segunda-feira, 10 de setembro de 2018

EFEITO DO RUÍDO NA CONVIVÊNCIA SOCIAL PESQUISADO PELO DIRETOR DA CESJ 
Preocupado com o efeito do ruido nas escolas, o diretor da Cooperativa Esciolar São José coloca em mãos dos docentes da mesma instituição, a materia em causa para minimizar o barulho nas escolas bem como nas outras localidades.
O tema foi investigado e trazido a tona por Raúl Daniel da Silva.
Confira o documento:
  
EDUCAR PARA A CONTENÇÃO DO RUÍDO NAS NOSSAS ESCOLAS

   

Será possível conter o ruído nas escolas?

Analise das pistas para diminuir o problema  do ruido, lançando o conjunto de desafios aos professores, alunos, pais e encarregados de Educação.  

1 - O ruído como uma questão de saúde pública…

2 - Conceitos e terminologia…

O som, e as suas propriedades, é um tema da Física que tem domínios de aplicação muito diversificados como se pode deduzir pelos trabalhos de investigação publicados e disponíveis nos repositórios públicos de trabalhos académicos.

Entende-se como ruído o som não articulado ao qual se sobrepõe (com maior ou menor esforço) o som da comunicação. O ruído ambiental é associado aos sons pouco agradáveis e inclusive prejudiciais, que modificam as condições consideradas normais ou toleráveis num determinado contexto, que quando excessivo é normalmente designado por “poluição sonora”.

Os efeitos do ruído na saúde:

A partir de 1989, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a tratar o ruído como um problema de saúde pública, recomendando que o limiar seguro de exposição ao ruído é de 55 dB. De acordo com a Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho, os níveis efetivos de ruído nas escolas ultrapassam frequentemente estes limites e podem atingir os 60 dB a 80 dB.

O ruído pode prejudicar a audição, interferir na comunicação, perturbar o trabalho e o sono, bem como provocar perturbações a nível fisiológico e a nível psicológico. Estes efeitos são agravados quando a exposição ao ruído ocorre por longo período de tempo como acontece com alunos, professores e funcionários.

 Os sintomas mais comuns nos adultos, de uma exposição prolongada ao ruído são as dores de cabeça, a ansiedade e “stress”, as perturbações metabólicas e as dificuldades em dormir.

*NOTA  BEM : Para além dos efeitos registados nos adultos, entre as crianças e adolescentes salientam-se a falta de concentração, a baixa produtividade, a interferência na comunicação e as dificuldades na aprendizagem. Alguns autores reportam ainda problemas de hiperatividade, irritação e agressividade (por excesso) como consequências da exposição ao ruído.



O ruído nas nossas escolas



Temos escolas tão barulhentas como as outras

Mesmo nos contextos mais regulados (salas de aula, bibliotecas escolares, etc.), tem vindo a constatar-se que o problema do ruído em contexto escolar tem vindo a agravar-se, com consequências muito negativas para a saúde dos alunos, professores e funcionários, e com impactos muito negativos na qualidade das aprendizagens, na relação pedagógica, e mesmo na relação entre pares (níveis de ruído elevados potenciam a irritação e  a agressividade).

Alguns estudos realizados em escolas portuguesas demonstram níveis de ruído muito acima dos valores recomendados pela OMS e transcritos para a Legislação Portuguesa (Decreto-lei n.º 9/2007). Estes dados estão em linha com as conclusões de estudos de grande dimensão, realizados a nível internacional. Um dos estudos mais recentes, noticiado pelo jornal Público, envolveu escolas da área metropolitana de Londres e acentuou a preocupação acerca das consequências da exposição ao ruído, que tem vindo a acentuar-se e a ser alvo de recomendações dos organismos internacionais.

Em termos de saúde os professores são os que mais sofrem com as situações de ruído excessivo nas escolas: para além de, tal como alunos e funcionários, estarem sujeitos a níveis de ruído pouco recomendados para a saúde (cuja tolerância diminui com a idade), têm de se fazer ouvir acima do ruído ambiental sendo obrigados, demasiadas vezes, a falar mais alto com consequências nocivas para o aparelho fonador (cordas vocais, boca e garganta) de que resultam doenças profissionais cada vez mais comuns.

O ruído e a aprendizagem:

A comunicação oral é o requisito de comunicação por excelência na maioria das aulas mas com particular relevância nas línguas. A existência de um ruído ambiental excessivo interfere com a forma como a mensagem é recebida pelo aluno.

A figura representa um aspeto relativo à propagação do som em função da distância. O professor, para se fazer ouvir, coloca a sua voz acima do ruído de fundo da sala. A qualidade da mensagem que chega aos alunos depende de características individuais (acuidade auditiva) mas também da sua distância ao professor. A generalidade dos professores compensa intuitivamente este aspeto problema mudando com frequência a sua posição na sala da aula.

