O setor da saúde pública guineense termina o ano 2017 com má notícia.
“[REPORTAGEM] Farmácia do maior estabelecimento
hospitalar do país, Simão Mendes, vende medicamentos inúteis comprados das mãos
dos indianos.
A revelação é feita pelo próprio diretor daquele hospital de referência nacional, Francisco Aleluia Lopes, que acrescentou ainda que as pessoas que trabalham naquele serviço não são técnicos farmacêuticos e, por isso, não conseguem fazer os inventários sobre as necessidades da farmácia.
A revelação é feita pelo próprio diretor daquele hospital de referência nacional, Francisco Aleluia Lopes, que acrescentou ainda que as pessoas que trabalham naquele serviço não são técnicos farmacêuticos e, por isso, não conseguem fazer os inventários sobre as necessidades da farmácia.
O Democrata
soube ainda que a farmácia, às vezes, leva até um mês sem ter paracetamol na
sua prateleira e outros medicamentos, porque, de acordo com os funcionários
daquele serviço abordados pela repórter, a boa parte dos medicamentos fica
estocada na Central de Compra de Medicamentos Essenciais (CECOME). O desfalque
dos medicamentos na CECOME obriga a direção do serviço da farmácia a recorrer
aos terceiros fornecedores para poder cobrir a lacuna, mas, mesmo assim, o
preço de medicamentos não altera, conta uma fonte ligada ao mesmo serviço.
Sobre o
assunto, uma equipa de repórteres do semanário “O Democrata” esteve no local, à
entrada da farmácia do HNSM, e pude assistir por pouco tempo pessoas que
entravam e saiam sem medicamentos e nem produtos curativos receitados pelos
médicos. Por exemplo, uma senhora que devia ser submetido à uma pequena
cirurgia na mão, não conseguiu compressa nem luvas para que pudesse ser tratada
nos serviços da urgência, porque a farmácia não tinha esses materiais.
Segundo a
informação recolhida, a farmácia conta com oito (08) técnicos farmacêuticos,
três (3) serventes, um (1) jardineiro, quatro (4) elementos do pessoal
administrativo. Os (8) técnicos farmacêuticos estão divididos em duas equipas
para funcionamento de dois turnos, ou seja, doze (12) horas por equipa.
Os
atendimentos são feitos através de diferentes receitas de consultorias de
diferentes serviços nomeadamente, consultas externas, urgência, do próprio hospital
assim como dos outros hospitais e centros de saúde, o que torna a capacidade de
atendimento do estabelecimento inferior em relação ao número de pessoas que
recorrem à farmácia.
Domingos
Sami, diretor-adjunto da Farmácia do hospital Nacional Simão Mendes, esclarece,
neste sentido, que quem gere medicamentos antipalúdicos é o programa de Luta
Contra o Paludismo e nega haver falta de medicamentos antipalúdicos, com
exceção de ‘Quartem’ que não é vendido na farmácia.
“Faz-se
muita confusão entre os medicamentos do programa de luta contra paludismo dados
gratuitamente com alguns critérios e rigorosidade, mas também acabam
rapidamente”, sublinha, esclarecendo que para as crianças de zero aos cinco
anos e mulheres grávidas, há organizações que responsabilizam dessas em termos
de fornecimento de medicamentos, kits de cesarianas, nos quais a maternidade
faz a requisição semanal dos medicamentos e materiais através do serviço
social.
Contudo,
mostra que apesar desta particularidade, a direção da farmácia é responsável
pela inventariação dos medicamentos e produtos para a oferta. Segundo Domingos
Sami, os medicamentos mais procurados naquele serviço são paracetamol, cloreto
de sódio, metro injetável e vaginal, cipro frassace, ferro, multivitamina,
ceftazona, norvagina comprimido.
SERVIÇOS DA
FARMÁCIA RESPONSABILIZA A DIREÇÃO DO HOSPITAL PELO DESFALQUE DE MEDICAMENTOS
Domingos
Sami revela que existem dificuldades de relacionamento entre a direção da
farmácia e a direção-geral do hospital. Explica que as duas entidades funcionam
mediante uma hierarquia em que a da farmácia obedece à direção-geral. Mas, para
a compra de medicamentos, Domingos Sami lembra que fazem requisição de acordo
com o stock que têm. Enviam a proposta para a direção só depois de ter a sua
aprovação é que fazem a compra, mas não havendo comunicação entre as partes
acabam por ficar de mãos atadas, por isso responsabiliza a direção-geral do
hospital pela falta de medicamentos.
“Por
exemplo, o que aconteceu com a última requisição que ficou quase um mês sem
aprovação ou qualquer resposta da direção provocou automaticamente a ruptura de
medicamentos”, afirmou, acusando o diretor de querer desempenhar todas as
funções, incluindo as do diretor clínico do Hospital.
