quinta-feira, 22 de setembro de 2022

UNIÃO AFRICANA PEDE MISSÃO DE MEDIAÇÃO PARA TÉRMINO DA GUERRA NA UCRÂNIA

A União Africana pediu terça-feira uma missão de mediação de alto nível para pôr fim à guerra na Ucrânia, para a qual se disponibilizou para contribuir, avisando que África não quer ser palco de uma nova Guerra Fria.

"Apelamos à desescalada e à cessação das hostilidades na Ucrânia, por uma solução negociada, a fim de evitar o risco catastrófico de um conflito potencialmente mundial. A negociação e a discussão são as melhores armas de que dispomos para promover a paz. Lanço um apelo para a formação de uma missão de mediação de alto nível para qual a União Africana [UA] está disposta a dar o seu contributo", disse o Presidente do Senegal, Macky Sall, presidente em exercício da UA.

No seu discurso no debate na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, que terça-feira começou, o líder africano disse ter uma mensagem de África: "Vim dizer que África já suportou o suficiente do fardo da história. Que ela não quer ser o foco de uma nova Guerra Fria".

Segundo Sall, o continente quer ser antes "um centro de estabilidade e oportunidades, aberto a todos os seus parceiros, numa base mutuamente benéfica".

Reconhecendo que existe uma "África dos problemas", que precisa de ser pacificada e estabilizada, o dirigente senegalês preferiu sublinhar a "África das soluções", com 30 milhões de quilómetros quadrados, vastos recursos humanos, mais de 60 por cento das terras aráveis do mundo e riquezas minerais, florestais, hídricas e energéticas.

"Esta África de soluções deseja envolver-se com todos os seus parceiros (...) transcendendo o preconceito de que 'quem não está comigo está contra mim'", acrescentou.

Ao longo de um discurso de cerca de 15 minutos em que falou sempre em nome da UA, Sall manifestou o apoio da organização pan-africana ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

Lembrou que desde a anterior Assembleia-Geral das Nações Unidas "o mundo ficou mais perigoso e mais incerto", com a conjugação de alterações climáticas, perigos securitários e sanitários, além da guerra na Ucrânia.

Mas apelou ao Conselho de Segurança para que "trate da mesma maneira todas as ameaças à paz e à segurança internacional incluindo em África".

"O terrorismo que ganha terreno no continente não é apenas um problema africano, é uma ameaça global (...). Convidemos o Conselho a envolver-se connosco na luta contra o terrorismo em África, com mandatos mais adaptados e meios mais consequentes", disse.

Insistiu ainda na antiga reivindicação africana sobre a necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança e da inclusão da UA no seio do G20, "para que África possa finalmente ser representada onde se tomam decisões que afetam 1,4 mil milhões de africanos".

Macky Sall manifestou a preocupação da UA com o facto de a percepção de risco em África ser mais elevado do que o real e renovou a proposta da organização para que o grupo de resposta à crise mundial sobre alimentação, energia e finanças para que promova um diálogo construtivo para as agências de notação.

"Face à dimensão inédita da crise económica mundial, a União Africana reitera o seu apelo para a realocação parcial dos direitos especiais de saque (SDR, na sigla em inglês)" e da implementação da iniciativa do G20 para a suspensão do serviço da dívida (DSSI, na sigla em inglês).

Referiu-se ainda ao cancro como um "assassino silencioso" e apelou à mobilização para uma campanha da Agência Internacional de Energia Atómica para melhorar a capacidade dos países-membros africanos na luta contra o cancro através das tecnologias nucleares, como a imagiologia médica, a medicina nuclear e a radioterapia.

Sobre a conferência das partes da ONU sobre alterações climáticas (COP27), que decorre em Novembro no Egipto, Sall renovou o compromisso da UA com o acordo de Paris, apelando a um consenso para uma transição energética justa e equitativa.

"É legítimo, justo e equitativo que África, o continente mais atrasado no processo de industrialização e o menos poluente, explore os seus recursos disponíveis para ter energia básica, para melhorar a competitividade da sua economia e para alcançar o acesso universal à eletricidade", disse, lembrando que até hoje mais de 600 milhões de africanos ainda vivem sem eletricidade.

Insistiu ainda na necessidade de os países desenvolvidos cumprirem o compromisso há muito adiado de apoiar os países em desenvolvimento com 100 mil milhões de dólares por ano de financiamento de adaptação climática.

"Consideramos o financiamento da adaptação, não como ajuda, mas como contributo dos países desenvolvidos para uma parceria mundial solidária em contrapartida pelos esforços dos países em desenvolvimento para evitar os esquemas poluentes que mergulharam o planeta no atual estado de emergência climática", afirmou Macky Sall.

Notabanca; 22.09.2022

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