domingo, 12 de julho de 2020

DIÁSPORA GUINEENSE REÚNE CENTENAS DE CIDADÃOS EM LISBOA PARA DENUNCIAR SITUAÇÃO POLÍTICA
Cerca de cinco centenas de cidadãos guineenses a viver em Portugal participaram este sábado, 11 de julho de 2020, numa manifestação em Lisboa para contestar a atual situação política na Guiné-Bissau e para pedir o respeito pela Constituição e pelos valores democráticos.
Entre cânticos, várias palavras de ordem, diversos cartazes e as cores da bandeira da Guiné-Bissau (amarelo, verde e vermelho), os manifestantes concentraram-se inicialmente, ao início da tarde, na zona do Rossio, tendo depois iniciado uma curta marcha até à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), também localizada na Baixa pombalina.


A manifestação da diáspora guineense em Lisboa aconteceu numa altura em que Nuno Nabian se encontra em Portugal e foi realizada no mesmo dia em que, de manhã, o primeiro-ministro da Guiné-Bissau foi recebido numa audiência de cortesia pelo chefe do Governo português, António Costa. 

Este facto não passou despercebido aos guineenses concentrados na capital portuguesa.

“Abaixo Governo Golpista”, “Terrorista é a Ditadura que mata”, “Quem adormece a democracia, acorda a ditadura” ou “Vamos todos lutar por uma Guiné melhor” eram algumas das frases escritas nos vários cartazes exibidos pelos manifestantes, a grande maioria com máscaras de proteção individual por causa da atual pandemia de covid-19, mas, em alguns momentos do protesto, longe de cumprir o necessário distanciamento físico.

“Estou muito descontente com o que se está a passar na Guiné-Bissau neste momento. Porque estamos a perder a liberdade cada vez mais. Quem critica, quem é da oposição, é amordaçado, é atacado”, disse, em declarações à agência Lusa, Mariano Quade, um dos organizadores do protesto.

“Esta manifestação é para demonstrar isso e para demonstrar que queremos que pelo menos os políticos deem o exemplo. Que sigam a Constituição, que respeitem a lei magna do país, que diz que todos os organismos ou que todos os órgãos soberanos devem ter espaço para se expressar, para haver verdadeiramente uma democracia, uma sociedade democrática”, reforçou o ativista guineense.

“Esta manifestação é feita num momento em que temos um primeiro-ministro que também foi colocado à força, à revelia daquilo que é a ordem democrática. E também estranhamos, e de que maneira, a receção ou o acolhimento oficial que tem sido dado a um primeiro-ministro que não está de acordo com aquilo que é a Constituição”, declarou Mariano Quade.

“Sabemos que Portugal é um país democrático, que defende a democracia. E o que nós esperávamos era que pelo menos fosse ao encontro desses princípios e isso não está a ser observado”, prosseguiu.

Nesse sentido, o ativista guineense deixou um apelo dirigido ao executivo português.

“Queremos que Portugal e que o seu Governo interfira e possa ajudar no sentido de repor a ordem constitucional, que o Governo [guineense] saído das urnas possa retomar as suas funções. (…) Apelamos ao Governo português que reflita sobre esta matéria”, disse Mariano Quade.

“Esta manifestação é uma representatividade da diáspora cá em Portugal a dizer não, que este não é o caminho, vamos respeitar, vamos pela lei, vamos respeitar a Constituição e vamos pôr a Guiné a andar minimamente dentro das regras”, reforçou o ativista ainda junto da sede da CPLP, onde os manifestantes permaneceram uns largos minutos antes de regressarem à zona do Rossio para prosseguir o protesto.

“Temos autorização para lá estar, vamos ser ouvidos pelo Parlamento Europeu, no sentido de os sensibilizar para aquilo que é o respeito pela ordem constitucional na Guiné-Bissau”, explicou o ativista, concluindo: “Não pedimos de mais, só estamos a pedir que o nosso país seja governado dentro daquilo que são as regras”.

Ainda este mês, no próximo dia 23, os guineenses na diáspora pretendem manifestar-se em Bruxelas (Bélgica), junto da sede da União Europeia (UE), para denunciar igualmente a situação que atravessa atualmente este país lusófono.


 Notabanca; 12.07.2020

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