O QUE LEVOU BOLSONARO À PRISÃO DE 27 ANOS E TRÊS MESES?
O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi condenado
na quinta-feira por todos os crimes de que estava acusado. A condenação surge
após anos de investigação sobre ações que procuraram desacreditar o sistema
eleitoral e impedir a posse de Luiz Lula da Silva, eleito em 2022.
O ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, foi esta quinta-feira condenado por todos os crimes de que estava acusado, numa decisão tomada pela maioria dos juízes da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
A
pena, fixada em 27 anos e três meses, foi atenuada tendo em conta a idade
avançada do ex-presidente. Do total, 24 anos e nove meses correspondem a
reclusão, dois anos e seis meses a detenção, acrescendo ainda o pagamento de
uma multa durante 124 dias. Por cada dia, Jair Bolsonaro terá de pagar o valor
de dois salários mínimos, o que resultará numa soma de aproximadamente 376,4
mil reais (cerca de 60 mil euros).
O
voto decisivo partiu da ministra Cármen Lúcia, a única mulher entre os cinco
juízes da Primeira Turma. Cristiano Zanin foi o último a pronunciar-se.
O
resultado ditou uma condenação por 4 votos a 1, não apenas para Bolsonaro, mas
também para outros sete réus envolvidos no processo.
JAIR BOLSONARO
CONDENADO POR TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO. PENA DE 27 ANOS E TRÊS MESES DE
PRISÃO
Para
compreender como se chegou a este desfecho, é necessário recuar alguns anos. Em
2021, a condenação que agora se confirma tinha sido rejeitada pelo então
presidente Jair Bolsonaro com uma confiança quase inabalável, durante um
encontro com líderes evangélicos no município de Goiânia.
“Estar
preso, estar morto ou a vitória” disse Bolsonaro, afastando de imediato a
primeira opção.
“Podem
ter a certeza de que a primeira alternativa não existe... Deus colocou-me aqui,
e só Deus me tira daqui", afirmou, citado pela Agência Pública.
O
QUE LEVOU BOLSONARO A SER CONDENADO?
Em
2022, Lula da Silva enfrentou Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do
Brasil, numa campanha marcada por intensa polarização, com uma diferença de 2,1
milhões de votos. Assim, Bolsonaro tornou-se o primeiro presidente a não
conseguir ser reeleito, desde que a reeleição imediata existe no Brasil.
Após
a vitória de Lula, que Bolsonaro se recusou a reconhecer, seguidores do
ex-presidente começaram a organizar protestos por todo o país. Desde o dia
seguinte às eleições, surgiram apelos a uma intervenção militar que impedisse a
posse do novo chefe de Estado.
Bolsonaro
alimentou teorias falsas sobre fraude eleitoral e incentivou manifestações em
frente a quartéis, criando um clima de instabilidade e desconfiança. Surgiram
também indícios de que o ex-presidente poderia ter participado em planos para
permanecer no poder mesmo após a derrota.
A
tensão atingiu o auge a 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiantes
radicais invadiram e destruíram instalações do Supremo Tribunal Federal, do
Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, em Brasília. A ação constituiu uma
tentativa violenta de impedir a posse de Lula da Silva e reverter os resultados
das eleições, num ataque sem precedentes à democracia brasileira.
O
ataque foi motivado pelas falsas alegações de fraude nas eleições de 2022 e
teve como objetivo intimidar as instituições democráticas.
Os
manifestantes vandalizaram paredes, destruíram móveis e equipamentos e
obrigaram à evacuação de funcionários e autoridades, deixando o país em estado
de alerta e levando à mobilização de forças federais para restaurar a
segurança.
O
episódio resultou em prisões imediatas de líderes do movimento e gerou ampla
repercussão internacional, sendo comparado à invasão do Capitólio nos Estados
Unidos em 2021.
Em
novembro de 2024, a Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro por tentativa de
golpe de Estado, detalhando que o ex-presidente teria articulado planos para
impedir a posse de Lula, incluindo conspirações contra a vida do próprio
presidente e do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O
inquérito revelou a existência de documentos, reuniões e contactos entre
militares e civis com o objetivo de subverter a ordem democrática, bem como a
instalação de um “gabinete paralelo” para coordenar ações violentas. O
indiciamento evidenciou a gravidade das ameaças à democracia no Brasil e
reforçou o conflito de Bolsonaro com as instituições.
