A pandemia do novo coronavírus está também a ameaçar a paz e a segurança no mundo, advertiu quinta-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres, num debate no Conselho de Segurança.
Perante vários ministros dos Negócios Estrangeiros, e através de uma videoconferência, Guterres defendeu que as consequências da covid-19 neste contexto podem valorizar-se “mesmo em alguns países tradicionalmente vistos como estáveis”, mas notam-se ainda mais nos que estão envoltos em conflitos ou a sair deles.
“Nalguns países, os processos de paz frágeis podem
descarrilar por causa da crise, sobretudo se a comunidade internacional estiver
distraída”, frisou o secretário-geral das Nações Unidas, destacando os casos na
região sudanesa de Darfur ou da Somália, onde teme que o grupo ‘jihadista’
Al-Shabab possa aumentar o número de ataques enquanto as autoridades de centram
na pandemia do novo coronavírus.
Guterres alertou também para o facto de as
restrições à circulação impostas para travar a propagação da pandemia
“complicam a diplomacia”, dado que as tarefas de mediação costumam ser “muito
pessoais” e à distância é “mais difícil gerar confiança”.
O antigo primeiro-ministro português destacou também
que a pandemia ilustra o risco de possíveis “ataques bioterroristas”, uma vez
que deixou a nu a falta de preparação do mundo face ao hipotético caso de que
uma doença possa ser “manipulada deliberadamente para a tornar mais virulenta
ou se se a liberta intencionalmente em vários locais ao mesmo tempo”.
“Ao mesmo tempo que devemos saber como melhorar a
nossa resposta a futuras doenças, também devemos dedicar muita atenção a
prevenir o uso deliberado de doenças como armas”, acrescentou.
Nesse sentido, Guterres urgiu aos 14 países que não
assinaram a Convenção sobre Armas Biológicas para que o aprovem quanto antes,
apelando ainda ao reforço deste instrumento de fiscalização, a que faltam
mecanismos de verificação.
“A melhor resposta às armas biológicas é uma acção
efectiva contra as doenças que ocorrem de forma normal. Uns sistemas de saúde
pública e de veterinária fortes não só são uma ferramenta essencial contra a
covid-19, coimo também uma dissuasão efetiva contra o desenvolvimento de armas
biológicas”, defendeu Guterres
O secretário-geral da ONU referiu-se também ao
aumento do ódio e dos ataques aos direitos das pessoas, advertindo que a
pandemia está a revelar uma “mostra crescente do autoritarismo” e do uso
excessivo da força por parte das autoridades, bem como a dar novos pretextos a
“populistas, nacionalistas e outros que estavam à procura de limitar os
direitos humanos”.
“O estigma e os discursos de ódio estão a aumentar.
E a epidemia de desinformação na Internet corre desenfreada”, lamentou
Guterres, lembrando as consequências para a estabilidade que a crise económica
pode desencadear por causa da covid-19.
No debate participaram os chefes da diplomacia de vários
Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU, entre eles o da França,
Jean-Yves Le Drian, que pediu o reforço da unidade internacional face aos
grandes problemas que o mundo está a enfrentar.
O seu homólogo alemão, Heiko Maas, presidiu a
reunião e também exigiu “respostas globais para dificuldades globais”.
“Temos de dar uma resposta, no quadro do Conselho de
Segurança, às consequências que as pandemias têm em conflitos e em crises
humanitárias”, frisou Maas.
Notabanca, 05.07.2020
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