terça-feira, 26 de julho de 2022

IIº FÓRUM NACIONAL SOBRE SEGURANÇA JUSTIÇA E PAZ

𝐃𝐞𝐜𝐥𝐚𝐫𝐚çã𝐨 𝐝𝐞 𝐆𝐚𝐛ú! 

No âmbito do cumprimento da sua missão de promoção da paz, diálogo político e apoio à consolidação da Democracia e Estado de Direito, o Espaço de Concertação das Organizações da Sociedade Civil realizou entre os dias 23 e 24 de Julho de 2022, em Gabú, o segundo Fórum Nacional sobre Segurança, Justiça e Paz, com o apoio financeiro do PNUD através do PBF.

 Este encontro que congregou mais de 100 participantes, entre os quais, autoridades locais, oficiais das forças de defesa e segurança, líderes tradicionais e religiosos, organizações da sociedade civil, jovens e mulheres, tinha como objetivo, o estabelecimento de pontes de diálogo franco e aberto entre a população e as autoridades nacionais, com vista a criação de condições de segurança, justiça, combate a impunidade e consequente proteção dos direitos fundamentais e patrimoniais dos cidadãos. 

 

Depois de dois dias de intensos debates, grupos de trabalhos em torno das problemáticas de segurança, justiça e paz, os participantes identificaram vários fatores que ameaçam a convivência pacifica, os direitos humanos, a igualdade de género, a coesão nacional e o estado de direito na Guiné-Bissau, nomeadamente: 

 

1.     Defesa e Segurança: 

 

  1. Roubo massivo de gado;  
  2. Proliferação e consequente descontrolo das armas incluindo automáticas; 
  3. Comercialização e consumo de drogas sem mecanismos eficazes de controlo nas zonas fronteiriças 
  4. Elevado índice de impunidade no seio das diferentes corporações das forças de segurança, motivada pelo corporativismo e ausência de mecanismos eficazes de responsabilização disciplinar e criminal;  
  5. Insuficiência de meios materiais e humanos para o cabal cumprimento das missões das forças de defesa e segurança; 
  6. Ausência de mecanismos de controlo no processo de recrutamento dos agentes das forças de segurança; 
  7. Inexistência total de meios materiais aos Serviços de Proteção Civil de toda a província leste; 
  8.  Cobranças ilegais de taxas, nomeadamente de deslocações para a prestação de serviços operacionais à população, aplicação indevida das coimas, entre outras; 
  9. Falta de colaboração entre a população e as forças de segurança; 
  10. Interferências politicas na atuação das forças de segurança; 
  11. Insegurança e roubo sistemático de bens públicos, nomeadamente, cabos elétricos; 
  12. Conflitos permanentes entre criadores de gado e a população com perdas de vidas humanas; 
  13. Conflitos sistemáticos entre a população sobre a posse de terra, motivados pelo incumprimento da lei da terra;  
  14. Ausência de gabinetes de atendimento especifico de casos de violência baseada no género nas diferentes corporações das forças de segurança; 
  15. Falta de meios de transporte seguro na travessia do Rio Tchetche; 
  16. Ausência de mecanismos de controlo e de prestação de contas no seio das forças de segurança; 
  17. Degradação generalizada das estradas e consequente aumento de insegurança rodoviária. 
  18. Envolvimento de alguns efetivos das forças de segurança no roubo de motorizadas. 
  19. Proliferação dos postos de controlo da policia de transito nas estradas. 

     

2.     Sector da Justiça 

  

  1. Enormes obstáculos ao acesso à justiça consubstanciada na ausência de tribunais em todos os sectores de Gabú excepto a sede; 
  2. Disfuncionamento de tribunais em todos os sectores de Bafatá excepto Bambadinga; 
  3. Interferências e instrumentalização política da justiça; 
  4.  Incumprimento sistemático das decisões judiciais motivados pelas interferências politicas; 
  5. Corrupção generalizada no sistema judiciário;  
  6. Morosidade da justiça e consequente índice galopante da impunidade; 
  7. Disfuncionamento da Inspeção Judiciária e consequente descontrolo das atuações dos magistrados, juízes e funcionários judiciários;   
  8. Ausência das Brigadas da Polícia Judiciária nas regiões;   
  9. Ausência de estabelecimento prisional de alta segurança com capacidade de atender as demandas da justiça; 
  10. Letargia da justiça perante os crimes de natureza sexual nomeadamente, abusos e violência sexual. 

     

3.     Energia elétrica, água potável,  educação, custo de vida e Saúde pública  

 

  1. Manifesta insuficiência dos recursos humanos, nomeadamente médicos e enfermeiros;  
  2. Cobranças ilícitas de taxas;  
  3. Funcionamento deficiente do Bloco Operatório do Hospital Regional de Gabú; 
  4. Proliferação das Farmácias e consequente comercialização de medicamentos de qualidade duvidosa; 
  5. Cobranças ilegais de 50.000 (Cinquenta Mil Francos CFA) para o acesso aos sérvios de Ambulância nos casos de evacuação dos doentes; 
  6. Quase ausência da rede pública de fornecimento da energia elétrica ; 
  7. Clientelismo e instalação de redes de interesses mesquinhos nos negócios entre algumas pessoas afetadas ao estado e empresas privadas, sobre o fornecimento da energia elétrica; 
  8. Ausência completa da energia elétrica e água potável nos diferentes sectores das regiões de Bafatá e Gabú;   
  9. Descontrolo e aumento galopante dos preços dos produtos da primeira necessidade. 
  10. Disfuncionamento do sector da educação motivada pelas sucessivas greves e conflitos entre a o governo e as organizações sindicais; 

