MAGISTRADOS EM GREVE REVELAM QUE PAÍS PRECISA DE 250 PROFISSIONAIS PARA COBRIR ÀS DEMANDAS
O Porta-voz da Comissão Negocial dos Magistrados Judiciais, Henrique Augusto Pinhel, revelou esta terça-feira 08 de abril de 2025, que a Guiné-Bissau dispõe, neste momento, de apenas 148 magistrados efetivos a nível nacional, mas a necessidade global do país é de 250 profissionais desta categoria para responder às demandas nos processos dos cidadãos e evitar a morosidade que se verifica nos tribunais.
Henrique Augusto Pinhel revelou que o
Tribunal Regional de Bissau é que faz a cobertura à região de Biombo, o
que tem criado um fluxo de processos e que ao ano, na Vara Crime, pelo menos
1800 a 1900 processos são entregues a 6 ou 7 magistrados para decidir, razão
pela qual estão a exigir do executivo, através do ministério da
justiça, o reforço da equipa de magistrados, a fim de
poderem cumprir as demandas constitucionais e administrar a justiça
em nome do povo.
Henrique Augusto Pinhel falava em entrevista exclusiva
ao semanário O Democrata, sobre a paralisação de três dias (8, 9
e 10) decretada pelos magistrados do Ministério Público (MP) e judiciais.
O coletivo, que integra a Associação Sindical
dos Magistrados Judiciais (ASMAGUI), a Associação Livre dos Magistrados do
Ministério Público da Guiné-Bissau (ASSILMAMP-GB) e o Sindicato dos Magistrados
do Ministério Público (SIMAMP), está a reivindicar a reabertura dos
Tribunais Regionais de Cacheu, construído em Canchungo, mas a
funcionar em Bissorã, a reabilitação do Tribunal Regional de Mansoa cujo
o teto desabou, obrigando os técnicos a funcionarem numa casa arrendada e
o Tribunal Setorial de Bubaque, construído desde 2006, que até
ao momento não está a funcionar.
“Isto é negar justiça ao povo da ilha. Na abertura dos
tribunais, os magistrados foram colocados na ilha, mas não conseguiram
trabalhar porque o edifício foi invadido por morcegos”, disse.
O porta-voz da comissão negocial da greve dos
magistrados judiciais e do Ministério Público informou que, aquilo que
está a acontecer com os populares da ilha é grave.
“Para uma pessoa mover queixa nas ilhas, deve
sair de Caravela para vir até à capital Bissau e depois para Buba. Isto é uma
autêntica negação da justiça. Os últimos governos têm atuado assim com o povo,
razão pela qual as organizações sindicais estão a fazer uma luta para que haja
melhores condições de trabalho dos magistrados, materiais e o funcionamento
cabal dos tribunais a nível do país”, frisou.
Outra situação em reivindicação tem a ver com a gestão
do cofre geral da justiça, que atualmente é controlado pelo Ministério
da Justiça e dos Direitos Humanos, que neste momento iniciou um processo
envolvendo diferentes entidades para fazer o controlo do dinheiro, para que
haja transparência na gestão da coisa pública do tribunal.
Henrique Pinhel disse que os sindicatos estão de
acordo com a medida do governo, porque é uma das grandes lutas daquela
organização sindical dos magistrados judiciais e que consta do caderno
reivindicativo entregue ao executivo antes da greve.
“Tivemos vários encontros com o atual ministro das
finanças, Ilídio Vieira Té, e outra reunião alargada, onde tomaram parte os
representantes dos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos, da Função
Pública e o próprio ministro da Economia, Plano e Integração Regional, Soares
Sambú. Nessa reunião alargada, ficaram praticamente bem assentes as grandes
decisões sobre os pontos constantes do caderno
reivindicativo, nomeadamente o pagamento de 9 meses dos
atrasados salariais dos magistrados do Ministério Público e Judiciais que foram
nomeados e colocados através de um concurso público, l pagamento de
outros atrasados dos magistrados promovidos, tanto no Ministério Público como
da parte judicial”, assinalou.
Henrique Augusto Pinhel informou que o ponto
que estava a criar problema durante a negociação com o governo tem a ver com a
implementação do Estatuto Remuneratório dos magistrados, porque foi uma lei
aprovada na Assembleia Nacional Popular (ANP) em 2018 e promulgada pelo então
Presidente da República, José Mário Vaz, em 2019, e agora falta a sua execução
por parte do governo.
Acrescentou, neste particular, que a implementação do
Estatuto Remuneratório é um dos pontos que os sindicatos estão a exigir o seu
cumprimento cabal no sentido de poder criar mais independência, produtividade e
autonomia dos magistrados.
“Nós estamos a reivindicar aquilo que a lei nos
assiste, enquanto magistrados judiciais e do Ministério Público que ao longo de
seis anos entregamos uma moratória ao governo no que diz respeito ao
cumprimento cabal do estatuto remuneratório, que é um dos grandes pontos do
nosso caderno reivindicativo. Em 2019, o governo assinou um memorando de
entendimento com as antigas direções dos sindicatos judiciais e do Ministério
Público, mas desde então a esta parte não honrou nem sequer nenhum compromisso
sobre as exigências. Volvidos 6 anos, devido a inércia dos sucessivos governos
que passaram na governação, entendemos que é oportuno voltar à ribalta para
questionar sobre oassunto”, indicou.
Questionado sobre a falta de funcionamento dos tribunais
regionais e setoriais, Henrique Augusto Pinhel, disse que existe um problema
relacionado com a gestão do cofre geral de justiça que recebe o dinheiro
proveniente dos processos judiciais, custos, multas e o dinheiro que chamam
“indisponível” quando a alguém é decretada uma medida de
coação económica e impedindo de sair do país.
“Se a pessoa violar essa medida, o dinheiro é
revertido para a justiça e é guardado no cofre da justiça. De acordo com a lei,
uma percentagem desse valor deve ser canalizada para reparação dos tribunais,
mas o dinheiro não é aplicado para melhorar as instalações e existem
tribunais que arrendaram casas e alguns foram despejados, devido à falta de
pagamento de renda, por isso estamos a exigir para que o dinheiro do cofre
geral de justiça seja gerido bem e aplicado de acordo com a lei”, insistiu.
“Neste momento, estamos a aplaudir a decisão do
governo sobre o cofre geral da justiça, porque o
dinheiro do Estado deve ser controlado, enquanto guardião da
legalidade”, afirmou, para de seguida defender que é preciso envolver que as
instituições que trabalham neste domínio para fazer parte do
controlo daquele dinheiro, para saber como são feitas as despesas.
Notabanca; 09.04.2025
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