 240 mil toneladas aos países da União Europeia. Nas palavras de
Henrique da Silva é impossível receber a mesma fatia da Mauritânia."A
Mauritânia recebe 55 milhões de euros da compensação financeira anual, porque
não concede 240 mil toneladas aos países europeus, contra 18 mil que a
Guiné-Bissau atribui anualmente à UE. As possibilidades de pesca que a
Mauritânia concede a União Europeia são largamente superiores
às nossas capacidades. Os recursos atribuídos é que fizeram subir
esta compensação financeira, porque as 240 mil toneladas têm mais valor. O
montante que recebe é justificável pela quantidade de toneladas que
disponibiliza para as frotas da União Europeia”, argumenta Henrique da Silva.
Tecnologia avançada na fiscalização
Porto comercial de Bissau.
No que toca a fiscalização marítima, a Guiné-Bissau, graças ao dinheiro
destinado ao apoio institucional dos anteriores acordos de pesca, está a
utilizar VMS, que é um Sistema de Monitorização de Navio por via de Satélite,
um dos sistemas mais avançados em matéria de fiscalização, relata Henrique:
"Todos os navios licenciados para o exercício da atividade de pesca na
zona exclusiva da Guiné-Bissau, devem ter uma baliza que está conectada com
sistema em terra. Esta baliza envia o sinal para o satélite, que por sua vez, o
retransmite imediatamente para o centro de controlo em Bissau. A partir
daí conseguimos controlar todas as atividades dos navios licenciados. Se navio
entrar na zona proibida de pesca, nós aqui em terra, conseguimos detetar isso
rapidamente”.
O país ainda enfrenta dificuldades no sistema de transmissão de dados
eletrónicos, problema que se espera ficar resolvido com a assinatura do
novo acordo de pesca. As autoridades já montaram três postos avançados de
fiscalização, em Pontão e Cacine, no sul do país. Falta agora comprar meios
logísticos para que - em caso de urgência - haja capacidade de chegar
rapidamente à Zona Económica Exclusiva, ao invés de ter que sair de Bissau.
O acordo permite que navios de Espanha, Portugal, Itália, Grécia e França
pesquem nas águas guineenses e inclui a pesca de atum, cefalópodes, camarão e
espécies demersais (linguados e garoupas). Em troca, a União Europeia paga à
Guiné-Bissau 15,6 milhões de euros.
Notabanca; 21.11.2018
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