Secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores
da Guiné (UNTG), Júlio António Mendonça, denunciou que o chefe do governo
guineense, Aristides Gomes, pagou salários de mais de 200 milhões de francos
CFA a sua própria pessoa, alegando que o Estado da Guiné-Bissau tem dívidas com
ele.
O sindicalista fez a denúncia durante uma entrevista
exclusiva ao semanário “O Democrata” para falar da greve de três dias decretada
na função pública e que termina esta quinta-feira, 09 de janeiro de 2020.
“O atual
primeiro-ministro é mais importante do que os professores?”, Questiona, para de
seguida deixar a posição dos sindicatos em como não podem deixar o país ficar
refém de pessoas que não têm noção do que é o Estado, pensando apenas viver bem
e deixar a maioria do povo a morrer de fome.
“O mais
caricato é que até este momento os funcionários públicos não receberam os
salários do mês de dezembro de 2019. Que tipo de governação é essa!?”,
Questiona.
“Nós,
enquanto legítimos representantes dos trabalhadores vamos defendê-los. Portanto
essa greve é para os trabalhadores ganharem a noção de que se não lutarem nunca
serão dignificados, porque muitas pessoas não lutaram para dignificar a classe
trabalhadora e hoje estão a pagar a culpa deles, recebendo uma pensão no valor
de 19 mil Francos CFA, o que é injusto”, reclamou.
Júlio
Mendonça referiu que o governo deve aproveitar o memorando de
entendimento como “guia de orientação para a atuação governativa”, e não
desviar-se da regra de jogo, enganando as pessoas que vai realizar concurso
público na função pública, enquanto coloca pessoas na função pública sem
concurso público.
“Em nenhuma
circunstância a lei permite que um ministro selecione, arbitrariamente, pessoas
nas tabancas para colocá-las na função pública, como está a acontecer no
ministério da justiça”, denunciou.
Para Júlio
António Mendonça, o país não podia parar devido ao processo eleitoral, porque
os trabalhadores públicos precisam trabalhar e produzir receitas para depois
beneficiar, não tomar dinheiro do erário público para utilizá-lo na campanha
eleitoral, “como aconteceu nestas eleições, onde o Estado foi banalizado a
todos os níveis”, criticou sindicalista.
“Esse
comportamento só pode acontecer na Guiné-Bissau, devido a
disfuncionalidade das instituições judiciais. Neste momento, a Polícia
Judiciária devia começar a fazer o seu trabalho, perceber a utilização do
dinheiro financiado aos candidatos para campanha eleitoral como também o
Ministério Público deve iniciar investigações sobre esse assunto. O Tribunal de
Contas deve começar a fazer auditorias de contas do Estado em todos os
ministérios para saber de onde veio o dinheiro utilizado na campanha eleitoral.
Infelizmente não vai acontecer e os trabalhadores vão pagar a culpa, portanto
vamos lutar até ao fim”, salientou.
Em reação ao
ano laboral transato, 2019, Mendonça concluiu que foi péssimo, porque, “nada
melhorou em termos de condições de vida dos trabalhadores”. Ou seja,
“tudo continua a piorar, mesmo com o reajuste salarial, portanto o objetivo
dessa reivindicação que começou terça-feira, é o aumento salarial na função
pública, como também a definição do salário mínimo nacional que irá
abranger todas as instituições estatais e privadas que operam na Guiné-Bissau”.
Segundo
Júlio Mendonça, a Guiné-Bissau dispõe de condições necessárias para fazer
aumento salarial para satisfazer a vontade dos trabalhadores, que merecem
ter uma vida económica saudável.
“As
campanhas eleitorais das legislativas de março e presidenciais de
novembro e dezembro de 2019 são prova evidente de que há dinheiro no país, porque
os partidos políticos não têm empresas que produzem lucros, portanto é o
dinheiro que tiram do cofre de Estado e cada vez que chegam ao poder usam
esse dinheiro para criar patrimónios dos seus partidos, o que
justifica os fundos avultados que têm”, denunciou.
Júlio
Mendonça referiu ainda que, antes das duas organizações sindicais tomarem
a decisão de avançar para a greve, advertiram, o atual executivo liderado
por Aristides Gomes sobre o incumprimento do memorando assinado entre os
sindicatos e o governo, mas o governo não reagiu. Assim, os dois secretariados
decidiram avançar com a paralisação para fazer valer os seus direitos, porque
“não é justo dar benefício de dúvida a um executivo que continua a brincar
com a vida dos trabalhadores”.
Notabanca;
09.01.2020
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