O economista guineense Santos Fernandes alertou hoje que
os políticos guineenses podem dar um "golpe" na dinâmica económica da
Guiné-Bissau se fizerem um aproveitamento eleitoral da campanha da castanha de
caju para as legislativas de 10 de março.
"Vamos ter novamente uma situação complicada na medida em que a nossa
campanha da castanha de caju vai coincidir com o período eleitoral, falo
concretamente das eleições legislativas, e isso significa que os nossos atores
políticos vão ser tentados a misturar as coisas", afirmou à Lusa Santos
Fernandes.
A castanha de caju é o principal produto de exportações da Guiné-Bissau e
motor da economia do país.
Em 2018, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia
guineense esteve sob pressão, tendo o crescimento do Produto Interno Bruto real
(PIB) caído para 3,8%, depois de, entre 2015 e 2017, ter atingido os 6%.
A queda do crescimento deveu-se essencialmente a uma menor produção e
preços do caju, principal produto de exportação do país e que tem suportado nos
últimos anos a economia.
O FMI pediu em janeiro à Guiné-Bissau para realizar uma campanha de
comercialização de caju transparente e concorrencial, assegurando um preço de
referência consistente com o praticado no mercado internacional.
"Os nossos políticos vão querer tirar proveito político disto, porque
o perfil do nosso político já é de promiscuidade. A maioria dos nossos
políticos vieram da classe empresarial, às tantas passaram a ser deputados e
não conseguem separar as águas e tudo indica que vão ser tentados a misturar as
coisas, porque pensam que a castanha de caju pode ser um triunfo para serem
eleitos a 10 de março", salientou.
O ano passado, o Presidente guineense, José Mário Vaz, fixou o preço da
castanha de caju em 1,5 euros o quilograma, um preço demasiado elevado que
afastou os exportadores e os intermediários como vieram a confirmar os números
dos organismos internacionais, recordou Santos Fernandes.
"Se isso vier a acontecer tudo indica que isso vai ser um golpe a tudo
o que é a dinâmica económica do país", salientou.
Nas declarações à Lusa, o economista insistiu que os preços da castanha de
caju dependem das taxas de juro praticadas no mercado.
Santos Fernandes disse também que as recomendações do FMI não devem surtir
efeito em plena campanha eleitoral, porque para os políticos "vale tudo
para conseguirem o voto".
"Os aspetos económicos podem contar, mas não agora, com as suas
consequências, o endividamento, o empobrecimento da população. Estamos a falar
de uma população que não consegue criar riqueza, mas continua a ser
instrumentalizada e penso que os políticos não estão em condições de acatar
essa recomendação", afirmou.
A Guiné-Bissau vai realizar eleições legislativas a 10 de março. A campanha
eleitoral decorre entre 16 de fevereiro e 08 de março.
Notabanca; 18.02.2019
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