   

Perante os factos acima identificados os participantes do fórum sobre segurança, justiça e paz recomendam os seguintes: 

 

1.     Efetivação da segurança aos cidadãos:  

 

  1. Afetação de meios materiais e humanos às diferentes Esquadras da Polícia de Ordem Pública e da Guarda Nacional; 
  2. Institucionalização de mecanismos eficazes de controlo e prestação de contas no seio das diferentes corporações das forças de segurança; 
  3. Realização de novos recrutamentos com base em critérios legais e em estrita observância dos valores de mérito e integridade; 
  4. Criação de mecanismos eficazes de controlo de armas e munições do estado; 
  5. Erradicação do fenómeno de “auxiliares” no seio das corporações policiais; 
  6. Criação de escolas provinciais de formação contínua dos efetivos das forças de segurança;  
  7. Construção de esquadras “modelos” em todo o território nacional com especial enfoque no policiamento democrático com vista ao restabelecimento de confiança entre a população e as forças de segurança; 
  8. Criação de mecanismos de patrulhamento permanente das forças de segurança com vista a proteção da população e seus respetivos patrimónios; 
  9. Criação de mecanismos de identificação do gado bovinos de forma a combater o roubo; 
  10. Adopção de um plano especifico de combate ao roubo de gado; 
  11. Criação de mecanismos específicos para o combate ao tráfico de drogas e crime organizado transnacional, sobretudo nas zonas fronteiriças. 
  12. Redução dos postos de controlo da policia de transito e consequente combate às cobranças ilícitas. 
  13. Criação de um número verde de telefone para as denuncias de casos de violação dos direitos humanos e ataque aos patrimónios dos cidadãos 

     

2.     Funcionamento da justiça  

 

  1. Criação de condições para o funcionamento de todos os tribunais de sectores e consequente acesso efetivo dos cidadãos à justiça; 
  2. Descentralização da Polícia Judiciária e consequente abertura de brigadas nas regiões; 
  3. Criação de condições para o funcionamento eficaz da Inspeção judiciária, com vista ao combate à corrupção e improdutividade dos juízes e magistrados; 
  4.  Aprovação urgente de uma estratégia nacional abrangente de combate a impunidade no país; 
  5. Mobilização de meios financeiros para o funcionamento eficaz dos  Centros de Acesso à Justiça em todas as regiões do país; 
  6. Erradicação de cobranças ilícitas de deslocações dos magistrados; 
  7. Construção de um estabelecimento prisional de alta segurança e com maior capacidade na província leste; 

  

3.     Energia elétrica, água potável,  educação, custo de vida e Saúde pública  

 

  1. Aumento do número de médicos e enfermeiros nos estabelecimentos hospitalares das regiões de Bafatá e Gabú; 
  2. Criação de condições materiais e humanas para o funcionamento eficaz do Bloco Operatório de Gabú; 
  3. Criação das condições para o funcionamento eficaz da Inspeção Geral da Saúde; 
  4. Controlo eficaz do processo de aquisição e condições de comercialização dos medicamentos; 
  5. Erradicação das cobranças ilícitas no acesso aos serviços de Ambulâncias para a evacuação dos doentes;   
  6. Criação de condições para o funcionamento eficaz dos serviços de energia elétrica nas regiões de Bafatá e Gabú; 
  7. Criação de condições para o acesso à rede pública de fornecimento de água potável nos diferentes sectores; 
  8. Adopção de medidas com vista ao controlo dos preços de produtos de primeira necessidade; 
  9. Adopção de mecanismos urgentes tendentes ao funcionamento eficaz do setor educativo em todos os níveis. 

 

Para a concretização destes compromissos o Fórum sobre Segurança, Justiça e Paz delibera o seguinte: 

 

  1. Criação de uma Comissão de monitoramento e seguimento do cumprimento das recomendações constantes na presente Declaração;  
  2. Aumento de ações de lobby e advocacia a favor das politicas públicas que promovam a proteção dos direitos e patrimónios dos cidadãos; 
  3. Reforço de manismos de sensibilização das populações sobre os direitos humanos, exercício de cidadania e cultura de paz; 
  4. Reforçar a articulação com as diferentes instituições do estado em estrito respeito pelas atribuições e competências de cada uma das entidades; 
  5. Reforço da luta cívica de defesa dos valores do estado de direito, da democracia e da transparência na gestão da coisa pública; 
  6. Institucionalização de um Espaço de diálogo permanente entre as organizações da sociedade civil da província leste e respetivos governos locais; 
  7. Manifestar a sua solidariedade e total apoio ao povo guineense e da província leste em particular; 
  8. Exprimir a sua indignação perante o aumento de insegurança no país; 
  9. Solidarizar-se com as instituições religiosas cujos patrimónios foram roubados e vandalizados; 
  10. Exortar ao governo a criação de condições de segurança funcional aos cidadãos;. 

 

 

Feito em Gabú aos 24 dias do mês de julho de 2022 

 

O Fórum sobre Segurança, Justiça e Paz 

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