sábado, 29 de outubro de 2016

ESPAÇO DE CONCERTAÇÃO POLÍTICA DOS PARTIDOS DEMOCRÁTICOS

 PAIGC            PCD              UM                PUN               PST                MP
Assunto: Carta aberta. A propósito do acordo de Conacri e da observância e aplicação da Constituição da República.
Do Espaço de Concertação Democrática dos Partidos PAIGC, PCD, UM, PUN, PST e MP.
À atenção do Povo Guineense e de todas as forças vivas da nação: Sociedade Civil, Partidos Políticos, Sindicatos, Autoridades Locais e Religiosas,
À atenção dos titulares dos órgãos de soberania: Senhor Presidente da República, Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular e Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,
À atenção da Comunidade Internacional e, do Mediador da CEDEAO,
A Guiné-Bissau vive mais um momento de tensão e expectativa, em face da aparente dificuldade em clarificar e implementar o acordo estabelecido em Conacri para a saída da crise, sob a mediação da CEDEAO;
Tal como em todos os casos mais recentes, as posições voltam a ficar extremadas para se poder evocar a incapacidade dos instrumentos democráticos em regular a nossa vida política e dessa forma exigir e impor cedências com vista à resolução da crise, ela própria mais uma vez fabricada e sustentada por uma única entidade;
E para não variar, o Senhor Presidente da República, o Primeiro Magistrado da Nação, o garante da estabilidade política volta a estar no centro das operações, regulando o posicionamento dos partidos políticos, condicionando a postura das instituições da sociedade civil, instrumentalizando a população que cansada e carente admite que mais um sacrifício pode ser o ultimo preço a pagar para ter paz e tranquilidade;
Desta feita, a dificuldade é de aceitar o nome do Primeiro-ministro, escolhido de uma lista de três, submetido pelo próprio Presidente da República, após outra concessão do partido vencedor das eleições, numa clara e aberrante afronta à constituição, para se conseguir uma figura “que possa trabalhar com ele”. A esta concessão se adicionam tantas anteriores: primeiro para demitir o governo, porque o Presidente da República “deve poder avaliar a conduta do governo” precisando de um espaço próprio de intervenção, sobretudo no controlo das finanças públicas; seguidamente para não voltar a aceitar o Primeiro-ministro Constitucional, mesmo após o pronunciamento do Supremo Tribunal , “porque tal retiraria prestigio e respeitabilidade ao Presidente da República” ; depois para condicionar a formação do Governo, reservando-se no direito de vetar os nomes que assim entenda por mera conveniência pessoal ou dos seus objetivos políticos, etc.…
O mesmo padrão de sempre: provocar a crise, extremar as posições, levar a população e a comunidade internacional à exaustão e o desespero que os obriga a admitirem que as leis e normas em vigor podem não ser as melhores nem as mais adequadas, “até porque já provocaram casos similares com outros atores”, e assim produzir soluções políticas à margem das leis fazendo concessões sempre para acomodar a vontade do Presidente da República.
São nesses, pressuposto e perspetiva que se produziram os acordos de Bissau e de Conacri. O PAIGC voltou a ser impelido a ceder na sua prerrogativa de força politica vencedora das eleições legislativas e de apresentar o nome do Primeiro-ministro. Após longas horas de negociações, reconhecendo que as instituições estavam bloqueadas e, tendo em conta que o Presidente da República se recusa a fazer uso das suas competências constitucionais para convocar eleições antecipadas, acedeu-se a fazer mais uma cedência às suas custas do partido vencedor das eleições legislativas e da nossa lei suprema para se poder encontrar uma saída para a crise. Um nome foi escolhido dentre os três propostos pelo Presidente da República, assim como estabelecidas e acordadas as modalidades, tanto para a formação do governo como para a condução da governação até ao fim da legislatura.
Agora se entende que essa formulação não terá favorecido integralmente os interesses pessoais do Senhor Presidente da República. Por isso, se assume o propósito de desvalorizar e descredibilizar o “Acordo de Conacri” lançando dúvidas sobre o teor e sentido do acordado, mobilizando vontades para eventualmente excluir os extremos e no final orientar a escolha para uma posição intermédia. Ou seja, o terceiro nome por ele proposto terá passado a ser uma proposta do PAIGC, que ele e os acólitos recusam. O primeiro presumivelmente será então o dele, que o PAIGC recusa. E assim, provavelmente o meio termo configuraria uma cedência de ambas as partes e o consenso final seria o de aceitar o do meio. Seguir-se-ia a próxima discussão em que, não tendo permitido a reintegração dos 15 na bancada parlamentar do PAIGC, este não pode ter a maioria. Aliás, a própria auscultação, iniciada com os partidos sem assento parlamentar e tratando o grupo dos 15 como uma bancada parlamentar, e assim continuar a evocar uma maioria coligada na ANP. Ou seja, abrir-se-á um novo braço de ferro para a constituição do governo até que, por conveniências políticas se reserve ao Senhor Presidente da República ou a entidades que o representam, o controlo das pastas da soberania e da economia e finanças.
