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domingo, 24 de março de 2024

"NÃO CABE A UM CANDIDATO OU A UM LADO PROCLAMAR UMA VITÓRIA"-diz Presidente Sall

Presidente cessante do Senegal, Macky Sall, votou hoje nas eleições que decidirão o seu sucessor no país africano e apelou aos candidatos para que não proclamem prematuramente vitória dada a enorme tensão que se faz sentir no país.

"Não cabe a um candidato ou a um lado proclamar uma vitória ou um resultado. Esta tarde falarão os colégios eleitorais, o que reflectirá a escolha dos senegaleses”, disse Presidente Macky Sall.

Esperam que esta eleição seja a melhor para o Senegal, após votar em Fatick, no centro-oeste do país, acompanhado da esposa, a primeira-dama cessante Marieme Faye Sall.

O presidente tem estado no centro de uma grave crise política devido à repressão contra a oposição e à sua decisão de adiar a votação em Fevereiro, o que levou o Tribunal Constitucional a anular a proposta de Dezembro como data alternativa, marcando o acto eleitoral para mais cedo do final do actual mandato que ocorreria em Abril.

O adiamento, considerado pela oposição como uma tentativa de Sall de se manter no cargo, foi posteriormente anulado pelo Conselho Constitucional.

Embora isso não tenha impedido os opositores de denunciarem que as autoridades excederam os seus deveres em numerosas ocasiões durante os últimos anos, incluindo a detenção e prisão de figuras proeminentes da oposição e sua desqualificação das eleições.

Um dos candidatos mais proeminentes na corrida, o ex-primeiro-ministro, Idriss Seck, também votou num centro eleitoral de Thiès, a terceira maior cidade do país.

Seck apelou à calma e "agradeceu a Deus pela oportunidade de cumprir o dever cívico que é votar.

"Quero rezar para que estas eleições decorram em paz e tranquilidade e que, quando terminarem, o próximo presidente da República inicie uma era de paz, estabilidade e tranquilidade", concluiu após a votação, em declarações ao órgão de comunicação local Dakar Actu.

O mesmo apelo foi feito pelo Ministro do Interior, Mouhamadou Makhtar Cissé, que pediu aos senegaleses que votassem "em paz, calma e serenidade", e sublinhou que este domingo é "um dia de encorajamento democrático".

"O mais difícil de reconstruir são as relações humanas e sociais, ou mesmo o tecido social. Podemos reconstruir uma infra-estrutura, mas um tecido social destruído é irreparável", declarou.

Faltam votar dois dos principais candidatos à vitória: Bassirou Diomaye Faye, pela oposição, e Amadou Ba, pela coligação no poder.

Com uma população de 18 milhões de habitantes, o Senegal é um dos países mais estáveis de uma África Ocidental abalada por golpes de Estado que tem mantido fortes relações com o Ocidente.

SENEGALESES VÃO HOJE ÀS URNAS PARA ESCOLHEREM NOVO PR

Sete milhões de senegaleses são hoje chamados a escolher o seu Presidente numa eleição em que os seus maiores protagonistas não vão a votos e pode resultar numa mudança “profunda” nas relações externas do país, regionais e internacionais.

Entre os 16 homens e uma mulher inscritos no boletim de voto, os dois favoritos - Bassirou Diomaye Faye, pela oposição, e Amadou Ba, pela coligação no poder, Benno Bokk Yakaar (BBY, Unidos pela Esperança, em wolof) - destacam-se precisamente por terem sido escolhas pessoais de duas individualidades políticas excluídas do escrutínio: o Presidente cessante, Macky Sall, e o líder da oposição, Ousmane Sonko.

Bassirou Diomaye Faye apresenta-se como uma figura anti-sistema, tendo sido a figura escolhida pelo Patriotas Africanos do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade (Pastef, partido ilegalizado em meados do ano passado, para representar a oposição, perante a impossibilidade de Sonko, 49 anos, antigo presidente da câmara de Zeguinchor, concorrer.

Ousmane Sonko foi perseguido ao longo do último ano pela justiça senegalesa, que o condenou por um crime sexual mas também por incitamento à insurreição, associação criminosa no âmbito de um projecto terrorista e atentado à segurança do Estado.

A sua retórica soberanista e pan-africanista, assim como as declarações contra a "máfia do Estado", as multinacionais e o domínio económico e político, que considera ser exercido pela antiga potência colonial - a França -, granjearam-lhe um forte apoio entre os jovens, que constituem metade da população.

Sonko e Faye estiveram detidos até há pouco mais de duas semanas, tendo apenas sido libertados na sequência de uma amnistia assinada por Macky Sall, depois de defraudada pelo Conselho Constitucional senegalês, a entidade responsável por supervisionar o processo eleitoral, a tentativa para adiar estas eleições para Dezembro.

Amadou Ba, primeiro-ministro até há pouco mais de duas semanas, foi a segunda escolha de Macky Sall - impedido constitucionalmente de se recandidatar a um terceiro mandato -, para empunhar a bandeira da BBY na corrida à eleição do quinto presidente do país desde a sua independência de França em 1960.

A votação estava inicialmente prevista para 25 de Fevereiro, mas um adiamento de última hora provocou distúrbios e várias semanas de confusão que puseram à prova as práticas democráticas do Senegal.

Com uma população de 18 milhões de habitantes, o Senegal é um dos países mais estáveis de uma África Ocidental abalada por golpes de Estado, que tem mantido fortes relações com o Ocidente.

O discurso da oposição na campanha para estas eleições presidenciais foi sentido como portador de algumas ameaças pelo estrangeiro, que está a seguir o processo com particular atenção.

A dupla Sonko/Faye prometeu, caso seja poder, renegociar os contratos de exploração mineira e de energia que farão do Senegal um produtor de petróleo e gás natural a partir do final do ano.

A carta da energia senegalesa é particularmente sensível à Europa, desde que foi forçada a procurar alternativas à Rússia, mas também num contexto em que a França - o país com a presença mais influente na região - está a ser literalmente expulsa de várias das suas antigas colónias na África ocidental, nomeadamente no Sahel, onde a Rússia tem vindo a ocupar o seu lugar.

Amadou Ba, por outro lado, posicionou-se como um político com a experiência necessária para conduzir os destinos do país e fez campanha pela continuidade do plano "Senegal Emergente", que marcou o essencial do desempenho governativo de Macky Sall, assente na construção de infra-estruturas.

Notabanca, 24.03.2024

 

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