sexta-feira, 8 de setembro de 2023

ZELENSKY ADMITE QUE RÚSSIA TRAVA CONTRAOFENSIVA UCRANIANA DEVIDO À SUPERIORIDADE AÉREA

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu hoje que a Rússia, com a sua superioridade aérea, está a travar o progresso da contraofensiva ucraniana, queixando-se do abrandamento da ajuda militar ocidental e das sanções contra Moscovo.

“Se não estamos no céu e a Rússia está a impedir-nos do céu. Eles estão a impedir a nossa contraofensiva”, declarou o Presidente ucraniano, citado pela agência France Presse (AFP), numa conferência em Kiev.

O chefe de Estado ucraniano apontou ainda processos “que se estão a tornar mais complicados e lentos, quando se trata de sanções ou de fornecimento de armas” do Ocidente.

“A guerra está a abrandar, reconhecemos este facto”, afirmou.

E prosseguiu: “Quando os parceiros nos perguntam ‘qual é o próximo passo na contraofensiva?’, a minha resposta é que hoje os nossos passos são provavelmente mais rápidos do que os novos pacotes de sanções” que visam a Rússia.

A Ucrânia queixa-se regularmente da lentidão das medidas de retaliação (sanções) destinadas a abrandar o esforço de guerra russo.

Zelensky sublinhou mais uma vez que se o Ocidente entregasse munições de longo alcance mais rapidamente, o que possibilita atacar as defesas de retaguarda e logística russas, o exército ucraniano também avançaria mais rapidamente.

“Uma arma específica tem um impacto específico. Quanto mais poderosa e de longo alcance, mais rápida será a contraofensiva”, sublinhou.

Os aliados ocidentais apenas entregaram munições deste tipo de forma muito faseada, receando que Kiev as usasse para bombardear o território russo, o que poderia levar a uma escalada do conflito.

Da mesma forma, a Ucrânia queixa-se há meses da lentidão das negociações sobre a entrega de caças F-16, enquanto o país tem apenas uma pequena e envelhecida frota de aviões desenvolvida durante a era soviética.

Após meses de discussões e de espera pela “luz verde” de Washington, várias dezenas destas aeronaves norte-americanas serão entregues por países europeus, mas a sua chegada aos céus da Ucrânia demorará meses, tendo em conta, em particular, o período de formação dos pilotos.

As palavras de Zelensky seguem-se à visita do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na quarta-feira a Kiev, onde deixou elogios aos progressos da contraofensiva ucraniana, ao mesmo tempo que anunciava um novo pacote de ajuda à Ucrânia de mil milhões de dólares (cerca de 933 milhões de euros ao câmbio atual), a que se somou, no dia seguinte, um novo financiamento, por parte do Departamento de Defesa, de apoio militar no valor de 600 milhões de dólares (cerca de 560 milhões de euros).

A contraofensiva ucraniana lançada em junho no leste e no sul enfrenta dificuldades para avançar devido à superioridade aérea russa, mas também a uma complexa rede de linhas de defesa, em particular na frente em direção ao Mar de Azov, composta por trincheiras, campos minados e armadilhas antitanque.

A Ucrânia espera, no entanto, conseguir abrir uma brecha na zona de Robotyne, no sul, depois de tomar esta aldeia considerada estratégica. Moscovo até agora não admitiu uma retirada nesta área e relata combates diários.

Rússia reclama reforço de posições na região de Zaporijia

Rússia reclama reforço de posições na região de Zaporijia

“As unidades russas, com apoio da aviação e da artilharia, efetuaram ações ativas para melhorar as suas posições táticas nas localidades de Robotyne e Verbove, na região de Zaporijia”, declarou o porta-voz militar Igor Konashenkov nas suas habituais declarações diárias.

Segundo o representante da Defesa, as forças russas “repeliram um contra-ataque de um destacamento de assalto da 82ª brigada do Exército ucraniano” neste setor da frente.

No domingo, o general ucraniano Oleksandr Tarnavski indicou que as forças ucranianas ultrapassaram a primeira linha de defesa russa e estavam a aproximar-se da segunda.

“Agora estamos entre a primeira e a segunda linha de defesa, estamos a eliminar as últimas unidades do inimigo que cobrem a retirada das tropas russas para a segunda linha”, informou o militar.

Apesar de a Rússia não ter reconhecido oficialmente a perda de Robotyne, ‘bloggers’ militares russos informaram no fim de semana que as forças russas se retiraram do sul desta localidade “para posições situadas mais a sul”.

Os militares ucranianos procuram romper nesta zona as linhas de defesa russas e avançar em direção ao mar de Azov, com o objetivo de cortar a ponte terrestre entre a anexada península da Crimeia e o continente russo.

Em paralelo, Vladimir Rogov, representante da Rússia na região anexada de Zaporijia, negou hoje que a Ucrânia tenha conseguido romper a primeira linha de defesa da Rússia desde o início da contraofensiva iniciada no início de junho.

Segundo Rogov, citado pela agência noticiosa TASS, as forças ucranianas apenas se aproximaram da primeira linha russa, mas sem a ultrapassar.

“Nestes três meses, vemos que não conseguiram ocupar localidades importantes e a sua zona de controlo não foi ampliada”, assegurou.

Rogov voltou a desmentir a retomada de Robotyne pelas forças de Kiev e afirmou que as tropas ucranianas “se entrincheiraram nas ruínas de uma escola no centro da localidade”, mas “não têm Robotyne sob o seu controlo”.

O Ministério da Defesa ucraniano afirmou hoje ter tido “sucesso” na semana passada na contraofensiva na frente sul, reclamando também a reconquista de três quilómetros quadrados às forças russas perto de Bakhmut (leste).

As forças ucranianas estão a “continuar as operações ofensivas no setor de Melitopol” e “obtiveram sucesso perto de Novodanylivka e Novoprokopivka”, no sul do país, disse a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar, à televisão estatal de Kiev.

Estas duas aldeias situam-se na região de Zaporijia, perto de Robotyne, uma localidade reconquistada às forças russas no final de agosto e que, segundo Kiev, abre caminho à ofensiva ucraniana em direção ao sul ocupado pelo exército de Moscovo.

“No sul, o inimigo (Rússia) está a sofrer pesadas perdas em termos de efetivos, armas e equipamento, e está a reagrupar as unidades e tropas utilizando reservas”, disse ainda Ganna Maliar.

Estas informações ainda não foram confirmadas nem por jornalistas nem por qualquer entidade independente.

Paralelamente, as forças ucranianas abateram 17 drones russos no sul da região de Odessa, na Ucrânia, num ataque que danificou vários edifícios no distrito da cidade portuária de Izmail, anunciou hoje o governador local.

“Dezassete drones foram abatidos pelas nossas forças de defesa aérea”, disse Oleg Kiper, admitindo que outros aeronaves não tripuladas russos conseguiram alcançar os objetivos.

O Comando Operacional para o Sul da Ucrânia do exército, por seu lado, descreveu um “grande ataque noturno” realizado com recurso a drones contra “infraestruturas civis na área do [rio] Danúbio”.

O porto fluvial de Izmail tornou-se uma das principais rotas de saída dos produtos agrícolas ucranianos desde que Moscovo abandonou o acordo de exportação de cereais em Julho.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os aliados ocidentais da Ucrânia têm fornecido armas a Kiev e aprovado sucessivos pacotes de sanções contra interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra.

Notabanca; 09.09.2023

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