ESTADO RENASCE COM REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA COMO MAURITÂNIA E CONGO CONTRA ASSASSINATOS E OSTENTAÇÃO DA RIQUEZA ILÍCITA NA GUINÉ-BISSAU-Diz Notabanca
Quando a justiça é corajosa, os homens e as mulheres
enveredam-se pelas leis, o Estado renasce e progride rumo ao desenvolvimento
almejado.
O que aconteceu recentemente na Mauritânia com o
ex-Presidente e Augustin Matata Ponyo Mapon,
ex-primeiro-ministro da República Democrática do Congo (RDC
é o desejo de alguns guineenses: “pode-e deve-um dia acontecer também na
Guiné-Bissau e, mais em alguns países da sub-região”. Nesses países vizinhos, a
justiça deu um passo gigantesco e histórico com marca indelével ao condenar um
ex-presidente por corrupção e abuso de poder.
Mohamed Ould Abdel Aziz, que governou a Mauritânia de
2008 a 2019, foi sentenciado no dia 14 de maio a 15 anos de prisão por ter
usado o cargo para enriquecimento ilícito. Além da pena de prisão, ele teve
seus bens confiscados e também destituídos dos seus direitos civis. Enquanto o ex-primeiro-ministro da República Democrática do Congo (RDC),
foi condenado na terça-feira (20.05) a dez anos de prisão, com trabalhos
forçados, por desvios de fundos públicos na instalação de parque agroindustrial
do país.
A condenação não se deu por mero acaso, nem por
revanche política. Ela resultou de um processo judicial severo e independente.
Para além do ex-presidente, também na Mauritânia foram julgados antigos
primeiros-ministros, ministros e empresários por crimes de “enriquecimento
ilícito, tráfico de influência" e lavagem de dinheiro”.
Infelizmente, na Guiné-Bissau a realidade é inversa
devido o silêncio cúmplice do poder. Aqui, os sinais da corrupção endémica são
patentes e quase institucionalizados e individualizados. Se não vejamos o país
real:
É notório, “Desvios dos recursos do Estado, obras
públicas com orçamentos duplicados, ou triplicados, financiamentos de origem
obscura que indicam possíveis esquemas de branqueamento de capitais oriundos do
narcotráfico, pagamentos abusivos sob pretexto de prevenções, alimentações e despesas
inventadas, e até processos eleitorais provocados artificialmente para
justificar os gastos públicos fraudulentos”.
Como se não bastasse, muitos ministros e altos
responsáveis da Guiné-Bissau, ostentam riquezas ilícitas mesmo no passado e como
no presente durante mandatos anticonstitucionais, acumulando patrimónios de
forma inexplicável e inaceitável. Alguns até possuem duas a três residências
construídas em poucos anos, e outros já somam entre três a quatro moradias de
luxo no estrangeiro—tudo isso com um salário que não ultrapassa 1 milhão e
trezentos mil francos cfa, mensal.
A situação é escandalosa e abusiva. Ela é tratada com
normalidade na Guiné-Bissau. O silêncio absurdo e institucional transforma-se num
aval tácito à impunidade. Porque a própria justiça permanece refém do poder
político, em consequência, o Estado é pilhado sem resultados reais e nem
práticos para os autores dos saques.
No passado recente, foi a Gâmbia quem deu o exemplo,
com o apoio popular e judicial à recuperação de bens usurpados pelo regime do
Presidente, Yahya Jammeh. Hoje é a Mauritânia que se ergue em defesa da lei e
da justiça. Parabéns mauritanos!
Por cá, os guineenses questionam-que-será a vez da
Guiné-Bissau?... Que Deus abençoe este povo martirizado.
Mas é essencial realçar que, ao defendermos o combate
firme à corrupção, não significa estamos a defender ajustes de contas nem
perseguições políticas. O que está em causa, é o restabelecimento do primado da
lei e da dignidade do Estado. Porque nenhuma democracia se consolida com base
na impunidade e sem uma imprensa livre e verdadeira. Nenhum país avança sem
justiça. E, nenhuma justiça é verdadeira, se não for igual para todos,
incluindo os que ocupam os cargos mais altos da nação. Mas aqui em Bissau, os
corruptos e sanguinários são protegidos pelos homens armados até aos dentes.
De sublinhar que, é tempo de pôr fim ao ciclo da
impunidade e dos assassinatos misteriosos. A Guiné-Bissau precisa urgentemente
de um pacto republicano em que a lei atua mais do que o poder. O exemplo da
Mauritânia, Gâmbia e Congo não são apenas simples notícias. São uns apelos à
nossa própria consciência nacional para restituir os guineenses a justiça, o carácter
e a dignidade.
Por: Lai Baldé-jornalista Editor Chefe de Notabanca
Notabanca; 22.05.2025

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