“SOU A PESSOA MAIS PROCURADA! O OBJETIVO É PRENDER E TORTURAREM-ME NO MINISTÉRIO DO INTERIOR”-Diz Bubacar Turé
O Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé, afirmou que a situação de ameaças e tentativas de sequestro que tem enfrentado permanece inalterada. Neste contexto, declarou: “Sou a pessoa mais procurada neste momento”, assegurando que o objetivo do regime é claro, “prender e levar-me ao Ministério do Interior para ser submetido às sessões de tortura”.Bubacar Turé, ativista de direitos humanos e especialista em gênero,
fez estas afirmações na entrevista [15 de abril de 2025] por escrito ao
semanário O Democrata, por meio das plataformas sociais, para falar da sua
situação de segurança e das ameaças que tem vindo a sofrer e das ameaças contra
a sua família, como também debruçar sobre as denúncias feitas e particularmente
falar dos dados avançados em como todas as pessoas submetidas ao tratamento de
hemodiálises morreram.
Conforme O Democrata, o ativista social afirmou na entrevista que as suas declarações não
têm rigorosamente nada de crime, serviram apenas de pretexto para ajustarem
contas com ele.
“Há tempo que soube que existem planos concretos contra mim. O discurso foi
e continuar a ser: este rapaz é um malcriado, está ao serviço dos partidos da
oposição, tem ultrapassado a linha vermelha, tem de ser travado. Tenho recebido
estas ameaças através de vários canais”, revelou, acrescentando que não quer
falar mais sobre o assunto de tratamento de hemodiálises, “porque acredito que
piamente que serei processado e chamado a responder na justiça. Nesta sede,
irei depor e dizer as minhas verdades…”
“Eu não sou covarde, não sou fugitivo da justiça, sou um homem responsável
e disposto a colaborar com a justiça. Se na verdade querem a justiça e punir-me
nos termos da lei, conhecem os procedimentos. O meu veemente apelo é o
seguinte: Parem de procurar-me como um criminoso perigoso à monte, processem-me
no Ministério Público ou na Polícia Judiciária, irei responder imediatamente.
Notifiquem os meus advogados e entreguem o mandado de detenção à PJ”, disse,
assegurando que “a minha fuga não é à justiça, é uma fuga legitima à tortura e
espancamentos”.
Turé revelou no passado dia 10 do mês em curso,
durante a abertura do seminário de restituição de jornalistas, que a
liga detém informações segundo as quais praticamente todas as pessoas que foram
submetidas ao tratamento de hemodiálise na Guiné-Bissau morreram,
reafirmando que, enquanto uma organização defensora dos direitos humanos,
a Liga vai continuar a denunciar e acompanhar esses problemas.
Para além de fazer duras críticas à situação do sistema de saúde nacional,
questionou na sua comunicação, se essas mortes terão a ver com um nexo de
causalidade de falta de preparação dos técnicos dos serviços de hemodiálise ou
não, uma inquietação que o moveu a desfiar os jornalistas a investigarem estas
e mais outras situações à volta do sistema nacional e dos direitos
humanos.
O Democrata (OD): Qual é a sua situação
neste momento em termos de segurança? Sente-se seguro, onde quer que esteja, ou
mesmo assim tem recebido ameaças de detenção ou rapto?
Bubacar Turé (BT): A minha situação
mantem-se na mesma, sou a pessoa mais procurada neste momento. O aparato de
viaturas das forças de segurança com dezenas de homens armados, outros a
paisana no porto de Bissau no dia 13 de abril, as buscas efetuadas pela Guarda
Nacional no Hotel Ponta Anchaca em Rubane – Bubaque, as buscas nas viaturas que
saem de Buba sul do país, provam claramente o que já disse.
O Objetivo é claro, prender e conduzirem-me ao ministério do Interior para
ser submetido às sessões de torturas.
OD: Como tem acompanhado a situação da sua
família? Acredita que ela também está insegura ou ameaçada?
BT: A minha família está muito
apreensiva naturalmente, desde Bissau até em Lisboa. Eu tenho mantido sereno
com tudo aquilo que passa comigo neste momento, mas confesso que não consegui
conter lágrimas quando me informaram que a minha filha de 10 anos teve acesso
ao telefone da sua tia que tinha o Facebook aberto, ela muito inteligente, leu
umas noticias sobre a minha situação, entrou em pânico e começou a fazer
pressão para saber onde está o seu pai, o que é que se passa com ele. Foi
emocionante para mim este relato.