 Podemos imaginar a corrupção da mensagem pelo ruído ambiente como frases e parágrafos de texto que foram retiradas palavras ou alteradas na sua grafia. De acordo com alguns estudos, a fragmentação da informação é particularmente grave para os alunos mais jovens (que têm mais dificuldade em inferir a informação em falta) e no âmbito da aprendizagem das línguas.



O efeito do ruído na aprendizagem é estudado desde finais do século passado com demonstrações do que todos podemos deduzir pelo senso comum: aulas barulhentas são menos eficazes por vários motivos nomeadamente as dificuldades de comunicação da mensagem do professor, os problemas de interação entre alunos, o esforço e tempo adicionais necessários à regulação de comportamentos, entre outros. Esta situação afeta de forma diferenciada os alunos mas tem efeitos gerais muito significativos no coletivo.

Os desafios baseados na medição do som:

Os desafios envolvendo a medição do som 55 dB OMS 65 dB escola, (intensidade sonora) foram particularmente difíceis de conceber pois revelaram-se com frequência muito dependentes do ruído ambiental. Compensamos essa dificuldade com desafios de natureza mais exploratória, realizados com toda a turma. Um dos mais comuns é desafiar os alunos, que tem projetado o valor da medida, a conseguir o valor mais baixo possível de ruído (abaixo de um limiar previamente estabelecido) introduzindo de seguida pequenos sons do quotidiano das salas de aula (brincar com o material, cochichar com o parceiro, arrastar a cadeira, etc.) e verificando como, cada pequeno ruído, afeta a medida do sensor de som.

Nos desafios competitivos (as palmas mais sonoras) os alunos, mesmo os alunos mais novos (1.º e 2.º ano), sabem que devem fazer silêncio para não beneficiar os competidores. Em muitos momentos são eles a propor a medição de diversos sons (assobios, gritos, etc.). Para além do entusiasmo podemos constatar uma atitude que nos surpreendeu a nós, e aos seus professores: a surpreendente capacidade dos alunos regularem com eficácia os seus comportamentos individuais e coletivos para a contenção do ruído.



NOTA BEM : Temos a consciência do muito que há por fazer em termos de melhoria da acústica dos espaços escolares e de intervenções de diminuição do ruído ambiental, nos edifícios das escolas. Há intervenções muito simples e baratas (painéis de materiais que absorvem o som) mas outras requerem intervenções especializadas dos Professores ou da administração educativa.

Passo 1:

Visão positiva da contenção do ruído:

O ruído é, demasiadas vezes, encarado como uma questão disciplinar. “Fazer barulho” em espaços em que tal é proibido (aulas, biblioteca) é talvez o problema disciplinar mais comum. A abordagem disciplinar para além de uma eficácia limitada, tem ainda a desvantagem de ser muito difícil de implementar em espaços com menor regulação (recreios, refeitórios, corredores).

Quando abordagem regulamentar não é suficiente o que as Sociedades fazem é recorrer à Escola para promover a mudança de atitudes dos alunos perante situações de risco (segurança rodoviárias, educação para a saúde, etc.). A Escola demonstrou uma extraordinária eficácia nesse processo:

Há comportamentos de quando eramos crianças que hoje são inadmissíveis. Por maioria de razão se justifica colocar a questão da contenção do ruído, não como um problema disciplinar, mas como uma finalidade para o bem comum, que pode e deve ser integrada nos programas de educação para a saúde;



Passo 2:

Sensibilização para a importância da contenção do ruído;

Ao contrário da disciplina, que pode ser simplesmente imposta, não se Educa na ignorância Parece-nos por isso fundamental que os alunos sejam informados e sensibilizados para o problema e sobre as finalidades das iniciativas.

 É particularmente relevante que os alunos compreendam como os seus comportamentos individuais alteram a qualidade do ambiente partilhado por todos. Com a adequação a diferentes idades dos alunos propomos que desenvolvam atividades que os levem a compreender os princípios essenciais da origem do ruído e da sua propagação.

Passo 3:

 Celebramos o Dia Internacional de Sensibilização para o Ruído;

As escolas celebram ao longo do ano letivo diversas datas relevantes para a Solidariedade, Saúde, Segurança, entre outros. Estas datas surgem como pretexto para atividades de sensibilização para riscos, promoção de atitudes e os Valores da Cidadania.

NOTA BEM :A celebração do Dia Internacional de Sensibilização para o Ruído que ocorre a 27 de Abril, embora comum em muitas escolas de vários países europeus ainda  não é muito comum nas nossas escolas. A ideia é promovermos nesse dia, em contextos escolares diversos (sala de aula, recreios, bibliotecas), atividades de sensibilização dos alunos para a contenção do ruído nos espaços escolares.

Notabanca; 10.09.2018

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