TENTATIVA DE GOLPE EM SÃO TOMÉ DEZENAS DE DETIDOS TRANSFERIDOS PARA QUARTEL DA POLÍCIA
Dezenas de detidos na sequência da “tentativa de golpe de Estado” ocorrida hoje de madrugada em São Tomé e Príncipe foram transferidos do quartel militar para as instalações da Polícia Judiciária e da Polícia Nacional.Os detidos, entre os quais se encontra o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, alegadamente acusado de ser um dos mandantes do ataque, foram transportados em três carrinhas militares, relataram à Lusa fontes ligadas ao processo.
Dado o elevado número de detidos, que as fontes não conseguiram precisar, os detidos foram repartidos pelas instalações da Polícia Judiciária e da Polícia Nacional, na capital são-tomense.
A transferência dos detidos ocorreu ao final da tarde, “por pressão da comunidade internacional, em especial por apelo das Nações Unidas no país, mas também da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Judiciária e mesmo dos bons ofícios da Presidência da República”, disse à Lusa uma fonte.
Os detidos deverão agora ser ouvidos pelas autoridades judiciais.
Nas instalações da Polícia Judiciária encontravam-se também hoje à tarde um membro do Banco Central e um membro do antigo partido de Delfim Neves, Partido da Convergência Democrática (PCD), além de outros dois oficiais militares, avançou uma testemunha.
Fonte judicial revelou à Lusa que foi aberto um inquérito e que as autoridades são-tomenses vão solicitar o apoio da Polícia Judiciária portuguesa para as investigações.
Durante a madrugada de hoje, quatro homens, civis, atacaram o quartel militar, o que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, descreveu como “uma tentativa de golpe de Estado”.
O ataque, que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, foi neutralizado pelas 06:00 locais (mesma hora em Lisboa), com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento no ataque.
Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arcélio Costa, que tinha sido levado pelos militares para o quartel às primeiras horas da manhã, disse, ao início da tarde, fonte ligada ao processo.
Ao início da manhã, os militares detiveram, nas suas respetivas casas, o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, atualmente deputado pelo movimento Basta, e Arlécio Costa, antigo oficial do ‘batalhão Búfalo’ que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.
Os assaltantes teriam atuado com a cumplicidade de militares no interior do quartel, tendo pelo menos três cabos sido detidos. No exterior, cerca de 12 homens aguardavam, em carrinhas, e alguns fugiram durante as trocas de tiros com os militares.
Os atacantes e os militares envolveram-se em confrontos, tendo o oficial de dia sido feito refém e ficado ferido com gravidade após agressões.
Em conferência de imprensa, cerca das 09:00, o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que assumiu o cargo há duas semanas, disse que a situação no país estava “calma e controlada” e elogiou a atuação das Forças Armadas, que defenderam o quartel "com profissionalismo".
O chefe do Governo disse ainda esperar que a justiça faça o seu trabalho e pediu “mão firme” para os responsáveis da tentativa de golpe, depois de ter anunciado a detenção de Delfim Neves e Arlécio Costa pelos militares, "na base de declarações do primeiro grupo de quatro [atacantes]".
Portugal e Cabo Verde já repudiaram o ataque.
Notabanca; 26.11.2022
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