EX-COMANDOS AFRICANOS SENTEM-SE ABANDONADOS E ARREPENDIDOS POR LUTAR CONTRA A GUINÉ-BISSAU
Os antigos comandos africanos das forças armadas portuguesas insurgiram-se contra o adido militar da Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau e dizem-se arrependidos por terem lutado contra o país que os viu nascer e sentem-se abandonados por Portugal.
Volvidos 49 anos, depois da revolução de 25 de abril, os ex-comandos africanos das forças armadas portuguesas que pertenciam à unidade de elite formada por um batalhão integrado no Regimento dos Comandos e que combateram os guerrilheiros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) na antiga Guiné Portuguesa, manifestaram o seu repúdio e exigiram do Estado Português o direito à nacionalidade, à pensão de sangue, a pensão por invalidez e uma “reforma condigna”, que inclua as viúvas, esposas, filhos e netos.
A revolução de 25 de abril de 1974, foi liderada pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), composto na sua maior parte por capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que tiveram o apoio de oficiais milicianos.
Segundo um documento consultado pelo nosso semanário, O Democrata, a primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de agosto de 1973. Uma nova reunião, a 9 de setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) deu origem ao Movimento das Forças Armadas.
EX-COMANDO: “LUTAMOS POR PORTUGAL E HOJE APUNHALARAM-NOS PELAS COSTAS”AS”
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Em entrevista ao jornal O Democrata por ocasião da celebração do 49º aniversário da revolução de 25 de abril em Portugal, Adulai Baldé, um dos ex-combatentes portugueses, disse que nunca abdicaram dos seus dinheiros.
“Quem deve, deve pagar a dívida. Lutamos a favor das forças armadas portuguesas contra os nossos irmãos. Exigimos que nos respeitem. Não éramos culpados porque estávamos sob dominação colonial. Prestamos serviço com determinação e coragem. Éramos, para Portugal, homens válidos, corajosos e habilidosos, mas hoje apunhalaram-nos pelas costas”, criticou.
Adulai Baldé responsabilizou o governo de Portugal por tudo que os antigos combatentes estão a passar e recomendou a Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau a criar um guichê específico para o atendimento dos antigos combatentes, viúvas, esposas e filhos.
O ex-militar disse que o maior perturbador do processo de antigos combatentes portugueses é o Adido Militar de Portugal na Guiné-Bissau, porque “enquanto entidade militar portuguesa tinha que estar permanentemente em contato e a acompanhar a situação dos ex-militares, mas não se tem preocupado com a nossa situação”.
Questionado sobre qual foi o engajamento do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo De Sousa, aquando da sua visita à Guiné-Bissau, Adulai Baldé frisou que os contatos neste sentido estão avançados, inclusive a Associação dos ex-combatentes das forças armadas portuguesas está a contar com a solidariedade de seis partidos políticos em Portugal, incluindo dois advogados, um em Bissau e outro em Portugal, bem como a Liga dos Antigos Combatentes em Portugal.
“Não vamos ficar de braços cruzados, apenas não fomos à embaixada fazer vigília neste dia de 25 de abril a pedido do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que já assumiu o engajamento de falar pessoalmente com o seu homólogo português”, assegurou.
Disse não ter ficado arrependido por ter ficado e lutado do lado português, porque foi obrigado a fazê-lo, mas sim arrependido por ter sido apunhalado por Portugal.
“Se soubéssemos que todos os nossos esforços seriam jogados fora por Portugal, não pegaríamos em armas para lutar a favor de Portugal”, afirmou, lembrando que tinham apenas duas opções, mas tinham que lutar de uma ou outra forma.
Revoltado com a atitude assumida por Portugal face à situação dos antigos combatentes portugueses, Adulai Baldé disse que o maior choque que já teve na sua vida foi o facto de terem sido abandonados pelo Estado português, não obstante Portugal ter assumido vários compromissos que não cumpriu.
“Perdemos muitos irmãos no assalto de 1970 à Guiné-Conacri, inclusive o meu irmão foi morto nesse assalto. A Guiné-Bissau estava controlada, mas a operação só fracassou porque internamente houve sabotagem. Resgatamos 35 portugueses sob risco e fogo cruzado e hoje em dia Portugal tem a coragem de apunhalar-nos pelas costas. A nossa sorte foi 14 de novembro, caso contrário ninguém de nós estaria aqui e agora a falar de 25 de abril e de abandono de Portugal, todos seriam fuzilados”, lamentou.
EX-ARTILHEIRO DAS FORÇAS PORTUGUESAS ACUSA PORTUGAL DE TRAIÇÃO
O Ex-artilheiro das forças armadas portuguesas na Guiné-Bissau, António Albino Gomes, acusou o Estado português de traição e de tê-los colocado numa situação de incerteza.
“Portugal é um país traiçoeiro. Colocou-nos numa situação de incerteza. Estamos sem país. Os nossos filhos não vão à escola e as viúvas dos nossos colegas que tombaram na operação de resgate na Guiné-Conacri estão a viver mal por traição de Portugal, porque era o que queria”, criticou.
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Na sua comunicação aos jornalistas por ocasião da comemoração do 49º aniversário da revolução portuguesa, de 25 de abril, o ex-combatente das forças armadas portuguesas disse que Portugal tem até dezembro do ano em curso para resolver as suas exigências, caso contrário, a associação moverá uma queixa crime contra o Estado Português no Tribunal Penal Internacional (TPI) para esclarecer os motivos que o levou a retirar-lhes a nacionalidade.
Dados indicam que neste momento estão inscritos na associação 17 mil ex-combatentes portugueses à espera de um reconhecimento digno de Portugal e do direito à nacionalidade e à pensão.
Notabanca, 01.05.2023
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