AS
PROVAS-CHAVE QUE LEVARAM À CONDENAÇÃO DE BOLSONARO E MAIS SETE RÉUS
Durante
o julgamento foram utilizadas várias provas que levaram à condenação dos réus
por crimes como tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do
Estado democrático de direito e organização criminosa armada.
Segundo
o procurador-geral da República, Paulo Gonet, citado pelo UOL, o grupo de réus
"documentou quase a totalidade" de suas ações, entre mensagens,
manuscritos, planilhas e gravações, "tornando ainda mais perceptível a
materialidade delitiva".
ALÉM DE BOLSONARO, SÃO ELES:
·
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência
Brasileira de Inteligência;
·
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
·
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
·
Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de
Segurança Institucional;
·
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
·
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da
Defesa;
·
Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa
Civil de Bolsonaro
"[A
PGR] fez prova cabal de que o grupo, liderado por Jair Messias Bolsonaro,
composto por figuras chaves do governo, das Forças Armadas e de órgãos de
inteligência, desenvolveu e implementou um plano progressivo e sistemático de
ataque às instituições democráticas", afirmou a juíza do STF Cármen Lúcia,
durante o seu voto.
Entre
os principais elementos recolhidos pela Polícia Federal e pelo Ministério
Público estão várias declarações de Bolsonaro contra as urnas eletrónicas, bem
como a “minuta do golpe”, uma proposta de decreto para instaurar o estado de
defesa, encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
"A
denúncia não se baseou em conjecturas ou suposições frágeis. Os próprios
integrantes da organização criminosa fizeram questão de documentar quase todas
as fases da empreitada", afirmou o Procurador Geral da República, Paulo
Gonet.
Entre
as provas relacionadas com as urnas eletrónicas destacam-se uma transmissão em
direto de Bolsonaro, em julho de 2021, na qual questionava o sistema de
votação, outra transmissão ao vivo, em julho de 2022, durante um encontro com
embaixadores, em que voltou a pôr em causa o sistema eleitoral, e ainda
manuscritos e arquivos digitais que apontam para uma tentativa de “desacreditar
reiteradamente” as urnas eletrónicas.
Relativamente
à tentativa de golpe de Estado, as provas incluem mensagens, planilhas e
registos de reuniões que apontam para o “manejo indevido das forças de
segurança pública, especialmente da Polícia Rodoviária Federal, no segundo
turno das eleições” de 2022. Uma convocação do Alto Comando do Exército para
impedir a posse do governo Lula, em janeiro de 2023, e várias versões da
“minuta do golpe”, encontradas na casa do ex-ministro da Justiça Anderson
Torres, na sede do PL e no smartphone de Mauro Cid.
Entre
os documentos apreendidos estão ainda o “Punhal Verde Amarelo”, do general
Mário Fernandes, impresso no Palácio do Planalto, que descrevia ações para
assassinar autoridades como o ministro do STF Alexandre de Moraes, o “Copa
2022”, prevendo atentados com lança-granadas e fuzis em Brasília e São Paulo e
a “Operação Luneta”, encontrada num pendrive do tenente-coronel Hélio Ferreira
Lima, com planos para o golpe.
Entre
as provas está também a “Operação 142”, descoberta na sede do Partido Liberal,
que indicava que Lula não subiria “a rampa”, numa referência ao artigo 142 da
Constituição, que regulamenta o papel das Forças Armadas.
As
defesas dos réus contestaram de várias formas as provas apresentadas pelo
Ministério Público. Alegaram cerceamento do direito de defesa, afirmando não
ter tido tempo suficiente para analisar o vasto material apreendido pela
Polícia Federal, que incluía telemóveis, computadores e documentos.
A defesa de Bolsonaro
afirmou que o ex-presidente foi arrastado aos acontecimentos de 8 de janeiro,
sem negar os documentos. Os advogados de generais como Heleno e Braga Netto
contestaram a autenticidade de manuscritos e “prints” utilizados como prova,
defendendo que não havia indícios de que esses materiais tivessem sido
compartilhados ou utilizados para qualquer ação prática.
Notabanca; 12.09.2025

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