AMNISTIA INTERNACIONAL AFIRMA QUE VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS É CADA VEZ MAIS VISÍVEL
A Amnistia Internacional (AI) afirma que as críticas aos governos em muitos países africanos traduzem-se em "repressões brutais daqueles que protestam contra os excessos", e dá exemplos no seu relatório anual, hoje divulgado."Os assassínios do proeminente defensor dos direitos humanos Thulani Maseko, em Essuatíni, e do jornalista Martinez Zogo, nos Camarões, e a morte, em circunstâncias suspeitas, do jornalista de investigação ruandês John Williams Ntwali, no espaço de uma semana em janeiro de 2023, constituíram um momento negro para o movimento dos direitos humanos", destaca aquela organização não-governamental no documento.
O relatório sobre "A Situação dos Direitos Humanos no Mundo" salienta, no que diz respeito ao continente africano, que criticar os governos "continuou a ser perigoso em muitos países".
"As repressões brutais contra aqueles que protestavam contra os excessos, os fracassos ou as alegações de corrupção do Governo eram generalizadas e visavam sobretudo jornalistas, defensores dos direitos humanos, ativistas e líderes e membros da oposição", descreve.
Na avaliação que apresenta sobre os direitos humanos em África, ao longo de 2023, a AI destaca "a violência renovada no Sudão" como ilustrando "o imenso sofrimento dos civis envolvidos em conflitos armados em toda a região e o total desrespeito das partes em conflito pelo direito internacional humanitário".
"Os relatos de baixas civis em massa foram frequentes e chocantes, especialmente tendo em conta a escala dos ataques seletivos e indiscriminados. A violência sexual continuou a ser uma característica dos conflitos armados", acrescenta.
A questão dos deslocados é igualmente evidenciada pela AI, que diz que a combinação de fatores, incluindo a inflação, a corrupção, as alterações climáticas e os conflitos, criou "condições de vida insuportáveis"."Milhões de pessoas não tinham acesso aos direitos económicos e sociais básicos. Muitos países foram afetados de forma desproporcionada pela elevada inflação dos preços dos produtos alimentares e a insegurança alimentar atingiu níveis assustadores", adianta.
A perpetuação de conflitos armados e os efeitos das alterações climáticas "deslocaram milhões de pessoas das suas casas e, no entanto, as autoridades de vários países não cumpriram as suas obrigações de proteção dos refugiados e dos requerentes de asilo".
A discriminação baseada no género e a violência contra as mulheres e as raparigas "continuaram enraizadas" e os "ataques homofóbicos e a repressão dos direitos das pessoas LGBTI aumentaram em toda a região", sintetiza.
"Os governos africanos permaneceram em grande parte indiferentes aos apelos para que combatessem a impunidade, permitindo assim que esta florescesse e alimentando o ciclo de violações e abusos, bem como o desrespeito pelo Estado de direito", acusa a Amnistia Internacional.
Em resultado das políticas que aplicaram, "muitos governos minaram as iniciativas de justiça e responsabilização ou frustraram abertamente o escrutínio internacional dos seus registos em matéria de direitos humanos", traça a organização.
"Em vários países, as execuções extrajudiciais e outras mortes ilícitas, bem como os desaparecimentos forçados, continuaram a ser utilizados como instrumentos de repressão", sinaliza a AI, que exemplifica com o Burkina Faso, onde salienta que figuras públicas foram raptadas ou detidas e desaparecidas à força.
Em síntese, a Amnistia Internacional defende que "os governos devem pôr termo ao assédio e à intimidação de jornalistas, defensores dos direitos humanos, ativistas e membros e líderes da oposição; libertar imediata e incondicionalmente qualquer pessoa que seja detida arbitrariamente; e garantir o respeito pela liberdade dos meios de comunicação social, nomeadamente permitindo que estes funcionem de forma independente"
DIREITOS HUMANOS NO CHÃO
Relatório
sobre os Direitos Humanos no Mundo em 2023 dos EUA afirma que Governo
não tomou medidas para punir funcionários que violaram direitos humanos
O Relatório sobre os Direitos Humanos no Mundo em 2023 divulgado
nesta segunda-feira, 22, em Washington, pelo Departamento de Estado
americano diz que a Guiné-Bissau não registou melhorias no campo dos
direitos humanos em relação ao ano anterior.
