O jornalista angolano Rafael Marques de Morais foi
nomeado como o 70.º Herói Mundial da Liberdade de Imprensa, prémio atribuído
pelo Instituto Internacional da Imprensa (IPI), indicou hoje a organização.
Num comunicado, o IPI realça que Prémio Herói Mundial
da Liberdade de Imprensa homenageia jornalistas que deram uma contribuição
significativa para a promoção da liberdade de imprensa, particularmente em face
de elevado risco pessoal.
Segundo o
IPI, Rafael Marques, também ativista dos direitos humanos, "tem enfrentado
décadas de assédio e processos jurídicos ao revelar a corrupção e os abusos de
direitos humanos em Angola", estando prevista a entrega do prémio a 22 de
junho próximo em Abuja, na Nigéria, durante o Congresso Mundial e a Assembleia
geral da instituição.
Nos últimos
quatro anos, a distinção tem sido atribuída pelo IPI, em parceria com o
International Media Support (IMS) de Copenhaga (Dinamarca).
A diretora
executiva do IPI, Barbara Trionfi, saudou Rafael Marques pela sua dedicação à
procura da verdade num ambiente implacável para a liberdade de imprensa.
"Apesar
da repressão sistemática dos meios [de comunicação social] independentes em
Angola, Rafael Marques tem conseguido -- correndo grande risco pessoal -- fazer
incidir uma luz no abuso de poder ao nível mais elevado com coragem e
persistência", argumentou Trionfi.
"Através
dos seus artigos, livros e pesquisa, o senhor Marques tem levado a cabo o tipo
de jornalismo de vigilância que os meios controlados pelo Estado do país não
conseguem concretizar, proporcionando um serviço essencial ao público angolano
e à comunidade internacional", acrescentou.
Trionfi
lamentou um processo judicial em curso contra Rafael Marques, em que, com mais
um colega, Mariano Brás Lourenço, enfrentam acusações de insultos a uma
autoridade pública num artigo de 2016 que examina uma transação imobiliária
envolvendo o então Procurador-Geral da República de Angola.
Se forem
condenados, ambos enfrentam até quatro anos de prisão, lembrou, mas o caso está
também dependente de uma possível reforma democrática em Angola sob o governo
do presidente João Lourenço, que sucedeu a José Eduardo dos Santos em 20217.
"Angola
deve acabar com o seu assédio ao senhor Marques e a todos os jornalistas em
Angola. Se o Presidente Lourenço levar a sério a mudança, deve permitir que
floresçam meios críticos e independentes", alertou.
Rafael
Marques é o primeiro Herói Mundial da Liberdade de Imprensa do IPI de Angola, e
o terceiro de língua portuguesa, depois do português Nuno Rocha e do brasileiro
Júlio de Mesquita Neto.
Licenciado
pela Goldsmiths, Universidade de Londres e pela Universidade de Oxford, Rafael
Marques recebeu anteriormente o Prémio Allard para Integridade Internacional e
o Prémio de Coragem Civil da Fundação Train, entre outros prémios.
"Rafael
Marques iniciou em 1992 a sua carreira como repórter no órgão estatal Jornal de
Angola, antes de ser demitido devido à sua determinação em desviar-se da linha
traçada pelo então presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que governou a
antiga colónia portuguesa com mão de ferro entre 1979 e 2017", lê-se no
comunicado.
Em 2008,
depois de anos a escrever para meios independentes em Angola e de ter sido o
autor de numerosos relatórios sobre violações de direitos humanos, o jornalista
fundou o site Maka Angola, que elabora trabalhos de investigação sobre corrupção
envolvendo líderes com posições de destaque nas esferas da política, negócios e
militar de Angola.
"Grande
parte do trabalho de Marques tem-se concentrado na gestão cleptocrática dos
recursos naturais em Angola, cujas vastas reservas de petróleo e minerais
enriqueceram uma pequena elite governante enquanto milhões permanecem na
pobreza", refere o IPI.
A
instituição lembra também que a obra de Rafael Marques mais conhecida
internacionalmente, o livro "Diamantes de Sangue: Corrupção e Tortura em
Angola", de 2011, detalhou alegações de homicídio, agressão, detenção
arbitrária e deslocamento forçado de civis com relação à lucrativa indústria de
mineração de diamantes do país.
Depois de um
grupo de altos generais angolanos mencionados no livro ter apresentado queixa,
Rafael Marques recebeu novamente uma sentença suspensa de seis meses por
difamação.
De acordo
com a Lusa, no início dos anos 2000, Rafael Marques também reportou a corrupção
e os alegados abusos militares na província de Cabinda, rica em petróleo, que
abriga um movimento separatista de longa data - Frente de Libertação do Estado
de Cabinda -- Forças Armadas de Cabinda (FLEC-FAC).
Na edição de
2017, o galardão foi atribuído ao jornalista e bloguer etíope Eskinder Nega,
que passou quase seis anos na prisão sob acusações fraudulentas de terrorismo,
tendo sido libertado em fevereiro deste ano.
O
International Press Institute (IPI) é a mais antiga organização mundial
dedicada à promoção do direito à informação, constituindo uma rede global de
jornalistas e editores que trabalha para salvaguardar a liberdade de imprensa e
promover a livre circulação de notícias e informação, bem como a ética e o
profissionalismo
Notabanca;
22.05.2018
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