PRESIDENTE GUINEENSE CONSIDERA QUE CHEGOU ALTURA DE GUINEENSES CAMINHAREM JUNTOS COM SEUS PRÓPRIOS PÉS
O Presidente da República disse que é chegado o momento de os guineenses se entenderem e caminharem juntos com os seus próprios pés sem interferência da comunidade internacional.Umaro Sissoco Embaló, em conferência de imprensa realizada hoje, em que fez o balanço do ano prestes a terminar, referiu que, hoje em dia, o país já não conta com a presença do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz (UNIOGBIS), depois de 21 anos da sua missão na Guiné-Bissau.
“Isso significa que a Guiné-Bissau, de facto, necessita agora de andar com os seus próprios pés. A título de exemplo, já não temos as Forças da Missão Militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Ecomig), que são nossos irmãos que estiveram no país para nos ajudar”, acrescentou.
O Presidente da República sublinhou que agora a Guiné-Bissau deve preparar para igualmente participar em missões internacionais de paz para ajudar outros países do mundo em conflito.
“A decisão da retirada do Uniogbis e da Ecomib do país, foi um passo muito importante elogiado pela comunidade internacional”, disse.
O chefe de Estado sublinhou que actualmente as relações da Guiné-Bissau com os países e organizações parceiras, nomeadamente, a União Europeia, Portugal, China, França, Estados Unidos estão mais do que nunca no seu ponto mais alto, o que recolocou o país no concerto das nações.
Sissoco Embaló anunciou que á partir de Janeiro de 2021, um guineense vai representar a CEDEAO num dos 15 países membros desta organização, frisando que já é uma inovação que nunca chegou de acontecer.
“A Guiné-Bissau tem que reaparecer e ter a voz no concerto das nações e, para o efeito, o país vai ocupar o lugar de segundo vice-presidente do Banco Oeste Africano de Desenvolvimento(BOAD) e que igualmente é uma situação inédita”, disse.
O chefe de Estado realçou que isso significa que, em curto espaço de tempo do seu mandato, a Guiné-Bissau está a ganhar espaço no concerto das nações, salientando que, quando tem um um representante da CEDEAO, por exemplo no Senegal, Gana ou Benin, este irá dignificar os interesses do país e não do Presidente da República.
Disse que há 20 anos, o país participava nas reuniões das organizações internacionais como simples observador, porque não tinha voz por falta de pagamento das quotas, acrescentando que não houve nenhum Presidente da Guiné-Bissau que pode dizer que chegou de discursar na sede da União Africana nos últimos anos.
A propósito, disse que doravante, quando vai participar em qualquer organização como a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa(CPLP) ou a União Africana, terá direito de usar da palavra, isso porque o país já tem a sua quota em dia.
“Eu enquanto Presidente da República, a Guiné-Bissau vai ter a voz tanto nas Nações Unidas, como na CPLP, União Africana entre outras organizações internacionais em que o país é membro”, prometeu.
O chefe de Estado guineense referiu que a Guiné-Bissau abriu recentemente algumas
representações diplomáticas nomeadamente no Qatar, Turquia e brevemente na
Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, acrescentando que, os embaixadores dos
referidos países irão
igualmente estar residido em Bissau.
“No próximo ano, o Qatar vai abrir a sua representação em Bissau, Cabo Verde pela primeira vez terá igualmente a sua embaixada no país e vamos no mínimo 15 à 20 embaixadas, o que é um facto muito importante para a nossa diplomacia”, disse, acrescentando que, isso vai dar empregos à muitos guineenses.
CONFIRA O DISCURSO DE CHEFE DE ESTADO NA INTEGRA:
Caros compatriotas,
Fidjus di Guiné,
Chegou ao fim o Ano de 2020. Um Novo Ano vai começar.
Começar um Novo Ano é também uma boa ocasião para celebrarmos a nossa unidade nacional, o orgulho de sermos guineenses.
Fidjus di Guiné,
Gratidão, é a palavra que vos dedico, hoje, quando se passou praticamente um ano, depois da última eleição presidencial. Os guineenses foram às urnas e, livremente, escolheram o seu Presidente da República. Com civismo.
Sob a garantia de competência e transparência da Comissão Nacional de Eleições. E, ainda sob o olhar atento dos observadores internacionais.
Ao povo guineense, exprimo, pois, toda a minha gratidão. Por ter feito recair, na minha pessoa, o sentido do seu voto maioritário, garantindo, assim, a minha vitoria eleitoral inequívoca. Tenho a certeza de que a minha vitória eleitoral foi uma aposta na mudança, uma determinação de gente cansada dos discursos de arrogância, de discriminação negativa e de ódio.
Quero deixar aqui o meu público reconhecimento a todos os Observadores Internacionais e, em particular, à CEDEAO, NAÇOES UNIDAS, UNIÃO AFRICANA, CPLP. A verdade é que a comunidade internacional, que acompanhou de perto o nosso processo eleitoral nunca hesitou. Foi imparcial. E, muito cedo, soube quem foi o justo vencedor das eleições presidenciais, de dezembro de 2019.
Fidjus di Guiné,
O ESTADO Guineense, é a nossa unidade política.
“Estado piquinino ka tem” - é a frase que tenho repetido mais vezes. Que me serviu para resgatar o SENTIDO DE ESTADO. Reafirmar a cultura de soberania.
