Cerca de cinco centenas de cidadãos guineenses a viver em Portugal participaram este sábado, 11 de julho de 2020, numa manifestação em Lisboa para contestar a atual situação política na Guiné-Bissau e para pedir o respeito pela Constituição e pelos valores democráticos.
Entre cânticos, várias palavras de ordem, diversos cartazes e as cores da bandeira da Guiné-Bissau (amarelo, verde e vermelho), os manifestantes concentraram-se inicialmente, ao início da tarde, na zona do Rossio, tendo depois iniciado uma curta marcha até à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), também localizada na Baixa pombalina.
A
manifestação da diáspora guineense em Lisboa aconteceu numa altura em que Nuno
Nabian se encontra em Portugal e foi realizada no mesmo dia em que, de manhã, o
primeiro-ministro da Guiné-Bissau foi recebido numa audiência de cortesia pelo
chefe do Governo português, António Costa.
Este facto
não passou despercebido aos guineenses concentrados na capital portuguesa.
“Abaixo
Governo Golpista”, “Terrorista é a Ditadura que mata”, “Quem adormece a
democracia, acorda a ditadura” ou “Vamos todos lutar por uma Guiné melhor” eram
algumas das frases escritas nos vários cartazes exibidos pelos manifestantes, a
grande maioria com máscaras de proteção individual por causa da atual pandemia
de covid-19, mas, em alguns momentos do protesto, longe de cumprir o necessário
distanciamento físico.
“Estou muito
descontente com o que se está a passar na Guiné-Bissau neste momento. Porque
estamos a perder a liberdade cada vez mais. Quem critica, quem é da oposição, é
amordaçado, é atacado”, disse, em declarações à agência Lusa, Mariano Quade, um
dos organizadores do protesto.
“Esta
manifestação é para demonstrar isso e para demonstrar que queremos que pelo
menos os políticos deem o exemplo. Que sigam a Constituição, que respeitem a
lei magna do país, que diz que todos os organismos ou que todos os órgãos
soberanos devem ter espaço para se expressar, para haver verdadeiramente uma democracia,
uma sociedade democrática”, reforçou o ativista guineense.
“Esta
manifestação é feita num momento em que temos um primeiro-ministro que também
foi colocado à força, à revelia daquilo que é a ordem democrática. E também
estranhamos, e de que maneira, a receção ou o acolhimento oficial que tem sido
dado a um primeiro-ministro que não está de acordo com aquilo que é a
Constituição”, declarou Mariano Quade.
“Sabemos que
Portugal é um país democrático, que defende a democracia. E o que nós
esperávamos era que pelo menos fosse ao encontro desses princípios e isso não
está a ser observado”, prosseguiu.
Nesse
sentido, o ativista guineense deixou um apelo dirigido ao executivo português.
“Queremos
que Portugal e que o seu Governo interfira e possa ajudar no sentido de repor a
ordem constitucional, que o Governo [guineense] saído das urnas possa retomar
as suas funções. (…) Apelamos ao Governo português que reflita sobre esta
matéria”, disse Mariano Quade.
“Esta
manifestação é uma representatividade da diáspora cá em Portugal a dizer não,
que este não é o caminho, vamos respeitar, vamos pela lei, vamos respeitar a
Constituição e vamos pôr a Guiné a andar minimamente dentro das regras”,
reforçou o ativista ainda junto da sede da CPLP, onde os manifestantes permaneceram
uns largos minutos antes de regressarem à zona do Rossio para prosseguir o
protesto.
“Temos
autorização para lá estar, vamos ser ouvidos pelo Parlamento Europeu, no
sentido de os sensibilizar para aquilo que é o respeito pela ordem
constitucional na Guiné-Bissau”, explicou o ativista, concluindo: “Não pedimos
de mais, só estamos a pedir que o nosso país seja governado dentro daquilo que
são as regras”.
Ainda este
mês, no próximo dia 23, os guineenses na diáspora pretendem manifestar-se em
Bruxelas (Bélgica), junto da sede da União Europeia (UE), para denunciar
igualmente a situação que atravessa atualmente este país lusófono.
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