“Os
trabalhos técnicos são do diretor clínico e os trabalhos administrativos são
reservados ao diretor-geral, mas infelizmente tudo é acumulado por uma só
pessoa. Talvez seja por isso é que temos tido atraso e na última requisição
contamos com o aval do ministro não do diretor porque não conseguimos a
sua autorização”, revelou.
FARMÁCIA
DISPÕE APENAS DE ÚNICO BALCÃO E UMA CAIXA DE MEDICAMENTOS
A farmácia
funciona doravante com único balcão e uma única caixa para a venda dos
medicamentos, revelou Diretor Adjunto da Farmácia do hospital Nacional Simão
Mendes, em entrevista a O Democrata. Domingos Sami justifica que o fato deve-se
ao número reduzido de profissionais, ou seja, técnicos farmacêuticos que, por
várias circunstâncias, acabam por trabalhar 12 horas por dia, “o que não ajuda
na dinamização do serviço prestado aos doentes”.
Segundo
Domingos Sami, o ideal seria ter três equipas de farmacêuticos assim cada
equipa trabalharia, pelo menos, oito horas por dia. Neste sentido, diz
acreditar, contudo, que afluência das pessoas à farmácia do HNSM tenha muito a
ver com o serviço que os técnicos prestam, sobretudo porque os medicamentos são
vendidos a um preço acessível comparativamente as outras farmácias.
“Não
atendemos apenas pacientes que recorrem ao nosso hospital. Atendemos também
doentes de diferentes hospitais, ou seja, receitas de outros centros de saúde e
clínicas privadas. Porque vendemo-los a um preço barato. Por exemplo, vendemos
uma carteira de paracetamol a 100 francos CFA e nos outros postos, uma carteira
é vendida a quinhentos 500 francos CFA”, disse Domingos Sami.
Domingos
Sami lamenta, no entanto, a falta de técnicos para o bom funcionamento da
farmácia, porque, segundo disse, os balconistas farmacêuticos vendem
medicamentos e preenchem relatórios de venda ao mesmo tempo para poder melhorar
a balança mensal, “por isso queremos informatização de dados, mas infelizmente
tudo aqui é feito à mão”.
CECOME
JUSTIFICA DESFALQUE DE MEDICAMENTOS POR FALTA DE PAGAMENTO DÍVIDAS POR
PARTE DE FARMÁCIAS
Diretor da
Central Compra de Medicamentos Essenciais (CECOME) responsabiliza as farmácias
públicas do país pela incapacidade financeira da CECOME na compra de
medicamentos, porque não pagam as dívidas que contraem com a central, fato que
segundo disse acaba por resultar no desfalque dos medicamentos.
Marciano
Vicente Vaz explicou em entrevista a O Democrata que a instituição que dirige
enfrenta uma situação muito difícil atualmente, sendo que no momento não tem
capacidade de compra de medicamentos para abastecer as farmácias, sobretudo as
farmácias públicas e nega que em nenhuma circunstância a CECOME é responsável
pela insuficiência de medicamentos nos hospitais, centros de saúde e clínicas
do país, particularmente nos públicos.
Segundo o
diretor da CECOME, os clientes fazem levantamento de medicamentos sem problema,
mas no momento de pagamento faz-se muito barulho. Contudo, sublinha que por uma
questão de boa-fé, às vezes emprestam os medicamentos aos clientes sem
pagamento imediato e só no final do tempo determinado é que recebem o
pagamento, mas em certos momentos não é o caso. E quando as farmácias públicas
não pagam, a CECOME entra automaticamente em ruptura, porque acontece que não
têm outra reserva para dar reviravolta à situação, porque tanto o Estado quanto
às outras organizações não governamentais não financiam a CECOME.
“Já fizemos
a encomenda de compra dos medicamentos no estrangeiro, mas não temos ainda
dinheiro para que essa encomenda se efetive. Portanto, estamos conscientes de
que os medicamentos estão a fazer a falta”, reconhece.
A CECOME e
uma estrutura estatal com a própria autonomia administrativa e financeira
incumbida de fazer ‘Stock’ e distribuição (compra e venda) dos medicamentos
próprios assim como dos programas nomeadamente, de luta contra paludismo,
Tuberculose e Sida. Os medicamentos são ofertados de acordo com as normas de
distribuição dos fornecedores dados de três em três meses para todos os
hospitais públicos do país e os programas.
A Central
tem as suas instalações em todas as regiões e faz distribuição de medicamentos
através dessas estruturas para todos os hospitais ao nível de todo o país.
Atualmente, conta com 42 (quarenta e dois) funcionários nomeadamente,
farmacêuticos, condutores, serventes, seguranças. Tem armazéns frios, máximo de
4 graus de temperatura, nos quais são conservados vacinas e outros reagentes.
Tem ainda outro armazém normal até 25 graus de temperatura.
Para além do
grupo da administração, a CECOME tem também um grupo de farmacêuticos que gerem
a qualidade dos medicamentos e são estes, os responsáveis pelos armazéns.