A nova geração de guineenses precisava tanto desse resgate. Para novamente poder caminhar de cabeça erguida. Confiante. Sem complexos de Inferioridade. Sem medo. Com suporte na nossa auto-estima nacional.
Foi exatamente assim que fechamos o ano de 2020. Sem nenhuma Missão Militar estacionada no nosso território nacional. Sem nenhuma Missão Política de “acompanhamento”. Tudo isso, acabou, de vez.
A consequência desta política de Estado, é evidente. Devolvemos DIGNIDADE às Forças Armadas Guineenses, símbolo da nossa Identidade nacional.
Duas paradas militares – do dia 24 de setembro e do dia 16 de novembro – demonstraram uma coisa muito importante. O povo guineense voltou a respeitar e a orgulhar-se das suas Forças Armadas. E, dessas jornadas patrióticas – de 24 de setembro e de 16 de novembro -, ficou-nos uma certeza. Os nossos convidados – chefes de Estado, e a generalidade dos diplomatas acreditados no nosso país – perceberam que a Guiné-Bissau realmente mudou.
De facto, restabelecemos a autoconfiança. Voltamos a ter voz própria. A falar e a sermos ouvidos. A sermos mais respeitados. Para começar, isto já é um dado adquirido na CEDEAO e nas instituições regionais africanas. Mas vai ser assim também nas outras organizações, de que a Guiné-Bissau é Estado-membro.
Bissau está, neste momento, em obras. São obras de requalificação de algumas artérias, significativas, da nossa cidade-capital. Os seus efeitos na circulação rodoviária, vão ser, certamente, muito positivos, para benefício de todos. Mas tudo isto foi “apenas” o resultado de um ambiente diplomático novo, de simpatia, de pragmatismo, de solidariedade. Que a Guiné-Bissau, pela ação do seu Presidente da República, está a desenvolver no quadro da CEDEAO.
A REFORMA POLíTICA é indispensável.
O longo bloqueio político, que reduziu a Nona Legislatura a uma situação de falência da nossa instituição parlamentar, é uma lição para hoje e para o futuro. A lição de que esse passado não poderá voltar a repetir-se.
Fidjus di Guiné,
Como aconteceu, e ainda está a acontecer no mundo, a Guiné-Bissau também não escapou aos graves efeitos da pandemia da COVID-19. No estado de saúde da nossa população, no desempenho escolar das nossas crianças e jovens, na atividade económica, etc. Todas as famílias guineenses foram atingidas, com maior ou menor intensidade.
Sendo a Guiné-Bissau um país pobre e, decorrente disso, com um sistema de saúde pública, longe de ser completamente resiliente ao choque da pandemia, o Estado não poupou esforços, desde o início, para debelar e controlar a anunciada crise sanitária.
Foi criada, por decreto Presidencial, a Alta Autoridade de Luta contra a COVID-19, que permitiu agilizar, no plano funcional, quer o acompanhamento quer a resposta aos riscos e às ameaças derivadas da evolução da pandemia.
Quero salientar, em particular, a presença no terreno, de uma Missão Médica Cubana. Que veio reavivar os profundos laços de solidariedade que ligam os povos guineense e cubano, desde a nossa luta armada de libertação nacional.
Aos profissionais de saúde – médicos, enfermeiros, auxiliares – quero deixar, em nome do povo guineense, o meu reconhecimento pelo esforço consentido. Por tudo o que fizeram para, no contexto difícil da pandemia, correr riscos, tratar doentes e salvar vidas.
Caros compatriotas,
Fidjus di Guiné,
Com a minha eleição como Presidente da República, abriu-se um novo ciclo político na Guiné-Bissau. Ganhei a disputa eleitoral. Mas não é para me tornar, simplesmente, “mais um Presidente”, um presidente de turno, entregue à rotina, à velha tradição de um exercício presidencial muito próximo da irrelevância.
Ganhei para MUDAR. Ganhei para REFORMAR. Ganhei para retirar a Guiné-Bissau do ponto-morto em que se encontra ‘encravado’, há décadas. Mudar e reformar, mas sempre com suporte nos preceitos constitucionais.
Poso afirmar, sem qualquer exagero, que os meus dez primeiros meses de mandato, já forneceram bastantes provas de que a situação está a mudar. Vai continuar a mudar para corresponder às legítimas aspirações dos guineenses.
É este o COMPROMISSO que assumi com o povo guineense. Um COMPROMISSO que venho RENOVAR, hoje, nesta mensagem de Novo Ano.
Com o novo ciclo político já em curso, o ano de 2021 marca também o início de uma década – a década de 2021-2030. Vão ser 10 anos de grandes desafios.
Um tempo desafiante para a minha geração – que chamo de “geração do concreto”. Esta geração vai deixar o legado de uma Guiné-Bissau muito diferente, de desenvolvimento económico e de justiça social.
Ao terminar esta minha mensagem, desejo a todos os meus compatriotas, a todas as famílias guineenses, um Novo Ano de paz, de esperança, de trabalho e de muitas realizações.
A todos os guineenses -, os residentes no nosso país e os que vivem, estudam e trabalham longe da sua terra natal, o meu abraço de fraternidade, e a certeza da minha solidariedade.
Feliz Ano Novo!
Viva a Guiné-Bissau!
Notabanca; 31.12.2020
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