Um médico do “Hospital
Nacional Simão Mendes”, principal estabelecimento sanitário da Guiné-Bissau,
onde estão internados doentes infectados com Covid-19, disse quinta-feira à
Lusa que todos os dias os profissionais da saúde estão a ser contaminados com a
doença.
Almame Sissé, médico dos
cuidados intensivos, mas que atualmente trabalha nos serviços da urgência,
precisou que vários técnicos do Simão Mendes deixaram de comparecer no hospital
por estarem infetados com a covid-19.
"Hoje, quando um técnico quer fazer
qualquer procedimento num doente, tem medo de tocar no doente. Todos os dias há
técnicos a contaminarem-se", disse Sissé.
Logo nos primeiros momentos em que as
autoridades anunciaram que a covid-19 tinha chegado à Guiné-Bissau, em finais
de março, alguns médicos e enfermeiros do Simão Mendes, por desconhecimento,
ficaram infetados quando deram assistência a um paciente, revelou o médico.
Almame Sissé disse que mais de 30
técnicos foram isolados em dois hotéis de Bissau, depois de recuperados alguns
ficaram em casa e outros, como o próprio, voltaram ao serviço.
O médico lamenta que volvidos mais de
dois meses desde que foram diagnosticados os primeiros casos da covid-19 na
Guiné-Bissau, ainda não haja "equipamentos indispensáveis" para os
profissionais do Simão Mendes.
"A nossa situação é triste. Não
podemos estar a tapar o céu com as mãos. Não há um mínimo de condições para
exercer no hospital. Vê-se muito pó no chão do hospital e sabe-se que o vírus
da covid-19 pode viver no chão", sublinhou Almame Sissé.
O médico notou que foram
disponibilizadas máscaras aos técnicos (médicos e enfermeiros) que tratam
diretamente com casos da covid-19, mas também enfatizou que alguns
profissionais chegam a usar a mesma máscara durante todo o dia, "porque
não há outra", disse.
Almame Sissé afirmou ser urgente
disponibilizar "pelo menos" mais máscaras, batas, avental, óculos e
viseiras sob pena, disse, de alguns profissionais deixaram de comparecer nos
serviços por receio de contaminação.
"Porque há doentes assintomáticos
que dão entrada noutros serviços, por exemplo no banco das urgências. A covid é
uma doença que engana", defende Sissé que antevê "um desastre"
no Simão Mendes, onde, refere, todos os técnicos acabam por ter contacto com os
doentes da covid.
A Guiné-Bissau registou desde março mais
de 1.300 infeções por covid-19, que já provocou oito vítimas mortais no país.
Em África, há 4.606 mortos confirmados
em mais de 162 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais
recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível global, segundo um balanço da
agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 385 mil
mortos e infetou mais de 6,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,8 milhões de doentes foram
considerados curados
Notabanca; 05.06.2020
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