O poeta e político português, Manuel Alegre afirmou que "Amílcar Cabral foi no seu entender é o mais inteligente, o mais criativo e o mais brilhante de todos os dirigentes da luta de libertação dos povos africanos colonizados naquela altura pelo regime português.
Manuel Alegre recorda-se de um dia em Argel, onde o português estava exilado, Amílcar Cabral ter puxado os óculos para a testa, como era seu hábito, e com os olhos rasos de lágrimas ter dito:
“Quando for assassinado, sê-lo-ei por um homem do meu povo, do meu partido,
provavelmente fundador, ainda que guiado pelo inimigo”. Cabral pressentia o
perigo e presságio confirmou-se. Foi assassinado, aos 48 anos, por três homens
armados do PAIGC, o seu partido, perto da sua casa em Conacri.
Até hoje as circunstâncias da morte estão por esclarecer. Inocêncio Kani,
companheiro de luta de Cabral deu o primeiro tiro, outro, ainda não
identificado, deu-lhe os tiros de misericórdia. Também não há uma verdade
quanto à autoria moral do crime: um plano da PIDE, a polícia política
portuguesa? Divergência no seio do partido? Conflito de interesses na
Guiné-Conacri? Morrer é uma das condições da guerra de qualquer
combatente.Amílcar Cabral era um alvo privilegiado, pela sua acção, mas sobretudo pelo seu pensamento.
No seu livro de memórias, “A Ponta da Navalha”, o jornalista francês Gérard Chaliand, que acompanhou e divulgou a Luta de Libertação na Guiné-Bissau, conta que quando disseram a Nelson Mandela “tu és o maior”, Mandela replicou com toda a simplicidade, “não o maior é Cabral”.
(...)"Aprendi que não era português"
À uma hora do dia 12 de Setembro de 1924 nascia em Bafatá, na então Guiné Portuguesa, Amílcar Lopes Cabral. Filho de um professor primário cabo-verdiano e de mãe guineense. Aos 8 anos de idade muda-se com a família para a ilha de Santiago, Cabo Verde. Frequentou o liceu Gil Eanes, em S. Vicente, onde completa, em 1944, os seus estudos secundários.
Recordando os seus tempos de escola Cabral dirá: “Gosto muito de Portugal, do povo português. Houve um tempo na minha vida em que eu estive convencido que era português. Mas depois aprendi que não, porque o meu povo, a história de África, até a cor da minha pele…Aprendi que já não era português”.Manuel Alegre recorda: “Ele era um homem com um grande sentido de humor, ele dizia que o seu desejo maior era ter sido jogador de futebol ponta esquerda do Benfica ou chefe de uma orquestra do morro, mas que as circunstâncias o tinham transformado enfim no dirigente da luta armada”.
O governo assinala em Bissau e Bafatá o 12 de setembro com várias atividades políticas e recreativas.
Notabanca;
23.09.08
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