sexta-feira, 1 de março de 2019

A SEGUIR A AMÍLCAR CABRAL, “NINO” VIEIRA É FIGURA MAIS EMBLEMÁTICA DA GUINÉ-BISSAU 
O analista político guineense Rui Landim afirmou hoje que, a seguir a Amílcar Cabral, o general João Bernardo "Nino" Vieira é a figura mais emblemática da Guiné-Bissau e o seu assassínio, há 10 anos, não deve continuar impune.
"É escandaloso e revoltante e anti-pátria. Não se pode compreender que até hoje não haja uma reabilitação política do general João Bernardo Vieira, que depois de Amílcar Cabral, é a figura mais emblemática da luta de libertação da Guiné", disse à Lusa Rui Landim.

O politólogo falava à Lusa por ocasião do 10.º aniversário do assassínio do antigo Presidente guineense Nino Vieira, a 02 de março de 2009, horas depois de o chefe das Forças Armadas guineense, general Tagme Na Waie, também ter sido morto.
"Estamos a falar de uma realidade e quando não é assim significa que o país não se reencontrou e tem grandes dificuldades de reencontrar-se e consequentemente será difícil reerguer-se das cinzas do conflito de 1998 e que arrasta o país nesta onda. É preciso que os guineenses tomem consciência disso", lamentou Rui Landim.
Rui Landim considerou também que o "fatídico 02 de março de 2009" deixou uma "marca indelével" nos guineenses e na situação política do país.
"Podemos mostrar que depois desta data o país nunca mais se reencontrou até hoje em termos de estabilidade e capital de confiança entre protagonistas", salientou.
O analista sublinhou que é necessário que se "faça justiça" e lembrou que para a "justiça nunca passa tempo".
"Um país reconciliado é um país onde se faz justiça, onde a impunidade não tem lugar. Só combatendo a impunidade se pode ter perdão e reconciliação. Não é a escamotear, a violentar a justiça que se ganha estabilidade, se ganha paz, se ganha confiança, se ganha a reconciliação", disse.
Insistindo na necessidade de justiça e que a Guiné-Bissau não merece que depois da "epopeia da libertação nacional" se chegue ao ponto de fazer da "impunidade um modo de vida", Rui Landim voltou a recordar que "Nino" Vieira foi um dos protagonistas da criação do Estado independente da Guiné-Bissau.
"Foi o Nino Vieira quem proclamou a República da Guiné-Bissau. O seu assassínio não pode ser impune. Não estamos a falar da necessidade de fazer caça às bruxas, estamos a falar de justiça, de dar justiça aos filhos e porque não ao povo da Guiné-Bissau que o elegeu e estava em pleno mandato popular que lhe foi confiado numas eleições livres, justas e transparentes [em 2005]", afirmou.
Para Rui Landim, após a morte de "Nino" Vieira nunca houve um "inquérito digno desse nome".
"Há uma rutura do capital de confiança que desapareceu entre os diversos atores políticos e esta situação não pode contribuir para a reconciliação e reaproximação da família guineense, porque depois do assassínio do general seguiram-se outros que também ficaram impunes e ninguém foi responsabilizado", disse.
Após os assassínios do chefe das Forças Armadas e do Presidente guineense João Bernardo "Nino" Vieira, em 2009, uma série de figuras políticas do país foram também assassinadas ou espancadas.
Até hoje os autores dos assassínios são desconhecidos e ninguém foi condenado.
Notabanca; 01.03.2019

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