quinta-feira, 11 de setembro de 2025

PROTESTOS “BLOCK EVERYTHING” PARALISAM FRANÇA: 300 DETENÇÕES MACRON  ENTRE ESPADA E PAREDE

As principais cidades francesas vivem esta quarta-feira um novo dia de tensão com os protestos do movimento “Block Everything”, que levou milhares de pessoas às ruas em contestação contra o presidente Emmanuel Macron, a elite política e os planos de cortes orçamentais do governo.

De acordo com a Reuters, manifestantes bloquearam estradas, ergueram barricadas em chamas e confrontaram-se com a polícia em Paris, Nantes, Rennes e Montpellier, entre outras localidades. Em resposta, as autoridades mobilizaram mais de 80 mil agentes de segurança em todo o país. Só na capital francesa foram detidas cerca de 200 pessoas, elevando para quase 300 o total de detenções a nível nacional.

Em Paris, jovens estudantes juntaram-se em massa às manifestações. Perto da Gare du Nord, centenas entoaram cânticos contra Macron e exibiram cartazes com mensagens como “A República da elite rica”. “Viemos fazer barulho. Já não aguentamos mais, queremos outro tipo de governo”, afirmou à Reuters a estudante de 17 anos Emma Meguerditchian, da Sorbonne.

O movimento, que nasceu em maio nas redes sociais entre grupos de direita, foi rapidamente apropriado pela esquerda e extrema-esquerda, tornando-se numa expressão transversal de descontentamento social. Muitos comparam a mobilização atual aos “Coletes Amarelos” de 2018-2019, que também abalaram a presidência de Macron.

As manifestações surgem num momento delicado para o governo: Sébastien Lecornu tomou posse esta quarta-feira como novo primeiro-ministro, depois da queda do anterior executivo devido à contestação em torno de cortes orçamentais avaliados em 44 mil milhões de euros. França enfrenta um défice quase o dobro do limite europeu de 3% e uma dívida pública equivalente a 114% do PIB.

Em Nantes, pneus e caixotes de lixo arderam em bloqueios de estrada; em Rennes, um autocarro foi incendiado; e em Montpellier, a polícia disparou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que ergueram barricadas num grande cruzamento. Em Paris, bicicletas e caixotes foram incendiados e barricadas montadas à porta de escolas.

Apesar dos confrontos em vários pontos, muitos protestos decorreram de forma pacífica. Para o sociólogo Antoine Bristielle, da Fundação Jean Jaurès, a atual onda de contestação distingue-se dos Coletes Amarelos pela sua demografia: “Na altura, eram sobretudo trabalhadores e reformados. Agora, é uma geração mais jovem, com uma visão de mundo assente em mais justiça social, menos desigualdade e um sistema político diferente”.

Até ao momento, de acordo com o Ministério do Interior, citado pelo jornal Le Monde, as manifestações contam com 175.000 participantes em França até o final da tarde. Já a Confederação Geral do Trabalho (CGT) afirma que já estão na rua 250.000 manifestantes.

A CGT acredita que a estes protestos contaram com amplo apoio em diversos setores, incluindo dezenas de milhares de grevistas em hospitais, pelo menos 10.000 grevistas no Ministério das Finanças, 25% dos grevistas na SNCF e dezenas de salas de espetáculos, museus e serviços públicos culturais afetados.

Notabanca; 11.09.2025 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário