FRENTE POPULAR CONSIDERA "IRRESPONSÁVEIS" AS DECLARAÇÕES DE BIAGUÊ NA N'TAN POR TER AGIDO "POR ENCOMENDA"
A organização cívica Frente Popular (FP) reagiu segunda-feira (28.04), as
recentes declarações do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas,
Biaguê Na N'tan, que deu ordens para abater qualquer pessoa que for apanhada a
tentar o golpe de Estado.
A FP diz que as aludidas declarações são "irresponsáveis" e visam
meter medo nos cidadãos e que as mesmas são contra o povo guineense, o
"legítimo detentor do poder".
Além de considerar irresponsáveis e intimidatórias as declarações, a organização cívica diz que se trata de um "pronunciamento político".
Em comunicado entregue à CFM espreitado por Notabanca, a Frente Popular
acusa o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas de agir "por
encomenda", para desencorajar as ações cívicas e políticas contra o atual
regime da Guiné-Bissau.
Eis o comunicado na íntegra.
O nosso país voltou a assistirmais uma declaração irresponsável do General
Biague Na N'tan, com o objetivo de intimidar o povo guineense, mergulhado numa
ditadura cruel que já vitimou centenas de guineenses dentro e fora do
território nacional.
A recente aparição do General Biague Na N'tan, para além de revelar à
opinião pública nacional e internacional, a sua verdadeira face político
partidário até aqui dissimulada, confirma igualmente, a sua agenda de
patrocínio da ditatura encabeçada pelo Ex-Presidente da República Umaro Sissoco
Embaló.
Em várias declarações públicas, nos últimos 5 anos, Biague Na N'tan colocou
o seu cargo e o seu uniforme militar ao serviço de um regime ditatorial,
manipulador e violento, cujo objetivo principal é a destruição da democracia, o
desmantelamento das instituições republicanas, o desrespeito às leis e a
supressão da vontade popular.
Ao invés de cumprir a sua missão de subordinação à Constituição e
principios estruturantes do Estado de direito, o General Biague Na N'tan
escolheu alinhar-se e ser cúmplice de diferentes iniciativas
anticonstitucionais e golpes instituicionais, através de diversos atos e
omissões inaceitáveis, nomeadamente:
a) A invasão armada ao Supremo Tribunal de Justiça em novembro 2023, em
plena luz do dia;
b) O assalto armado à Assembleia Nacional Popular e consequente
substituição forçada do governo constitucional e legal por um executivo do
capricho do chefe único;
c) O assalto criminoso aos gabinetes do Presidente da ANP e demais
responsáveis deste orgão de soberania e consequente empossamento de uma
pseudo-Presidente usurpadora;
d) Detenções abusivas e arbitrárias dos Juízes Conselheiros do Tribunal
Superior Militar e consequente incumprimento do seu Acórdão que ordenou a
libertação imediata de todos os detidos do caso 01 de fevereiro de 2022;
e) Colocação de Militares em prontidão total em Novembro de 2024, contra o
povo guineense que pretendia unicamente exercer o seu direito à manifestação
constitucionalmente assegurado à todos os cidadãos;
f) Declarações sucessivas de ameaças de eliminação física dos militares
apanhados em situações de tentativas de golpe de Estado, como se o ordenamento
jurídico do país contempla pena de morte;
g) Realização de propaganda política a favor do Ex-Presidente da República
Umaro Sissoco Embaló, através de vergonhosos atos de distribuição de acuçar aos
fieis muçulmanos em março do corrente ano, no interior do país;
h) Interferências sistemáticas nos assuntos de natureza politica e
partidária, através de contactos e chantagens de alguns líderes politicos;
A cumplicidade do General Biague Na N'tan com a saga de autoritarismo
vigente, a banalização do juramento de defesa da Constituição da República e do
povo, constituem imperdoáveis atos de traição à patria, protagonizados por quem
um dia lutou contra o domínio colonial e autoproclamou-se militar republicano,
cujos comportamentos desonram a instituição militar e ferem de morte todos os
principios e valores fundadores das Forças Armadas e Revolucionárias do Povo —
FARP.
Ao proferir mais uma desesperada ameaça gratuita e cobarde contra o povo
guineense que a Constituição da República confere o direito de manifestação, o
General Biague Na N'tan demostrou não só a sua ignorância sobre a missão
constitucional das forças armadas, mas também, a sua apetência aos bens
materiais, os quais lhe transformam num homem totalmente perdido no tempo e
fora de si mesmo.
Igualmente, com estas declarações políticas, o General Biague, ignora que
os tempos são outros, pois, a consciência cívica do povo guineense não deixa
espaço para intimidação, medo e muito menos chantagens de um chefe militar
caduco que perdeu noção da missão constitucional reservada às forças armadas.
Em nome da defesa escrupulosa da República, da Constituição e da liberdade,
a Frente Popular faz o uso deste meio para:
1) Condenar sem reservas mais uma declaração política, intimidatória e
irresponsável do General Biague Na N'tan, contra o povo guineense, legítimo
detentor do poder na Guiné-Bissau;
2) Considerar o pronunciamento político do General Biague Na N'tan de uma
encomenda de desespero, que visa claramente intimidar e desencorajar ações
cívicas e políticas de contestações legítimas contra um regime dictatorial,
cujo mandato terminou em 27 de fevereiro último;
3) Assegurar ao General Biague Na N'tan que o povo guineense, consciente
dos seus direitos e das suas responsabilidades, não tem medo de ninguém e por
isso, jamais cederá perante ameaças e chantagens provenientes de quem sucumbiu
à corrupção, na sua inabalável luta pelo resgate da República e dos seus
valores;
4) Reiterar ao General Biague Na N'tan, a inequívoca determinação do povo
guineense em promover, nos próximos tempos, ações de manifestações pacíficas de
rua até ao desmantelamento total do regime autocrático, ditatorial, violento e
caduco, que ele descaradamente tem sustentado;
5) Lembrar ao General Biague Na N'tan, que à luz da Constituição da
República da Guiné-Bissau e demais leis que regem a organização das forças
armadas, está em caducidade, tal como o seu chefe da turma de ditadura, o Sr.
Umaro Sissoco Embaló, desde o dia 27 de fevereiro último e desde logo, deixou
de ter legitimidade e condições de falar em nome das forças armadas e dos
militares guineenses;
6) Alertar ao General Biague Na N'tan sobre os perigos que poderão advir
das suas ameaças e chantagens ilegais a favor de um regime desprovido de
legitimidade popular e lembrá-lo igualmente que enquanto pai, tem filhos,
sobrinhos, netos e igualmente dispõe de patrimónios na Guiné-Bissau.
7) Exigir do Ministério do Interior a libertação imediata e incondicional
de todos os detidos ilegalmente, incluindo o ativista político Alexandre da
Costa.
Viva liberdade!
Viva democracia!
Viva soberania popular! REPUBLIKA I ANOS!
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