MAUS-TRATOS A MIGRANTES DEPORTADOS DOS ESTADOS UNIDOS: "FORÇADOS A COMER DE JOELHOS COMO CÃES"
Migrantes detidos numa prisão do Serviço de Imigração
e Controlo de Alfândegas dos EUA (ICE), em Miami, foram algemados com as mãos
presas atrás das costas e obrigados a ajoelhar-se para comer de pratos de
esferovite “como cães”, denuncia um novo relatório.
O recente relatório divulgado pelo The Guardian denunciou as condições desumanas em três centros de detenção superlotados no sul da Florida, em Miami.
O caso descrito é apenas um dos muitos episódios de
alegado abuso documentado desde janeiro por organizações como a Human Rights
Watch, Americans for Immigrant Justice e Sanctuary of the South, com base em
entrevistas a pessoas detidas.
Segundo o relatório, dezenas de homens foram mantidos
durante horas numa cela sem comida até por volta das 19h, permanecendo
algemados mesmo depois de lhes ter sido servido o jantar, colocado em cadeiras
à sua frente.
“Fomos obrigados a comer como animais”, lê-se num dos
testemunhos.
O tratamento degradante por parte dos guardas é
descrito como comum nas três instalações investigadas. No centro de
processamento Krome North, em Miami, mulheres detidas foram forçadas a utilizar
casas de banho à vista dos homens e privadas de cuidados adequados, higiene,
chuveiros e alimentação básica.
É relevante lembrar que estas pessoas foram detidas
por estarem imigradas ilegalmente nos Estados Unidos, algumas ainda à espera da
concretização do processo de nacionalidade.
Face às centenas de operações e detenções levadas a
cabo, as prisões atingiram uma superlotação que levou a que alguns detidos
fossem mantidos durante mais de 24 horas num autocarro no parque de
estacionamento. Homens e mulheres permaneceram juntos no veículo, só sendo
desalgemados para utilizar uma única sanita, rapidamente entupida. “O autocarro
ficou insuportável. Cheirava intensamente a fezes”, relatou um dos migrantes.
Quando finalmente foram admitidos no centro, muitos
passaram até 12 dias numa sala gelada, sem camas nem roupa adequada, dormindo
no chão de cimento. A sala foi apelidada pelos próprios de "la
hielera" (“a arca congeladora”).
No centro de transição de Broward, em Pompano Beach,
onde uma mulher haitiana de 44 anos morreu em abril, 0s detidos denunciaram a
falta sistemática de cuidados médicos e apoio psicológico. Muitos relataram
negligência e atitudes hostis por parte da equipa.
Num incidente particularmente grave, em abril, guardas
do centro de Miami terão desligado as câmaras de vigilância e enviado uma
equipa de “controlo de distúrbios” para reprimir brutalmente um protesto, após
ignorarem um detido que tossia sangue.
As três instalações enfrentam um grave problema de
superlotação, fator que levou o estado da Florida a avançar com a construção de
uma nova prisão para migrantes nos Everglades, apelidada de forma polémica de
“Alcatraz dos Jacarés”, com capacidade prevista para 5.000 pessoas.
Segundo o relatório, o número médio diário de
migrantes detidos nos EUA atingiu os 56.400 em meados de junho, sendo que quase
72% dessas pessoas não têm antecedentes criminais. Em 2024, o número médio foi
de 37.500.
As organizações afirmam que os abusos relatados
refletem o agravamento das condições nas prisões federais de imigração,
exacerbado desde a posse de Donald Trump em janeiro e pelo aumento agressivo
das detenções e deportações.
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“As políticas anti-imigrantes desta administração
estão a aterrorizar comunidades e a destruir famílias, especialmente na
Florida, que depende tanto da sua população imigrante”, afirmou Katie
Blankenship, advogada de imigração e cofundadora do Sanctuary of the South.
“O ritmo caótico, cruel e desumano das detenções está
a ser literalmente mortal e a causar uma crise de direitos humanos que
assombrará este estado, e o país, durante anos", terminou.
Notabanca; 21.07.2025

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