A Central
tem a capacidade de ‘Stock’ no mínimo com a duração de seis meses, enquanto
espera pela nova encomenda. Mas, dada a insuficiência financeira, neste
momento a CECOME não tem a capacidade financeira para fazer a compra de
medicamentos nem por um mês e nem se quer de estocagem consegue ter, mas diz
acreditar que no dia em que voltar a ter controlo da situação vai poder cumprir
com os critérios.
Marciano
Vicente Vaz revela, no entanto, que há onze meses como diretor da CECOME, nunca
conheceu momentos bons, ou seja, desde a sua entrada a situação sempre foi
difícil, por isso não definiu período em que tudo será ultrapassado, mas, mesmo
assim, garante que estão a ser feitos trabalhos em equipa para conseguir
sustentar a sua autonomia, revelando que justamente é neste sentido que estão a
tentar fechar parcerias de investimento.
Em termos de
segurança, disse que apenas em Bafatá, leste do país, aconteceu duas vezes
roubo e arrombamento do armazém. Autores continuam em fuga, apenas alguns
suspeitos estão a ser investigados para apurar quem são os presumíveis autores
e conduzi-los à justiça, logo que forem declarados culpados.
O diretor da
CECOME teve ainda tempo de detalhar em pormenores quais os efeitos de um
medicamento fora de prazo, explicando que avariam, por isso aconselha as
pessoas a não consumirem qualquer que seja produto fora de prazo. Relativamente
a casos relacionados com os medicamentos, nota que os medicamentos fora de
prazo podem transforma-se em venenos se consumidos fora de prazo ou com a má
conservação, isto é, pode matar se estiver com princípios ativos, ressalvando
sempre que não é aconselhável consumir medicamentos ou qualquer produto fora de
prazo ou com a má conservação.
Marciano Vicente
Vaz não nega que sua instituição ten
ha lidado com medicamentos fora de prazo, mas esclarece “sempre que isso acontece, são incinerados de acordo com as exigências farmacêuticas”.
DIRETOR DE
HOSPITAL ACUSA SERVIÇO DE FARMÁCIA DE NEGOCIAR MEDICAMENTOS PARA TIRAR GANHOS
PESSOAIS
Reagindo à
falta de colaboração da parte de direção do hospital lamentada pelos serviços
de farmácia, o diretor do hospital Simão Mendes, Francisco Aleluia Lopes,
explicou que o serviço da farmácia limita-se apenas a comprar os medicamentos
da ‘Farmácia Comunitária’ que segundo ele, não tem nada a ver com o trabalho do
serviço da urgência daquele estabelecimento hospitalar.
“Se o
[diretor de farmácia] perguntar dos medicamentos para a urgência do hospital,
não têm! Eu não vou assinar nenhuma requisição em que não figuram medicamentos
para a urgência, não vou autorizar essas compras. Farmácia não tem medicamentos
essenciais precisados para a urgência do hospital, apenas compra xaropes,
paracetamol e comprimido amoxilina”, disse o responsável do hospital que,
entretanto, acusou os responsáveis do serviço da farmácia de se interessarem
mais pelo dinheiro e não pela prestação do serviço de qualidade.
Revelou
ainda que elementos da farmácia ganham um puco de percentagem em dinheiro nas
negociações com os fornecedores de medicamentos, tendo assegurado que não está
lá para permitir procedimentos anormais.
“Não é nada
de burocracia que alega, mas sim é a questão de transparência na gestão da
coisa pública. Requisitam dinheiro para a compra dos medicamentos, mas se
houver a situação de urgência, as pessoas são obrigadas a irem buscar
medicamentos nas outras farmácias, porque a farmácia do hospital não tem esses
medicamentos”, notou o médico de profissão, que aproveitou a ocasião para
apelar ao serviço de farmácia que apresente requisições que solicitou e que
tenham sido negadas por ele ou que não assinou.
“Pedi-lhes
para fazerem um inventário sobre medicamentos ou materiais disponíveis e o que
falta, mas infelizmente até agora não conseguiram fazer nada! Não são técnicos
de área, portanto não têm capacidade de fazer inventários bem como de fazer
funcionar a farmácia. Para fazer funcionar a farmácia é preciso ter
medicamentos de emergência médica. Temos medicamentos que recebemos através de
uma doação que são para emergência, mas a farmácia não tem esses medicamentos,
portanto é impossível trabalhar neste sentido. Perguntei pessoalmente, por meio
de uma investigação, de preços de medicamentos de boa qualidade cheguei à
conclusão que realmente são mais baratos do que aquilo que se compra na CECOME
e dos Indianos, mas em termos de qualidade, os medicamentos de indianos são
inúteis”, revelo,” ao Democrata.
Perante este
ato vergonhoso, aonde estão os responsáveis do Ministério da Saúde Pública para
minimizar o sofrimento do povo.
Notabanca;
24.12.2017
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