A alternativa a tudo isto, tendo sido confrontado e desafiado pelo seu Primeiro-ministro por não ter merecido a sua confiança e através de métodos ainda por desvendar, considera agora a hipótese de manutenção do status quo, com o atual governo. Ou seja, tudo menos o cumprimento do acordado sob os auspícios da CEDEAO e a observância da Constituição.
Enquanto nos entretemos neste novo episódio da saga de destruição da República e da implantação da ditadura,
Continuamos com um governo obsoleto, mas que mantém todas as prerrogativas de ordenar as despesas públicas, assinar acordos nacionais e internacionais no qual o Primeiro-ministro já bateu todos os records de viagens internacionais;
Emissão de dívida pública sem dispor de orçamento;
Recusa deliberada em realizar os pagamentos primários, incluindo grande parte dos salários, reservando esta incumbência a quem se seguir;
O Procurador Geral da República tão ativo num passado recente, aproveitou para fazer férias no exterior e leva toda a família a usufruir das benesses da função;
E alguém se lembra da Corrupção generalizada de que se falava? Alguém falou do paradeiro da madeira confiscada e que podia inclusive suportar a realização das eleições, entre outras coisas;
Do cheque para a construção da Avenida João Bernardo Vieira até se falou, mas serviu para algo? É preciso complementar que este cheque teria sido só uma parte da compensação paga pela gestão conjunta de uma Zona Económica com o Senegal, acordo cuja revisão o Senhor Presidente reclamou insistentemente – que revisão é que houve e aonde para o resto do Fundo?
Será que os recursos naturais deixaram de ser delapidados, ou simplesmente, conforme crescem as indicações, o Senhor Presidente da República passou a assumir e representar os interesses da Guiné-Bissau subescrevendo participações no próprio capital social de algumas dessas empresas?
É, pois, a esta onda de desgovernação, atrofiamento e subversão das instituições democráticas e delapidação do erário público que o Espaço de Concertação Democrática vem dizer basta.
Exigimos em conformidade que, com a máxima celeridade:
se torne público o relatório da mediação da mesa redonda de Conacri ;
sejam implementados integralmente os acordos de “Bissau” e de “Conacri” assinados sob a mediação da CEDEAO, enquanto compromissos que obrigam as partes dos mesmos ;
A vinda urgente a Bissau do mediador e da Presidente em exercício, da CEDEAO, para lançarem e facilitarem o processo de implementação dos acordos ;
O Presidente da República proceda à demissão do atual governo e nomeação do novo Primeiro-ministro, cuja escolha consensual já foi feita, o que esteve na base da assinatura do acordo de Conacri;
As partes se abstenham de atos fora do âmbito desse espírito e consenso pois podem configurar-se numa denuncia o que consubstanciaria a anulação do acordo e dos compromissos nele assumidos;
A Constituição da República, se mantenha enquanto lei magna e seja escrupulosamente respeitada.
O Primeiro-ministro a ser nomeado é o escolhido em Conacri e a formação do governo deve seguir a orientação dada pelos acordos de Bissau e Conacri. Nenhuma concessão mais será feita ao Senhor Presidente da República, em detrimento e subtração das nossas leis e da respeitabilidade coletiva enquanto nação, forjada na luta e instruída pelos valores universais assumidos pelas sociedades modernas.
Alertamos por isso a todas as entidades, nacionais e estrangeiras para a necessidade da defesa intransigente destes valores que sustentam a democracia e o Estado de Direito, sob pena de riscos agora inimagináveis e do retrocesso a situações de ingovernabilidade do país, e que seriam da exclusiva responsabilidade do Senhor Presidente da República e das entidades que o acompanham nesta saga de destruição.
Bissau, 28 de Outubro de 2016
Pelo PAIGC
Domingos S. Pereira
Pelo PCD
Vicente Fernandes
Pela UM
Agnelo Augusto Regala
Pelo PUN
Idrissa Djaló
Pelo PST
Zacarias Baldé
Pelo MP
José Paulo Semedo

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