OD: Quando os seis elementos das forças de
segurança, vestidos à paisana, foram perguntar por si na sua casa, você estava
em casa ou tinha saído antes?
BT: Não estava. Eu sai de Bissau com
colegas na sexta-feira dia 11 de abril, para uma missão no interior do
país. No dia 12, quando estava a tomar o pequeno almoço, a minha esposa
telefonou-me, respondi e disse-lhe para aguardar-me uns minutos, ela respondeu
dizendo-me que era urgente, porque estava em casa homens que se identificaram
como policias do ministério do interior, inclusive exibiram crachás de identificação.
Ela passou-me telefone, tive uma conversa curta com um deles.
Pediram-me de seguida autorização para ter acesso ao meu numero de
telefone, disse-lhes para aguardarem um pouco eu ia telefonar de volta.
Consultei os meus colegas, tomei uma decisão e telefonei a minha esposa para
puder falar de novo com eles, nesta altura já tinham partido.
Ouvi que o ministro do interior desmentiu, mas quero assegurar-te que tudo
foi devidamente documentado, não quero expor a minha vida privada, mas provas
sobre a invasão da minha casa são abundantes, porque devido a natureza da minha
atividade profissional decidi criar mecanismos mínimos de segurança na minha
casa.
OD: Sr. Presidente, o que lhe causa medo
neste momento é a falta de provas para fazer valer as denúncias ou tem medo de
ser raptado e espancado pelo regime?
BT: Eu não sou cobarde, não sou
fugitivo da justiça, sou um homem responsável e disposto a colaborar com a
justiça. Se na verdade querem justiça e punirem-me nos termos da lei, conhecem
os procedimentos. O meu veemente apelo é o seguinte: Parem de procurar-me como
um criminoso perigoso à monte, processem-me no Ministério público ou na Policia
Judiciária, irei responder imediatamente. Notifiquem os meus advogados e
entreguem o mandado de detenção à PJ.
Portanto, a minha fuga não é à justiça, é uma fuga legitima à tortura e
espancamentos.
As minhas declarações não têm rigorosamente nada de crime, serviram apenas
de pretexto para ajustarem contas comigo. Há tempo que soube que existem planos
concretos contra mim. O discurso foi e continuar a ser “ este rapaz é um
malcriado, está ao serviço dos partidos da oposição, tem ultrapassado a linha
vermelha, tem de ser travado”. Tenho recebido estas ameaças através de vários
canais.
OD: O senhor fez uma denúncia sobre as
mortes de todos os pacientes submetidos ao tratamento de hemodiálise. Pode
especificar os dados, de acordo com a informação que dispõe? Refere-se a
quantas pessoas, exatamente?
BT: Não quero falar mais deste
assunto, acreditando piamente que serei processado e chamado a responder na
justiça. Nesta sede, irei depor e dizer as minhas verdades.
OD: Pode partilhar connosco o número de
pessoas internadas e submetidas ao tratamento desde a abertura do centro até à
semana passada, ou seja, no dia 9 de abril?
BT: Eu não trabalho no centro, fui
muito claro nas minhas intervenções, disse que as informações que nós tivemos
apontam o resultado que disse, portanto, cabe ao centro fornecer os dados que
está a solicitar.
OD: O Presidente Sissoco afirma, na sua
declaração, que será responsabilizado pelas suas ações e que a sua denúncia
coloca em causa os profissionais do serviço de hemodiálise. Está pronto a
enfrentar a justiça e a apresentar as provas da denúncia feita?
BT: Eu também quero assumir as minhas
responsabilidades, mas quero fazê-lo perante os órgãos competentes. Eu sei que
a justiça guineense está sequestrada, mesmo assim, acredito que nunca irão
mandar torturar-me. Ao contrário, o ministério do interior que mandou
homens na minha casa e me tem perseguido, tem sido um corredor de tortura.
Só em 2024, mais de 100 pessoas foram torturadas neste sítio, começando nos
93 membros da Frente Popular. Portanto, estou prontíssimo para responder a
qualquer instância da justiça.
OD: Recebeu ou chegou ao seu conhecimento,
através da sua família ou advogados, uma notificação do Ministério Público ou
do Ministério do Interior?
BT: Nunca houve notificação nem a min
muito menos aos meus advogados. Se existir estou e estarei totalmente
disponível para colaborar. Aliás. Pelo que eu saiba, o ministério público
não notifica nos finais de semana. De qualquer maneira, estou disponível para
colaborar.
