ENTRE O MITO O DEMÓNIO, O BEM E O MAL. ASSIM ARRANCOU A ELEIÇÃO MAIS POLARIZADA EM DÉCADAS NO BRASIL
O Brasil entrou oficialmente esta terça-feira, 16 de agosto, em campanha eleitoral com Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como protagonistas da disputa presidencial mais polarizada em décadas.O presidente Jair Bolsonaro, com 67 anos, discursou na mesma esquina em que foi esfaqueado na campanha de 2018, em Juiz de Fora, Minas Gerais: "A cidade onde renasci", disse na abertura de um discurso carregado de declarações patrióticas e alusões a Deus e à Bíblia.
Com um casaco preto fechado até o pescoço, Bolsonaro reforçou a sua promessa de lutar contra a inflação de dois dígitos, o aborto, as drogas e defender a propriedade privada, alertando para uma ameaça "comunista" caso perca as eleições.
"Mito, mito, mito!", cantaram centenas de apoiadores. A sua esposa, Michelle Bolsonaro, expressou ainda mais entusiasmo. A fervorosa evangélica, que Bolsonaro disse ser a pessoa mais importante naquele local, apresentou-se ativamente na pré-campanha.
Vestida com uma camisa amarela, Michelle convidou o público a rezar o Pai Nosso e comoveu a multidão, constatou a AFP.
Nestas eleições está em jogo "o nosso futuro, o futuro das nossas crianças, o futuro das coisas que a gente defende como certo, que é a família, a pátria, a maioria ou a totalidade das pessoas que estão aqui é temente a Deus, são religiosos", afirmou Márcio Bargiona, um polícia reformado, de 55 anos.
Lula volta às origens
O ex-presidente, que lidera as sondagens, visitou a fábrica de carros em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, onde se tornou líder sindical nos anos 1970 e que é o seu berço político.
"Foi aqui que tudo aconteceu na minha vida: foi aqui que aprendi a ser gente, foi aqui que adquiri consciência política e foi por causa de vocês que eu fui um bom presidente da Republica", discursou o líder do PT, com uma camisa branca, cercado por centenas de metalúrgicos.
Apesar dos seus 76 anos, Lula afirmou estar com "a energia de 30" e disse que voltará ao poder para "recuperar o país". Ao mesmo tempo, criticou Bolsonaro, que chamou de "genocida" e "negacionista" pela gestão da pandemia, que no Brasil já deixou mais de 680 mil mortos.
"Se tem alguém que é possuído pelo demónio, é Bolsonaro", acusou o ex-presidente, levando os apoiantes ao delírio.
"Lula é a esperança da volta de condições melhores para os brasileiros. Eu me identifico com ele como metalúrgico, ele representa o poder dos trabalhadores", disse à AFP o soldador Maurício Souza, de 48 anos, que recebeu o seu candidato a tocar trompete.
Disputa de legados
Lula, que recuperou os seus direitos políticos em 2021, após a anulação das suas condenações na Lava Jato, continua a liderar as sondagens, embora Bolsonaro pareça diminuir a distância.
Na segunda-feira, o instituto Ipec indicou que Lula tem 44% das intenções de voto na primeira volta, em 2 de outubro, contra 32% para Bolsonaro.
"Temos em 2022 a eleição presidencial mais polarizada desde a redemocratização. Isso porque é a primeira vez que teremos uma disputa de legados, entre um presidente e um ex-presidente", explicou à AFP Adriano Laureno, analista político da consultora Prospectiva, classificando esta eleição como a mais "polarizada" desde a redemocratização, em 1985.
Bolsonaro definiu a campanha como uma batalha entre "o bem e o mal", afirmando que a volta de Lula ao poder poderia significar a instalação do "comunismo" no Brasil.
Já Lula promete restaurar as conquistas sociais das classes mais vulneráveis que caracterizaram o seu governo.
A principal preocupação dos brasileiros, segundo as sondagens, é a situação económica, marcada nos últimos anos por altos níveis de desemprego e uma inflação crescente que enfraqueceu a popularidade de Bolsonaro.
Embora a tendência seja o presidente fortalecer a sua popularidade com os recentes cortes nos preços do combustível, o aumento dos apoios sociais e uma maior presença da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na campanha, a grande incógnita dos analistas é se há tempo para uma reviravolta eleitoral.
Mais de 156 milhões de brasileiros estão registrados para votar no dia 2 de outubro, a primeira volta de uma eleição em que também serão disputados cargos de deputados, senadores e governadores.
Voto eletrónico, um "orgulho nacional"
A pré-campanha foi marcada pelo constante questionamento de Bolsonaro - sem provas - sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrónica, levantando receios de que o presidente possa não reconhecer uma eventual derrota.
Bolsonaro e Lula encontraram-se à noite em Brasília, na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sentados quase cara a cara, Bolsonaro no pódio e Lula na primeira fila da plateia, os dois candidatos não trocaram uma palavra, pelo menos na frente das câmaras.
"Somos uma das maiores democracias do mundo (...) mas somos a única que conta e divulga os resultados no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional", disse Moraes, alvo frequente das críticas de Bolsonaro.
Notabanca; 17,08.2022
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