PROJETO DA REVISÃO CONSTITUCIONAL “RETIRA PODERES AO PRIMEIRO-MINISTRO E SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA”
A proposta do projeto de revisão constitucional na Guiné-Bissau reforça os poderes do Presidente, que passa a presidir ao Conselho de Ministros, ao Conselho Superior de Defesa e ao Conselho de Segurança Nacional.No projeto de revisão da Constituição da Guiné-Bissau, entregue na semana passada ao Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, e a que Lusa teve acesso, o artigo referente às atribuições do Presidente da República passa a dizer que o chefe de Estado preside ao Conselho de Ministros.
Na atual Constituição, o artigo refere que o Presidente preside ao “Conselho de Ministros, quando entender”.
A questão da presidência do Conselho de Ministros é reforçada no artigo
referente à constituição daquele órgão, que ao contrário da Constituição em
vigor, que determina que é presidido pelo primeiro-ministro, refere que o chefe
de governo pode “presidir ao Conselho de Ministros por delegação do Presidente
da República”.
Ainda em relação ao Presidente da República, a proposta refere que só pode ser
candidato ao cargo quem tiver tido “residência permanente no território
nacional nos cinco anos imediatamente anteriores à data de apresentação da
candidatura”, limitando as candidaturas de cidadãos que não residam no país.
Sobre a nomeação do primeiro-ministro, o projeto de revisão modifica a
reformulação relativa à nomeação e exoneração do primeiro-ministro, que passar
a dizer que o Presidente nomeia ou exonera “tendo em conta os resultados
eleitorais e a existência ou não de força política maioritária que garanta
estabilidade governativa e por coligações ou alianças, depois de ouvidos os
partidos políticos representados no parlamento”.
Segundo a Constituição da Guiné-Bissau, as propostas de revisão têm de ser
aprovadas por maioria de dois terços dos deputados que constituem a Assembleia
Nacional Popular, ou seja, 68 dos 102 deputados.
A Guiné-Bissau vive uma crise política desde as eleições presidenciais.
O Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor
das legislativas de 2019, não reconhece o atual chefe de Estado do país, Umaro
Sissoco Embaló.
Depois de a Comissão Nacional de Eleições ter declarado Umaro Sissoco Embaló
vencedor da segunda volta das eleições presidenciais, o candidato dado como
derrotado, Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, não reconheceu os
resultados eleitorais, alegando que houve fraude e meteu um recurso de
contencioso eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça, que não tomou, até hoje,
qualquer decisão.
Umaro Sissoco Embaló assumiu unilateralmente o cargo de Presidente da
Guiné-Bissau em fevereiro e acabou por ser reconhecido como vencedor das
eleições pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO),
que tem mediado a crise política no país, e restantes parceiros internacionais.
Após ter tomado posse, o chefe de Estado demitiu o Governo liderado por
Aristides Gomes, saído das eleições legislativas de 2019 ganhas pelo PAIGC, e
nomeou um outro liderado por Nuno Nabian, líder da Assembleia do Povo
Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), que assumiu o poder com o
apoio das forças armadas do país, que ocuparam as instituições de Estado.
Nuno Nabian acabou por fazer aprovar o seu programa de Governo no parlamento
guineense, com o apoio de cinco deputados do PAIGC, que o partido considera
terem sido coagidos.
Em relação à proposta de projeto de revisão constitucional, o PAIGC já acusou
Umaro Sissoco Embaló de fazer um “golpe palaciano” para tentar “usurpar” os
poderes do parlamento com a revisão Constitucional.
Embaló afirmou que não haverá mais nenhum projeto de proposta de revisão
constitucional.
Num comunicado enviado à imprensa, o PAIGC apelou a “todas as forças nacionais
que defendem a legalidade do Estado de Direito, bem como à sociedade civil,
assim como a todos os guineenses para denunciarem mais este “golpe palaciano” e
a criarem uma “frente conjunta” para “travar mais uma inconstitucionalidade”.
O Presidente guineense criou em maio uma Comissão Técnica para a Revisão
Constitucional, coordenada pelo jurista e advogado guineense Carlos Joaquim
Vamain, que integra também a antiga presidente do Supremo Tribunal de Justiça
Maria do Céu Monteiro.
A comissão entregou na quinta-feira a Umaro Sissoco Embaló a proposta de
revisão da Constituição.
Os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau têm insistido na
necessidade da revisão constitucional para minimizar os conflitos políticos no
país.
Notabanca; 31.08.2020

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