OD: Sr. Presidente, é conhecido como
ativista social e trabalhou mais de dez anos nas Nações Unidas. Segundo o
Presidente Umaro Sissoco Embaló, o senhor foi membro fundador do Movimento para
a Alternância Democrática – Grupo 15. Confirma essa informação?
BT: Sou um convicto ativista dos
direitos humanos há mais de 25 anos, não quero perder muito tempo em responder
a esta questão. A única coisa que posso te assegurar é que não tenho filiação
partidária, desafio a todos os partidos políticos da Guiné-Bissau que
encontrarem alguma inscrição minha nas suas listas, que as publiquem
imediatamente.
Portanto, há 5 meses, eu era membro do Comité Central do PAIGC, hoje
sou membro fundador do MADEM-G15. Cabe a cada guineense a tarefa de tirar as
suas próprias ilações.
Quero no entanto assegurar-te que a política partidária não faz parte dos
meus planos por enquanto, se o dia em que decidir fazê-la, pode ter a certeza
de que não irei pedir licença a ninguém.
SISSOCO EMBALÓ ACUSA LIGA GUINEENSE DOS DIREITOS HUMANOS DE TRANSFORMAR-SE NUM PARTIDO POLÍTICO
O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló,
acusou esta quinta-feira, 17 de Abril de 2025, a Liga Guineense dos
Direitos Humanos( LGDH) de transformar-se num partido político.
Sissoco
Embaló desafiou, neste particular, o Procurador-Geral da República a
analisar a escritura e o objeto dessa organização
defensora dos direitos humanos, para ver se está a cumprir a sua missão
ou não, caso contrário será extinguida.
Umaro Sissoco
Embaló falava aos jornalistas à saída da reunião do Conselho de Ministros desta
quinta-feira, realizada no Palácio do Governo.
De acordo
com O Democrata, o presidente da República afirmou que o presidente da Liga
Guineense dos Direitos Humanos deve sair do esconderijo e ir responder
à justiça.
“Fez uma
denúncia e deve ser ouvido para provar ou confirmar a sua
declaração”, desafiou, para de seguida afirmar que a partir de agora qualquer
pessoa que fizer declarações sem provas será notificada para
responder à justiça.
Para o chefe
de Estado, a forma como Bubacar está a dirigir aquela instituição
não está correta.
“A
LGDH tem a vocação de proteger e defender os direitos humanos,
mas a forma como Bubacar Turé está a dirigir a instituição não é correta. É meu
irmão mais novo, um jovem promissor e muito próximo a mim. As
suas declarações revelam uma dose de complexidade que tem.Foi muito
infeliz, porque apenas fez teatro”, assinalou.
Assegurou
que as declarações Bubacar Turé não serão tratadas fora do quadro legal e
“se acontecer, pode recorrer à justiça”
“Não
tem outra saída a não ser responder à justiça. Por ser um
jurista tem vantagens. Recorrer às ONGs e às Confederações não vai resolver o
seu problema. Deve ir à justiça para ser ouvido e, se merecer ser
julgado e condenado, deverá arcar com as consequências e se não for o
caso será absolvido”, sublinhou.
Instado a
pronunciar-se sobre extradição para os EUA de quatro cidadãos
estrangeiros condenados a penas de 17 anos de prisão por tráfico de
drogas, para os Estados Unidos de América, Umaro
Sissoco Embaló disse que a Guiné-Bissau decidiu extraditá-los a pedido do
governo dos Estados Unidos da América e porque também o país
não dispõe de prisões apropriadas e de alta segurança para
mantê-los presos na Guiné -Bissau.
“Infelizmente
um deles morreu, razão pela qual o executivo tomou essa medida de extraditar os
quatro condenados em colaboração com Estados Unidos América. Outro motivo
é mostrar às pessoas que o país deixou de ser o narcoestado e qualquer
pessoa que for apanhada com droga, mesmo sendo um guineense será levado
para países com prisões desegurança máxima nas prisões”, avisou.
Umaro
Sissoco Embaló informou que DEA – um órgão federal de segurança
do Departamento de Justiça dos Estados Unidos encarregado de repressão
e controlo de narcóticos, não tem vocação nem mandato para prender
alguém, muito menos o Presidente da República, isso em alusão aos rumores que
apontavam que DEA estaria no país para prendê-lo.
Notabanca; 19.04.2025


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