"Portugal pode aprender com esta capacidade de agilidade" O caminho de Cabo Verde como farol de inovação em África
Cabo Verde tem-se afirmado pela capacidade
de adaptação e inovação, colocando a digitalização no centro do crescimento
económico, social e cultural do país. À margem da Web Summit Milton Cabral,
Diretor de Tecnologia e Inovação Digital, partilha a visão sobre este caminho
de transformação.
Cabo Verde é um país africano muito próximo da Europa e com boas relações com a África Ocidental, é também o país africano mais próximo dos Estados Unidos da América. Tem uma posição estratégica para fazer a ponte entre todos estes ecossistemas, mas como ser mais do que uma ponte e sim local de paragem e de inovação é o que o país tem feito nos últimos anos.
Milton Cabral afirma
afirma que o país se está a posicionar "como elo de ligação entre os
vários continentes e o mercado africano. Por isso, temos desenvolvido esforços através
do governo e com o suporte de parceiros de desenvolvimento para criar as
condições para que negócios na tecnologia possam acontecer e visem o mercado da
nossa subregião". "Acreditamos que Cabo Verde tem o potencial para
gerar valor interno, promover o desenvolvimento no mercado doméstico
cabo-verdiano e dar acesso a mercados internacionais”, acrescenta.
As sucessivas visitas de
comitivas cabo-verdianas à Web Summit, ano após ano, mostram a aposta que o
país tem feito nesta estratégia, a que acrescem os investimentos em
infraestruturas, quando questionado se têm recursos humanos para acompanhar os
investimentos, Milton Cabral adianta que "o maior ativo de Cabo Verde é
precisamente o capital humano. Somos um país pequeno geograficamente, mas com
uma diáspora muito grande. Na verdade, temos cerca do dobro da nossa população
na diáspora – meio milhão em Cabo Verde e mais de um milhão espalhados pelo
mundo. E, em termos de educação, o nosso nível de literacia é elevado, quando
comparado com a região e o continente. O governo tem feito esforços para
garantir que este capital humano acompanhe as tendências de inovação e
tecnologia.”
Para capacitar a
juventude e atrair a diáspora, Cabo Verde tem desenvolvido "programas para
capacitação de jovens e mulheres em tecnologias emergentes e plataformas de
desenvolvimento que permitam ao capital humano cabo-verdiano atuar no mercado
global. A nossa diáspora é um ativo crucial para esta visão de transformar Cabo
Verde no centro tecnológico da sub-região, e participamos em eventos globais
justamente para atrair esta diáspora.” Este ano, à Web Summit, “trouxeram cerca
de 25 startups de Cabo Verde e mais 15 da nossa diáspora nos Estados Unidos,
França, Espanha e Luxemburgo, todas a representar Cabo Verde.”
Cabo Verde inaugurou em
maio o Techpark, um parque tecnológico na Cidade da Praia, com o objetivo de
promover a inovação e tornar-se um polo exportador de serviços digitais. A
infraestrutura, construída desde 2017 com um investimento de cerca de 50
milhões de euros e apoio do Banco Africano de Desenvolvimento, acolhe
atualmente 23 empresas de sete nacionalidades, envolvendo cerca de 400
trabalhadores, muitos deles jovens. E Milton Cabral refere que o "espaço
não é apenas para acolher startups cabo-verdianas, mas também para atrair
empresas globais interessadas em explorar novos mercados. Queremos que o
TechPark sirva o mercado doméstico e regional, e funcione como base para
empresas globais que queiram estar em Cabo Verde.”
Quanto ao impacto
económico, explica que “o investimento na economia digital já vem de algum
tempo e tem atraído parceiros de desenvolvimento. Estamos a criar um
ecossistema robusto, capaz de apoiar os empreendedores com capacitação,
financiamento e internacionalização. O ecossistema cabo-verdiano amadureceu, e
vemos jovens com enorme potencial, prontos para contribuir para a meta de
digitalizar 60% da economia até 2026.”
Uma das bandeiras da
digitalização do país tem sido a promessa de ser fornecedor de serviços
digitais até 2030, o que, explica Milton Cabral se traduz na vontade de “que
Cabo Verde constitua uma camada de serviços digitais que sirva o mercado
regional. Falamos de serviços de capacitação, consultoria e desenvolvimento
tecnológico em várias verticais. Não pretendemos fixar-nos numa única indústria,
mas criar condições para que empresas globais usem Cabo Verde como base para o
mercado africano. Temos setores estratégicos, como o turismo, que podem servir
de laboratório para soluções tecnológicas que depois se expandam para outros
mercados.”
No ano em que Cabo Verde celebra os 50 anos da independencia de Portugal, há lições que pode ensinar ao país que em tempos o colonizou: “Cabo Verde, por ser pequeno, consegue encurtar a distância entre pensar, planear e executar. Todo o mundo se conhece e é mais fácil viabilizar pilotos e ideias. Portugal pode aprender com esta capacidade de agilidade. Temos desenvolvido parcerias com o ecossistema português, particularmente com a Startup Portugal, e acreditamos que há um caminho interessante a percorrer no futuro.”
Notabanca; 13.13.2025


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