JOE BIDEN NO VIETNAME PARA REFORÇAR AS RELAÇÕES E A PENSAR NA CHINA
O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, chegou hoje ao Vietname para elevar as relações bilaterais a um novo nível, num contexto de rivalidade com a China.Joe Biden desembarcou em Hanói pelas 16:00 locais (10:00 em Portugal continental) após ter participado na cimeira do G20 em Nova Deli, na Índia.
Nesta visita terá um encontro particular com o líder do Partido Comunista no poder, Nguyen Phu Trong.
Está prevista a assinatura de uma “parceria estratégica alargada”. Até agora, o Vietname só celebrou parcerias deste tipo, que reflete o mais elevado grau de proximidade diplomática, com a Rússia, a Índia, a Coreia do Sul e a China.
Embora tenha o cuidado de não dar a impressão de estar do lado de Washington ou de Pequim, Hanói partilha as preocupações norte-americanas sobre as reivindicações de Pequim no Mar do Sul da China – onde Hanói tem reivindicações rivais.
Na véspera da chegada de Biden a Hanói, o New York Times noticiou que o Vietname estava a negociar secretamente um novo acordo de armas com a Rússia, apesar das sanções internacionais.
De acordo com um documento do Ministério das Finanças vietnamita, citado pelo diário americano, este acordo poderia ser financiado por um projeto petrolífero conjunto russo-vietnamita na Sibéria.
Jon Finer, conselheiro adjunto para a segurança nacional dos EUA, falou hoje à imprensa sobre a relação de décadas entre a Rússia e o Vietname em termos de cooperação militar.
Segundo Finer, existe “um crescente mal-estar entre os vietnamitas” relativamente a esta relação, defendendo que Washington e os seus aliados poderiam ajudar Hanói a “diversificar os seus parceiros”.
Os EUA e o Vietname mantêm também relações comerciais cada vez mais estreitas. Washington vê Hanói como um parceiro importante, numa altura em que os norte-americanos procuram estabelecer circuitos industriais globais para ficarem menos dependentes da China.
O programa de hoje inclui uma cerimónia de boas-vindas, discursos e uma conferência de imprensa do Presidente norte-americano, que na terça-feira atribuiu a mais alta distinção militar americana a um piloto de helicóptero que salvou quatro soldados durante a guerra do Vietname.
Na segunda-feira, Joe Biden encontrar-se-á com o Presidente Vo Van Thuong e com o primeiro-ministro Pham Minh Chinh. Está igualmente prevista uma homenagem em Hanói, em frente ao monumento dedicado a John McCain, o antigo herói de guerra já falecido que ajudou a reconstruir os laços entre os dois países.
No sábado, a zona central do lago Hoan Kiem de Hanói, muito popular entre as famílias, estava decorada com bandeiras norte-americanas e vietnamitas. Não muito longe, num bairro histórico, uma loja de recordações vendia t-shirts com o rosto de Joe Biden.
Vietname recebe Biden em plena disputa EUA-China no Indo-Pacífico
O acordo entre os Estados Unidos e o Vietname coincide ainda com um aumento da tensão entre Hanói e Pequim devido a disputas territoriais de longa data no Mar do Sul da China.
Contudo, apesar de o acordo ajudar a aumentar a influência norte-americana na região Indo-Pacífico, Biden pode esperar acusações de hipocrisia por defender uma política externa baseada em valores, ao mesmo tempo que reforça laços com um Estado repressivo e autoritário de partido único como o Vietname.
“A situação dos Direitos Humanos no Vietname tem vindo a piorar, e não a melhorar. Há definitivamente pessoas por aí que ficarão chocadas com este acordo, que verão isto como uma forma ‘realpolitik’ de fazer as coisas contra a China, ignorando ao mesmo tempo a situação agravada dos Direitos Humanos no Vietname”, observou GrossmaReunião entre Biden e primeiro-ministro da China foi "não hostil"
Numa conferência de imprensa em Hanói, capital do Vietname, Joe Biden revelou que se encontrou com Li Qiang na cimeira do G20, referindo que os dois conversaram sobre a “conferência em geral” e as oportunidades para o chamado “Sul Global”.
Até agora, não se sabia que o Presidente dos Estados Unidos se tinha encontrado com o primeiro-ministro da China e hoje mesmo um dos seus conselheiros de política externa, Jon Finer, disse não ter informação sobre conversas entre Joe Biden e Li Qiang.
O G20 esteve reunido este fim de semana numa cimeira em Nova Deli, capital da Índia.
O G20 reúne as 19 economias mais desenvolvidas ou emergentes e a União Europeia. A União Africana passou a fazer parte do grupo desde sábado, não tendo sido ainda mencionada a alteração do nome para G21.
Em declarações aos jornalistas, em Hanói, o Presidente dos Estados Unidos considerou que a situação económica da China torna menos provável a invasão de Taiwan, a ilha cuja soberania Pequim reivindica e à qual Washington fornece uma grande quantidade de armas.
Durante a conferência de imprensa, Biden foi questionado sobre o abrandamento do crescimento económico da China e se este poderia levar o governo chinês a agir de forma mais agressiva em relação a Taiwan, chegando mesmo ao ponto de invadir a ilha.
“Não creio que isso faça com que a China invada Taiwan. Na verdade, pelo contrário, provavelmente não terá a mesma capacidade que tinha antes”, respondeu o Presidente dos Estados Unidos.
Taiwan vive sob a constante ameaça de uma invasão por parte da China, que considera a ilha como uma das suas províncias que quer devolver à sua pátria, se necessário pela força, mesmo que diga ser favorável a uma via pacífica.
Washington reconhece Pequim desde 1979, mas continua a ser o aliado mais forte de Taiwan e apoia o direito da ilha de decidir o seu próprio futuro.
Os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais intensificaram as chamadas passagens de “liberdade de navegação” de navios de guerra através do Estreito de Taiwan e do Mar da China Meridional, para reforçar que os dois são vias internacionais navegáveis, irritando Pequim.
O Estreito de Taiwan, com apenas 130 quilómetros no ponto mais próximo entra a ilha e o continente chinês, é o principal ponto de passagem das mercadorias da região para os mercados mundiais.
China e Taiwan são governadas separadamente desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949, mas Pequim considera a ilha democrática como uma das suas províncias.
A ilha, atualmente com 23 milhões de habitantes, vive autonomamente desde então, e a China ameaça tomá-la pela força se declarar a independência, o que consideraria uma quebra da situação nas últimas décadas.
Notabanca; 13.09.2023
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