O cenário descrito
revela "relatos credíveis de tortura ou tratamento cruel, desumano ou
degradante por parte do Governo, condições prisionais duras, problemas
graves com a independência do poder judicial, corrupção governamental
grave, ampla violência baseada no género, incluindo violência doméstica,
casamento infantil, precoce e forçado, mutilação genital feminina e
tráfico de pessoas, incluindo trabalho forçado.
O Departamento de
Estado afirmou que o "Governo não tomou medidas credíveis para
identificar e punir funcionários que possam ter cometido violações dos
direitos humanos".
Entretanto, não houve relatos de que o
Executivo ou os seus funcionários tenham cometido execuções arbitrárias
ou ilegais, incluindo execuções extrajudiciais.
O documento
regista que a organização não governamental Liga Guineense dos Direitos
Humanos (LGDH) relatou que "pelo menos 25 pessoas foram sujeitas a
tortura ou abuso físico arbitrário, enquanto estavam detidas, tendo dois
destes casos resultado em ferimentos graves que exigiram
hospitalização" mas nenhum dos responsáveis foi punido, de acordo com a
mesma fonte.
Cultura de impunidade
Apesar de existirem
mecanismos para investigar e processar denúncias de violações dos
direitos humanos, a LGDH alegou que o "Ministério Público permitiu a
existência de uma cultura de impunidade no país, incluindo nas forças de
segurança e na polícia nacional".
Muitos centros de detenção
estão gravemente superlotados e têm ventilação insuficiente, pouca
iluminação e fossas sépticas entupidas.
O relatório, que cita a
LGDH, diz que "os prisioneiros não têm água potável ou corrente e acesso
a tratamento médico, a nutrição é deficiente e "no Centro de Prisão
Preventiva em Bissau os detidos dependiam das suas famílias para terem
alimentação".
No entanto, conclui que "não houve relatos de presos ou detidos políticos".
Pressão sobre jornalistas
A
constituição e a lei preveem a liberdade de expressão, incluindo para
membros da imprensa e outros meios de comunicação social, e organizações
não governamentais e órgãos de fiscalização dos meios de comunicação
informaram que "o Governo, em geral, respeitou este direito".
Os
relatores registam que no dia 4 de dezembro, militares ocuparam estações
de rádio e televisão em Bissau durante aproximadamente 48 horas e
"embora o Governo alegasse que a medida era uma resposta a uma potencial
tentativa de golpe de Estado, os jornalistas disseram que tal foi feito
para intimidá-los e impedir a divulgação de notícias sobre
acontecimentos políticos".
O Departamento de Estado destaca que
as eleições nacionais, realizadas pela última vez em junho, foram
amplamente consideradas justas e livres de abusos e irregularidades.
Alguns
partidos da oposição, no entanto, "alegaram que o pessoal de segurança
apoiado pelo Governo os impediu de fazer campanha livremente e de viajar
para se encontrarem com apoiantes no período anterior às eleições".
Os partidos tiverem, por vezes, a sua atividade de operar livremente coartada, segundo o documento.
Ataques e discriminação baseada no género
"No
dia 5 de maio, a residência de Fransual Dias, analista político e
membro do oposicionista Partido da Renovação Social, foi atacada por
desconhecidos e o seu veículo incendiado, Dias afirmou na mídia que o
ataque teve motivação política para intimidá-lo por pessoas alinhadas
com o Presidente", continua o relatório que cita ainda que "no dia 6 de
dezembro, as Forças Armadas ocuparam a sede de um partido da oposição, o
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, expulsaram
membros reunidos e bloquearam a entrada no edifício".
Quanto à
participação das mulheres, o documento aponta que ,embora algumas tenham
ocuçado cargos seniores no Governo, "os observadores acreditam que as
opiniões relativas aos papéis tradicionais de género em algumas partes
do país, especialmente nas zonas rurais, limitam a participação política
das mulheres."
O relatório cita "fontes dos meios de comunicação
social e organizações não governamentais que alegaram que membros da
administração militar e civil traficavam estupefacientes e ajudavam
cartéis internacionais de droga, proporcionando acesso ao país e à sua
infra-estrutura de transportes".
"Antonio Indjai, antigo chefe
das Forças Armadas, continuou a circular livremente no país", conclui o
relatório lembrando que ele é alvo de sanções da ONU "pelo seu
envolvimento num golpe de Estado bem sucedido em 2012".
Notabanca, 24.04.2024
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