ONU AMEAÇA MANUTENÇÃO DE SANÇÕES CONTRA MILITARES GUINEENSES E PERTURBADORES DA ORDEM CONSTITUCIONAL
O secretário-geral da ONU, António Guterres, admitiu a possibilidade de imposição de sanções a pessoas que estejam a perturbar a ordem constitucional na Guiné-Bissau e pediu a criação de um grupo de peritos para analisar a situação no terreno.Arecomendação consta num relatório do secretário-geral da ONU pedido em fevereiro pelo Conselho de Segurança sobre as sanções aplicadas a vários elementos das Forças Armadas envolvidos no golpe de Estado de 2012 e sobre os progressos realizados em relação à estabilização do país e restabelecimento da ordem constitucional e a que a Lusa teve hoje acesso.
No relatório, que analisa os acontecimentos no país desde as presidenciais,
António Guterres salienta que durante aquele período "houve desafios à
ordem constitucional com a existência de dois primeiros-ministros e,
temporariamente, dois Governos paralelos".
"Todos estes fatores supõem um risco para a estabilização da ordem
constitucional na Guiné-Bissau", refere António Guterres.
Para o secretário-geral da ONU, "é importante" o Conselho de
Segurança considerar a possibilidade de manter o regime de sanções estabelecido
e "mostrar claramente ao povo da Guiné-Bissau que o regime de sanções se
aplica a todos os elementos perturbadores, independentemente da sua afiliação
política e institucional".
Nesse sentido, António Guterres pede ao Conselho de Segurança que considere a
possibilidade de estabelecer um grupo de peritos para "compreender melhor
os fatores que levaram as forças de defesa a envolverem-se recentemente no
processo político".
O grupo de peritos, segundo António Guterres, deve também indicar pessoas que
"reúnam os critérios de designação para as medidas seletivas, entre as
quais, vigiar os recursos provenientes do crime organizado utilizados para
apoiar quem tenta impedir o restabelecimento da ordem constitucional".
O grupo de peritos deve também ajudar o Comité de Sanções a rever a lista e
avaliar a capacidade das autoridades guineenses para controlar o tráfico de
droga e o crime organizado, tendo em conta a sua possível repercussão na paz e
estabilidade do país e sub-região.
A Guiné-Bissau vive uma crise política desde as eleições presidenciais.
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido
vencedor das legislativas de 2019, não reconhece o atual chefe de Estado do
país, Umaro Sissoco Embaló.
Depois de a Comissão Nacional de Eleições ter declarado Umaro Sissoco Embaló
vencedor da segunda volta das eleições presidenciais, o candidato dado como
derrotado, Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, não reconheceu os
resultados eleitorais, alegando que houve fraude e meteu um recurso de
contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, que não tomou, até hoje,
qualquer decisão.
Umaro Sissoco Embaló assumiu unilateralmente o cargo de Presidente da
Guiné-Bissau em fevereiro e acabou por ser reconhecido como vencedor das
eleições pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
que tem mediado a crise política no país, e restantes parceiros internacionais.
Após ter tomado posse, o chefe de Estado demitiu o Governo liderado por
Aristides Gomes, saído das eleições legislativas de 2019 ganhas pelo PAIGC, e
nomeou um outro liderado por Nuno Nabian, líder da Assembleia do Povo Unido -
Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que assumiu o poder com o apoio
das forças armadas do país, que ocuparam as instituições de Estado.
Nuno Nabian acabou por fazer aprovar o seu programa de Governo no parlamento
guineense, com o apoio de cinco deputados do PAIGC, que o partido considera
terem sido coagido.
Notabanca; 01.09.2020



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