EXPORTAÇÃO DE PEIXE DA GUINÉ-BISSAU VALE MAIS QUE AS VENDAS DA CASTANHA DE CAJU
Na análise ao setor pesqueiro e às implicações para os indicadores macroeconómicos da Guiné-Bissau, os economistas do FMI apontam que “a produção pesqueira industrial é significativa” neste país lusófono africano e detalha que “o volume das capturas na Zona Económica Exclusiva atingiu cerca de 167 mil toneladas por ano nos últimos cinco anos”, no seguimento da reativação do acordo de pesca com a União Europeia, em 2014.O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que as
exportações de peixe da Guiné-Bissau estão significativamente
sub-representadas, valendo mais do que as vendas de caju, e influenciando
decisivamente indicadores como o PIB e a dívida.
“O domínio acentuado das exportações de caju, como é
comummente percecionado, não representa adequadamente a verdadeira situação da
diversificação económica na Guiné-Bissau”, lê-se numa nota técnica de
enquadramento para o mais recente relatório de análise do país, datado deste
mês, assinada pelos economistas Nour Bouzouita, Yugo Koshima e Babacar Sarr.
Na análise ao setor pesqueiro e às implicações para os
indicadores macroeconómicos da Guiné-Bissau, os economistas do FMI apontam que
“a produção pesqueira industrial é significativa” neste país lusófono africano
e detalha que “o volume das capturas na Zona Económica Exclusiva atingiu cerca
de 167 mil toneladas por ano nos últimos cinco anos”, no seguimento da
reativação do acordo de pesca com a União Europeia, em 2014.
“Utilizando os preços de desembarque do peixe nos
portos portugueses obtidos pelo EUROSTAT, estima-se que o valor das capturas
seja de 310 milhões de euros por ano, em média, nos últimos cinco anos, muito
superior ao valor das exportações de caju, que ascendeu a 201 milhões de euros
por ano no mesmo período”, acrescenta o FMI.
Contrariando a perceção geral de que o caju é o
principal motor do crescimento económico da Guiné-Bissau, a análise do FMI
mostra que “se todas as capturas dos barcos de pesca industrial fossem
registadas como exportações oficiais da Guiné-Bissau, teriam acrescentado 20,8%
ao PIB por ano, em média, nos últimos cinco anos, mais do que as exportações de
castanha de caju, que representaram 13,4% do PIB”.
Isto, salientam, “alteraria drasticamente o panorama
dos principais indicadores macroeconómicos”, como o saldo da balança corrente,
que passaria a apresentar um excedente significativo em todos esses anos.
Em 2022, por exemplo, o PIB nominal seria reajustado
em 20%, o que, por seu turno, reduziria o rácio da dívida pública de 80,7% para
67,1% do PIB nesse ano, com potenciais implicações significativas nas escolhas
dos investidores internacionais.
Na nota técnica, os analistas do departamento africano
do FMI explicam que a exportação de peixe da Guiné-Bissau está “severamente
sub-representada” por falta de atribuição da origem do peixe.
“Os relatórios das contrapartes [dos países que
compram o peixe pescado nas águas da Guiné-Bissau] incluem um volume
significativo de importações de peixe da Guiné-Bissau, que não são registadas
nos dados oficiais de exportação das autoridades; se as exportações de peixe
fossem incluídas, a quota-parte do caju ficaria limitada a 65% do total das
exportações”, lê-se no artigo consultado pela Lusa.
As exportações de peixe da Guiné-Bissau seriam “pelo
menos o dobro das registadas nos dados oficiais se as exportações das capturas
dos barcos de pesca industrial fossem formalizadas na Guiné-Bissau”, ao invés
de serem contabilizadas “noutros países da região, de onde o peixe guineense é
enviado para os destinos finais na Europa e na Ásia”.
O FMI afirma também que vários países ‘escondem’ a
verdadeira origem do pescado por a Guiné-Bissau não ter a certificação da União
Europeia relativa a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (IUU), o
que fez com que em 2023 mais de 85% das capturas não estejam nos relatórios dos
países compradores, “tornando-se invisíveis nos dados do comércio internacional”.
O peixe da Guiné-Bissau “ainda não obteve a
certificação de qualidade necessária para exportar para a UE, o que suscita
sérias preocupações em matéria de IUU se um país terceiro importar peixe da
Guiné-Bissau e o reexportar para a UE, sendo suscetível de motivar os
compradores dos países terceiros a não declarar as importações de peixe da
Guiné-Bissau, ocultando a sua origem”, alerta o FMI.
Notabanca; 20.07.2025

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