Pessimismo na avaliação do impasse
politico
Noventa dias após da sua investidura, o Governo
liderado por Baciro Djá ainda não conseguiu apresentar o seu programa de
governação devido a divergências entre os dois maiores partidos políticos, o
PAIGC (no poder) e PRS. A crise política e institucional está longe de chegar
ao fim e requer novas medidas que passem pela legitimação de novas autoridades,
defendem analistas.
O país está parado, a classe política bloqueou o
funcionamento normal das instituições e a situação é agravada pela constante
troca de acusações entre os dois principais partidos. O Parlamento está
paralisado há mais de dez meses. O politólogo guineense, Rui Jorge Semedo, diz
que o imbróglio se deve ao facto de haver alegadamente duas maiorias no
hemiciclo: “O Parlamento vive o dilema de ter duas maiorias parlamentares. Uma
do PRS, que tem apoio dos 15 deputados dissidentes do PAIGC, e a segunda do
partido que venceu as últimas eleições legislativas, como pode ser pode ser
visto nos três órgãos internos do Parlamento: mesa da ANP (Assembleia Nacional
Popular), conferência de líderes e comissão permanente”.
Na opinião deste analista político a solução para o
impasse passa pela dissolução do parlamento e convocação de novas eleições.
Sobre a decisão de José Mário Vaz de não dissolver o Parlamento enquanto for
Presidente da Guiné-Bissau, Rui Jorge lembra ao chefe de Estado que neste caso
não impera a sua vontade pessoal. Acrescenta que as atuais circunstâncias
obrigam à tomada de certas decisões políticas a favor do Estado: “Esse
posicionamento é um pouco autoritário porque o Estado não é do Presidente da
República, mas sim do povo”.
Rui Jorge disse ainda à DW África que José Mário Vaz
“chumbou” na condução do país, por não conseguir garantir a estabilidade
governativa há um ano, apesar de ser o garante do normal funcionamento das
instituições e das leis da Guiné-Bissau.
Trata-se de uma falha com consequências:
“Ele não tem frequentado muito os encontros
internacionais, porque sabe que está muito fragilizado. Para melhorar um pouco
a prestação, terá que ter a coragem de voltar atrás, fazer algumas correções e
cedências para assumir a sua responsabilidade de garante da estabilidade”.
Governo de unidade nacional
O Presidente José Mário Vaz está fragilizado, dizem os
analistas.
Na opinião do politólogo, o atual Governo de Baciro
Djá não tem base parlamentar para governar, o que cria uma "confusão"
no Parlamento patrocinada pelo chefe de Estado e legitimada pelo Supremo
Tribunal de Justiça. Este último validou a nomeação do Executivo. O
especialista defende que a formação de um novo Governo de unidade nacional é o
mínimo indispensável até à organização das próximas eleições: “O atual cenário
com o PAIGC de fora não é viável e qualquer cenário para tirar o país da
situação deve envolver todas as partes”.
Outro analista guineense, o ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros, Fernando Delfim da Silva, entende que é preciso ir ao fundo da
questão, que é o sistema político ambíguo semi-presidencialista vigente na
Guiné-Bissau: “As dificuldades podem estar na Constituição. Daí defendo a
revisão da Constituição em duas direcções: no sentido de presidencialismo ou no
sentido de semi-presidencialismo. Tenho dificuldades em apontar qual seria a
escolha certa”.
Para solucionar a crise, Delfim da Silva, propõe uma
mudança radical da atual classe política sem estratégias para a governação: “O
grande problema é como fazer emergir uma classe política estratégica e classe
económica estratégica. Ou seja, formar uma classe política que tem um conceito
para o desenvolvimento”.
A Guiné-Bissau vive uma crise política sem precedente
desde Agosto de 2015, sem que se vislumbre uma solução. O extremar de posições
e o radicalismo político continuam a minar os progressos nas negociações para
tirar o povo do sofrimento.
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segunda-feira, 5 de setembro de 2016
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