PROTESTOS “BLOCK EVERYTHING” PARALISAM FRANÇA: 300 DETENÇÕES MACRON ENTRE ESPADA E PAREDE
As principais cidades francesas
vivem esta quarta-feira um novo dia de tensão com os protestos do movimento
“Block Everything”, que levou milhares de pessoas às ruas em contestação contra
o presidente Emmanuel Macron, a elite política e os planos de cortes
orçamentais do governo.
De acordo com a Reuters, manifestantes bloquearam estradas, ergueram barricadas em chamas e confrontaram-se com a polícia em Paris, Nantes, Rennes e Montpellier, entre outras localidades. Em resposta, as autoridades mobilizaram mais de 80 mil agentes de segurança em todo o país. Só na capital francesa foram detidas cerca de 200 pessoas, elevando para quase 300 o total de detenções a nível nacional.
Em Paris, jovens estudantes juntaram-se
em massa às manifestações. Perto da Gare du Nord, centenas entoaram cânticos
contra Macron e exibiram cartazes com mensagens como “A República da elite
rica”. “Viemos fazer barulho. Já não aguentamos mais, queremos outro tipo de
governo”, afirmou à Reuters a estudante de 17 anos Emma Meguerditchian, da
Sorbonne.
O movimento, que nasceu em maio nas
redes sociais entre grupos de direita, foi rapidamente apropriado pela esquerda
e extrema-esquerda, tornando-se numa expressão transversal de descontentamento
social. Muitos comparam a mobilização atual aos “Coletes Amarelos” de 2018-2019,
que também abalaram a presidência de Macron.
As manifestações surgem num momento
delicado para o governo: Sébastien Lecornu tomou posse esta quarta-feira como
novo primeiro-ministro, depois da queda do anterior executivo devido à
contestação em torno de cortes orçamentais avaliados em 44 mil milhões de
euros. França enfrenta um défice quase o dobro do limite europeu de 3% e uma
dívida pública equivalente a 114% do PIB.
Em Nantes, pneus e caixotes de lixo
arderam em bloqueios de estrada; em Rennes, um autocarro foi incendiado; e em
Montpellier, a polícia disparou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes
que ergueram barricadas num grande cruzamento. Em Paris, bicicletas e caixotes
foram incendiados e barricadas montadas à porta de escolas.
Apesar dos confrontos em vários pontos,
muitos protestos decorreram de forma pacífica. Para o sociólogo Antoine
Bristielle, da Fundação Jean Jaurès, a atual onda de contestação distingue-se
dos Coletes Amarelos pela sua demografia: “Na altura, eram sobretudo
trabalhadores e reformados. Agora, é uma geração mais jovem, com uma visão de
mundo assente em mais justiça social, menos desigualdade e um sistema político
diferente”.
Até ao momento, de acordo com o
Ministério do Interior, citado pelo jornal Le Monde, as manifestações contam com 175.000
participantes em França até o final da tarde. Já a Confederação Geral do
Trabalho (CGT) afirma que já estão na rua 250.000 manifestantes.
A CGT acredita que a estes protestos contaram com amplo
apoio em diversos setores, incluindo dezenas de milhares de grevistas em
hospitais, pelo menos 10.000 grevistas no Ministério das Finanças, 25% dos
grevistas na SNCF e dezenas de salas de espetáculos, museus e serviços públicos
culturais afetados.

Notabanca; 11.09.2025

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