1943 – 2020-Ernestina Silá "Titina”, nasceu a 1 de abril de 1943, em Cadique MBitna, regiao de Tombali, Guiné-Bissau. Era filha de Adriano Silá e de Eva Gomes Araújo. Combatente pela independência da Guiné-Bissau do domínio português. É lembrada, com Amílcar Cabral e Domingos Ramos, como as mais famosas figuras da luta pela independência da Guiné-Bissau. Em sua homenagem, e às outras mulheres que combateram pela independência do país, foi instituída a data da sua morte, 30 de janeiro, o "Dia Nacional da Mulher Guineense".
Titina, mobilizada por Nino Vieira, se juntou aos combatentes africanos do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde – PAIGC ainda muito jovem, aos 18 anos, e se tornou pela sua inteligência e coragem, a ponta de lança do movimento que tinha como um dos organizadores Amílcar Cabral.
Em 1963, Titina Silá já se encontrava na Guiné-Conacri e depois na frente sul, juntamente com Teodora Inácia Gomes, deslocando-se em agosto desse ano à União Soviética para fazer um estágio político. Voltou pouco depois à Guiné-Bissau, onde deu formação à guerrilha, regressando à União Soviética em 1964 para estudar Enfermagem, juntamente com as Camaradas Cármen Pereira, Francisca Pereira, Teodora Inácia Gomes e outras, notabilizando durante o estudo.
Devidos as suas capacidades de organização e liderança, se tornou uma das figuras chaves da revolução guineense. Era ela quem dirigia no Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias na travessia do rio Cacheu, de vital importância para o abastecimento das tropas de resistência.
No ano de 1973 o líder do PAIGC Amílcar Cabral é assassinado em Guiné-Conakri, país vizinho, Titina Silá perdeu desta forma o seu mentor e amigo, assim como os povos de Guiné-Bissau e cabo-verde que perderam o seu lider, o homem e irmão que lutou e morreu para que todos eles pudessem viver em liberdade, uma semana depois do trágico acontecimento no dia 30 janeiro ainda abalada com o sentimento de perda, Titina parte chefiando um grupo de combatentes numa canôa com o propósito de assistir o funeral do companheiro de luta Amílcar Cabral a Guiné-Conakri quando se viu presa numa emboscada montada pelas tropas portuguesas no rio Farim, no Norte da Guiné Bissau, e a seguir morta por afogamento. Num único mês Guiné-Bissau teve a dor de uma mãe que perde os filhos, duas figuras africanas exemplos de justiça e igualdade entre os seres humanos, pessoas simples e afáveis.
Titina dedicou os seus 30 anos de vida na luta por todos estes valores e principalmente pelos direitos dum povo decidir o seu próprio destino no pedaço de terra que Deus lhe deu, com esperança de um dia ver seu povo libertar-se das correntes da exploração do império português.
Muitos concordarão que a Titina como lutadora incansável e com a famosa capacidade de organização e liderança que tantos elogios e admiração lhe valeram deve ter partido com sensação do dever não cumprido ou pelo menos não completo, mas o que ela não sabia foi que os anos de luta nas matas da Guiné e o sacrifício na gélida União Soviética em prol da formação dos jovens e do partido PAIGC dariam frutos mais tarde, com a vitória dos combatentes guineenses e a expulsão dos portugueses mais tarde.
Titina teve a sua quota bem paga numa vitória que apesar de ser de todos os intervenientes como ela numa guerra pelo que é correto também foi a vitória prometida pelo Amílcar Cabral ao seu povo.
Tal como muitas outras combatentes do PAIGC, que deram a vida pela independência do país, também Ernestina não viveu o suficiente para ver este sonho concretizado.
Ao exemplo das grandes mulheres que a antecederam desde Grécia Antiga ao Egipto, Titina Silá lutou e morreu pelo que acreditava e amava, onde quer que esteja ela reunido com o seu amigo, irmão e mentor Amílcar Cabral, é provável que estarão a travar outras guerras lado a lado pelo que é o mais correto, porque uma lutadora será sempre uma lutadora.
Os restos mortais da heroína Titina Silá no Memorial aos Heróis da Pátria, na Fortaleza de Amura, em Bissau.
Nos primeiros anos da independência da Guiné-Bissau, na segunda metade da década de 1970, foi dado o seu nome a uma fábrica de compota, fornecendo sumos feitos com frutas de produção nacional, inaugurada na ilha de Bolama por iniciativa do presidente Luís Cabral. Após o Golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980, a fábrica "Titina Silá" foi encerrada pelo novo regime, alegando que não gerava rendimento suficiente que a permitisse se autossustentar. Em 2017 a fábrica havia ruído, estando os seus equipamentos inutilizados, e o local transformado em esconderijo de animais.
Em sua memória, no dia 30 de janeiro de 2003, quando se passavam exatamente trinta anos sobre a sua morte, foi instituído o dia 30 de janeiro como o "Dia Nacional da Mulher Guineense", dedicado às mulheres da Guiné-Bissau.
Gloria eterna a Titina Silá
Notabaca, 30. 01.2020
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