OPERAÇÃO “TORRE DE CONTROLO”: PJ FAZ BUSCAS AO ESTADO-MAIOR DA FORÇA AÉREA E À ANAC POR CORRUPÇÃO
A Polícia Judiciária está,
esta quinta-feira, a realizar uma grande operação de buscas relacionadas com
uma investigação a alegadas práticas de cartelização na contratação de meios
aéreos para o combate aos incêndios.
A informação foi avançada pelo canal televisivo NOW, que revela que um dos alvos das buscas é o Gabinete Coordenador de Missão no Âmbito dos Incêndios Rurais, que está instalado no Estado-Maior da Força Aérea.
Em comunicado a PJ esclareceu que as investigações estão a ser feitas
através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, em inquérito titulado pelo
DCIAP. Foram desencadeados o cumprimento a 28 mandados de busca e apreensão em
domicílios, sedes de sociedades comerciais e de contabilidade e, ainda, em
organismos públicos, nos distritos de Lisboa, Beja, Faro, Castelo Branco, Porto
e Bragança.
"Em causa estão factos suscetíveis de integrar os crimes corrupção
ativa e passiva, burla qualificada, abuso de poder, tráfico de influência,
associação criminosa e de fraude fiscal qualificada, através de uma complexa
relação, estabelecida pelo menos desde 2022, entre várias sociedades
comerciais, sediadas em Portugal, e que têm vindo a controlar a participação
nos concursos públicos no âmbito do combate aos incêndios rurais em Portugal,
no valor de cerca de 100 milhões de euros", refere a autoridade.
Os mandados de busca e apreensão decorreram em domicílios e sociedades
comerciais e de contabilidade e em organismos públicos, nos distritos de
Lisboa, Beja, Faro, Castelo Branco, Porto e Bragança.
Segundo a nota, estas sociedades comerciais sediadas em Portugal, que
faziam parte de uma “complexa rede” estabelecida pelo menos desde 2022, têm
vindo a controlar a participação nos concursos públicos no âmbito do combate
aos incêndios rurais em Portugal, no valor de cerca de 100 milhões de euros.
"Estes concursos públicos incidem na aquisição de serviços de
operação, manutenção e gestão da aeronavegabilidade dos meios aéreos próprios
do Estado, dedicados exclusivamente ao Dispositivo Especial de Combate a
Incêndios Rurais (DECIR), com a intenção de que o Estado português fique com
carência de meios aéreos e, dessa forma, se sujeite aos subsequentes preços
mais elevados destas sociedades comerciais", acrescentam.
A PJ esclarece que a operação se denomina “Torre de Controlo” e foram
constituídas arguidas várias pessoas singulares e coletivas.
Na operação participaram 140 inspetores e 45 especialistas de polícia
científica da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística e da Unidade de
Perícia Tecnológica e Informática da PJ, além da participação de sete
magistrados do Ministério Público, cinco elementos do Núcleo de Apoio Técnico
da PGR e cinco elementos da Autoridade da Concorrência. As investigações irão
agora continuar.
Entretanto, já ao fim da manhã, a Força Aérea confirmou, em comunicado, que
elementos do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) do
Ministério Público se encontram nas instalações do Estado-Maior da Força Aérea,
em Alfragide. Dizem ainda que "desde o primeiro momento, a Força Aérea
está a colaborar ativamente com o DCIAP, promovendo todo o apoio às necessárias
diligências".
Ao que o NOW apurou, a investigação suspeita da existência de um cartel
que, em resumo, dividia entre si os contratos públicos de aluguer de
helicópteros para o combate aos incêndios. Empresas como a Helibravo, HTA
Helicópteros, Heliportugal e Helifly são também alvos das buscas, assim como a
Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), a entidade reguladora do setor da
aviação.
Recorde-se que a contratação de meios aéreos para o combate aos incêndios
rurais, estabelecida anualmente no chamado DECIR (Dispositivo Especial de
Combate a Incêndios Rurais), passou, a partir de 2018, a estar centralizada no
Gabinete Coordenador de Missão, que funciona junto da Força Aérea.
A Autoridade da Concorrência (AdC) anunciou hoje também ter participado nas
buscas: “A Autoridade da Concorrência confirma a participação em diligências de
busca e apreensão da Polícia Judiciária, justificadas por suspeitas de
corrupção e cartelização em concursos públicos de aquisição de meios aéreos de
combate a incêndios”, lê-se num comunicado divulgado hoje pelo regulador.
Segundo adianta, os elementos da AdC “estão a participar nas diligências em
quatro localizações empresariais do Norte, Grande Lisboa e Algarve”.
“A colaboração entre as duas entidades, AdC e PJ, justifica-se pela
existência de investigações paralelas, ambas sujeitas a segredo de justiça”,
precisa.
De acordo com o regulador, a sua participação na investigação está
relacionada com “suspeitas de conluio entre empresas nos procedimentos de
contratação pública para fornecimento de meios aéreos de combate a incêndios”.
Notabanca; 29.05.2025

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