Uma faixa com a frase “União Europeia salva a democracia da Guiné-Bissau” marcou quinta-feira a entrega de uma massiva à delegação da União Europeia em Cabo Verde por parte de uma representação da comunidade guineense no país.
A entrega feita às 10H30
ao encarregado de negócios da UE, aconteceu, segundo o porta-voz da
representação dos guineenses na cidade da Praia, Paulo Nancassa, em simultâneo
com a entrega da massiva na sede da delegação da União Europeia, em Bruxelas, e
manifestação da diáspora daquele país na Europa.
“Esta massiva tem como
propósito manifestar a preocupação e o descontentamento dos guineenses face à
crise política que se vive na Guiné-Bissau, após a posse de Umaro Sissoco
Embaló como Presidente do país”, disse.
Segundo Paulo Nancassa,
depois das eleições e da posse do presidente, Guiné-Bissau continua a viver
“num impasse” que tem piorado a situação no país, deixando os “filhos da Guiné”
sem acesso à democracia e a direitos globais como qualquer outro povo.
A carta entregue à
representação da União Europeia no arquipélago e cujo teor que já tinha sido
entregue às Nações Unidas, de acordo com Paulo Nancassa, solicita intervenção
das organizações internacionais no sentido de exigirem ordem e cumprimento dos
direitos na Guiné-Bissau.
A massiva foi recebida
pelo encarregado do negócio da UE em cabo Verde, que prometeu fazer chegar as
preocupações dos guineenses a Bruxelas.
Umaro Sissoco Embaló
autoproclamou-se Presidente da Guiné-Bissau em Fevereiro e acabou por ser
reconhecido como vencedor das eleições pela CEDEAO, que tem mediado a crise
política no país, e restantes parceiros internacionais.
Após ter tomado posse, o
chefe de Estado demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, saído das
eleições legislativas de 2019, ganhas pelo PAIGC, e nomeou um outro executivo, liderado
por Nuno Nabian, líder da Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da
Guiné-Bissau (APU-PDGB), que assumiu o poder com o apoio das Forças Armadas do
país, que ocuparam as instituições do Estado.
O PAIGC venceu as
legislativas de Março de 2019, sem maioria, e fez um acordo de incidência
parlamentar com a APU-PDGB, Partido da Nova Democracia e União para a Mudança,
obtendo 54 dos 102 assentos no Parlamento.
Logo no início da
legislatura, o líder da APU-PDGB, Nuno Nabian, incompatibilizou-se com o PAIGC
e aliou-se ao Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), segunda
força política do país, com 27 deputados, e o Partido da Renovação Social, que
elegeu 21 deputados.
Os
manifestantes saíram de diferentes países da Europa (Portugal, Espanha, França,
Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Inglaterra...) e deslocaram-se à Bruxelas, onde decorreu
a manifestação.
Estão
inconformados com o facto de se ter reconhecido Umaro Sissoco Embaló, que
assumiu o poder em Fevereiro passado, e que foi, posteriormente, reconhecido
pela CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
Os
manifestantes apelavam ao respeito da "legalidade", utilizando
slogans como "golpe de Estado" ou "Governo narco-golpista"
e declaravam-se indignados com a atitude dos europeus nesta contenda
denunciando o papel que consideram dúbio de algumas potências regionais, caso
do Senegal, Níger, Nigéria e Gâmbia.
Flávio
Baticã Ferreira, um dos organizadores da manifestação disse que entregaram
desde Março cartas à Comissão Europeia para o conselho Europeu e o Parlamento
Europeu.
“Responderam
nos a dizer que nunca a União Europeia
reconheceria o Umaro Sissoco Embaló enquanto presidente da república enquanto o
Supremo Tribunal de Justiça da Guiné-Bissau não resolvesse o contencioso
eleitoral”, referiu. Quem financia essa força da CEDEAO [estacionada desde
2012] é a própria União Europeia. E a UE não pode continuar a financiar uma
força que não consegue resolver o problema do país”, referiu.
Ferreira
acrescentou que a Guiné-Bissau tornou-se num campo de ensaio das potências
regionais, e que hoje, praticamente, a
Guiné-Bissau não é um Estado soberano, “é dirigido, de longe, através do
Senegal, do Níger, da Nigéria e da própria Gâmbia".
Interrogado
sobre se, após a CEDEAO, mediadora para o país, ter reconhecido as novas
autoridades de Bissau, não seria normal que a União Europeia tomasse idêntica
posição Flávio Baticã Ferreira descartou tal cenário afirmando que "não é
normal por saber que há um contencioso eleitoral na Guiné-Bissau" e
"devem ajudar a reforçar as instituições democráticas dos Estados membros,
não a substituí-las".
Flávio
Baticã Ferreira, organizador principal do protesto, afirmava-se muito satisfeito
com a adesão ao movimento, e disse que entre
quarta e quinta-feira 3 dirigentes do movimento devem voltar a Bruxelas com a
perspectiva de se avistarem com o chefe da diplomacia Josep Borrell.
O
protesto de quinta-feira passou pela entrega de um documento às autoridades dos
27 acerca da situação política guineense.
"Fiquei
muito satisfeito. A polícia nos disse que temos mais de 1 000 pessoas, o
guineense da diáspora tem cada vez mais consciência de que tem que agir em
defesa do seu próprio país", destacou.
"Esperamos
que na próxima quarta ou quinta-feira que [Borrell] nos possa receber para
podermos explicar o que se passa na Guiné-Bissau e a posição que a diáspora
pretende que a União Europeia, enquanto parceiro principal da União Africana,
deve exercer no conflito guineense.
A
situação prestada se relaciona, entre outros, ao facto de o actual Presidente
da República, Umaro Sissoco Embaló ter assumido o poder sem que os protestos de
sua vitoria eleitoral pelo Domingos Simões Pereira tivesse uma decisão final do
Supremo Tribunal de Justiça.
Notabanca; 24.07.2020
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