LIGA DENUNCIA DETENÇÃO DE MILITARES E CIVIL NAS INSTALAÇÕES DO MINISTÉRIO DO INTERIOR
A Liga Guineense dos
Direitos Humanos (LGDH) denunciou a detenção de mais de uma dezena de militares
e um civil, atualmente encarcerados no Ministério do Interior, sem que tenham
sido apresentadas publicamente as motivações que justificam as detenções.
A denúncia foi feita por Bubacar Turé, presidente da LGDH, durante uma entrevista ao jornal O Democrata, onde abordou o estado dos direitos humanos e a igualdade de género na Guiné-Bissau. Turé criticou o facto de os detidos no âmbito do alegado golpe de Estado de 1 de fevereiro de 2022 continuarem presos sem avanços judiciais significativos.
Desde 15 de janeiro de
2024, as autoridades suspenderam a liberdade de manifestação, o que, segundo
Turé, agrava ainda mais o clima de repressão e violação das liberdades
fundamentais no país.
Situação dos direitos
humanos é “caótica e preocupante”
Bubacar
Turé descreveu o panorama dos direitos humanos na Guiné-Bissau como “muito
caótico”, denunciando um recuo nas liberdades cívicas, políticas e sociais.
Entre as práticas apontadas, incluem-se detenções arbitrárias, restrições à
liberdade de imprensa e de expressão, e casos de tortura , disse O Democrata.
Em 2024, segundo dados
da Liga, mais de 100 pessoas foram detidas de forma arbitrária. Turé destacou
também as graves deficiências no setor da saúde, com falta de pessoal médico e
laboratórios, resultando em mortes evitáveis. Na educação, as constantes greves
e a ausência de infraestruturas têm deixado milhares de crianças fora do
sistema de ensino.
O responsável da LGDH
alertou ainda para o “sequestro” do setor da justiça pelo poder político,
enfraquecendo a confiança nas instituições e comprometendo os direitos dos
cidadãos. Turé denunciou igualmente o agravamento da pobreza, o aumento do
custo de vida e a deterioração das condições de vida da população.
Aumento da violência e
casos chocantes envolvendo crianças
O presidente da LGDH
revelou a sua preocupação com o crescimento da violência baseada no género e
com casos misteriosos de infanticídio. Entre março e junho de 2025, foram
registadas cinco mortes de crianças em circunstâncias alarmantes, incluindo
casos em São Domingos, Sul, Norte e Bissorã, que continuam por esclarecer.
Turé apelou às
autoridades para que ajam em conformidade com a Constituição e com os
princípios do Estado de Direito democrático. “A lei deve ser a base de todas as
ações governamentais”, defendeu, instando o poder político a abandonar práticas
autoritárias, garantir a independência dos tribunais e assegurar políticas
públicas eficazes contra a pobreza e a corrupção.
Desigualdade de género:
uma realidade persistente
Durante a entrevista,
Bubacar Turé lamentou que o papel da mulher continue a ser desvalorizado pela
sociedade e pelo Estado guineense. Afirmou que a igualdade de género é um
direito humano essencial, que deve ser promovido por todos os sectores da
sociedade.
Criticou a
sub-representação feminina nas estruturas de poder: entre os 102 deputados da Assembleia
Nacional Popular, apenas 11 são mulheres; no Governo, o número de mulheres não
ultrapassa meia dúzia; e nas forças de segurança, são menos de mil.
“A Constituição
reconhece a igualdade entre homens e mulheres, mas na prática essa igualdade
não existe”, denunciou. Para a LGDH, esta realidade representa uma violação dos
direitos humanos e compromete o desenvolvimento sustentável e a consolidação da
paz e da democracia no país.
Turé defendeu a revisão
das leis nacionais, incluindo a Lei da Paridade, para que o seu cumprimento
seja obrigatório. “Sem igualdade de género, não pode haver democracia, Estado
de Direito, nem progresso”, sublinhou.
Ação junto das Nações
Unidas
A LGDH anunciou que irá
acionar mecanismos internacionais, junto das Nações Unidas, para garantir o
respeito pelos direitos humanos na Guiné-Bissau, nomeadamente a liberdade de
imprensa. O caso recente da agressão ao jornalista Waldir Araújo, delegado da
RDP-África em Bissau, foi citado como um exemplo grave da deterioração do
ambiente de liberdade no país.
“A Liga não se calará.
Já estivemos duas vezes em Genebra para denunciar a situação e continuaremos a
fazê-lo até que os direitos humanos sejam plenamente respeitados”, garantiu
Bubacar Turé.
Notabanca; 04.08.2025

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